Macetes de Mãe

Uma outra visão sobre a depressão pós-parto

Há pouco tempo atrás, um texto meu foi publicado em outro blog e o primeiro comentário que este texto recebeu foi da Carol Valente, outra integrante da blogosfera materna, autora do interessantíssimo blog Parir-se ao Parir.

No seu breve recadinho, a Carol comentou que já havia escrito sobre algo similar ao tema que eu estava abordando e me convidou para acessar o link do post e ver o que ela tinha a dizer sobre isso.

Fiquei encantada com a visão da Carol sobre essa coisa ainda vista meio em tons de cinza pela maioria das mães: a temidíssima depressão pós-parto.
 
Nessa semana, eu fiz um post falando sobre esse assunto aqui no blog, depois emendei outro comentando sobre como as já mães  não costumam falar do lado B da maternidade para as novas mamães. Ou seja, abordei em dois posts a questão da depressão pós-parto, em um abertamente e em outro de forma menos direta (sim, porque no lado B da maternidade a depressão pós-parto pode também estar presente).
 
Para enriquecer um pouco mais essa discussão, levantar mais alguns questionamentos e colocar mais algumas pulgas atrás da orelha, compartilho com vocês a visão da Carol Valente sobre esse assunto. E posso dizer? Eu adorei a forma como ela vê essa questão que muitas mulheres ainda teimam tanto em esconder, ocultar ou envergonhar-se por ter vivido.
 
Com vocês, o que a Carol tem a dizer:
Quando sei que uma criança nasceu, eu fico feliz demais. Mas a felicidade não é só porque a criança nasceu, é também porque uma mãe nasceu junto. Só depois de ser mãe, entendi a intensidade disso. Eu tenho uma visão um pouco radical, talvez pela minha vivência real de gravidez, parto e puerpério, mas eu acredito que para nascer uma mãe e um bebê, tanta luz, algo precisou morrer, porque nada nasce sem que nada morra. Para que venha a luz, a sombra precisou aparecer.

Quando nasce uma mãe, morre uma mulher. Sim, aquela, que não era mãe. Mas nós temos que ser muito gratas a esta mulher que morreu, e que tanto nos ensinou, e nos levou até onde estamos. Sem ela, não estaríamos aqui.

Quando a morte acontece, precisa haver o luto, certo? Caso contrário, esta morte não ficará bem resolvida dentro de nós, como em todas as mortes (acredito que o luto é algo muito importante). Pois bem, para mim, essa é a explicação para a depressão pós-parto. E é por isso que eu acho natural que ela apareça, porque algo realmente morreu, e nós temos sim que viver esse luto, temos que enterrar aquela mulher que morreu dentro de nós. E isso muitas vezes, pode ser doloroso, algumas mulheres não querem ver isso, e acho que isso dificulta ainda mais as coisas.

O que tenho falado para recém-mães que têm depressão pós parto é: que bom! Porque seu coração entendeu que algo realmente morreu. E digo para viver este momento, mesmo sendo ruim. Nós, principalmente aqui no ocidente, não gostamos de falar de dor sentimental, adoramos mandar tudo pra debaixo do tapete, porque assim é mais fácil, né? Só que aí, algo fica faltando, fica um vazio. Quando digo “viva o pós-parto”, quero dizer: busque ajuda. Fale dos teus sentimentos. Chore. Não deixe esse sentimento aí guardado, não. Ele quer sair, e quer se transformar em algo novo e bom, mas para isso é preciso que a mulher que nasceu, deixe. E deixar, significa, entender que o sentimento está aí, que você precisa olha-lo de frente, e buscar ajuda em grupos de mães, ou em terapia mesmo, se for o caso. Mas não esconda este sentimento, queira se cuidar, porque o seu filho, recém-chegado a este mundo, precisa de você inteira, despida e sem medo de olhar pra você, porque para sempre você precisará se olhar. Caso contrário, sua sombra ficará escondida, e não é justo com nossos filhos, que eles carreguem nossas sombras. Eles já terão as deles.

Não digo que isso irá resolver 100% dos problemas, mas posso garantir, olha-los de frente, encarar a sombra, é um ato de extrema coragem e irá te despir e re-energizar para as coisas boas que a vida guardou, com a chegada desse novo ser ao mundo.

Em tempo: não posso falar pela Carol, mas eu creio que ela, assim como eu, também não quis dizer que a depressão pós parto é algo super bacana e uma vivência a se comemorar. É claro que ela não é não. Ela é algo sério e que merece atenção e tratamento em muitos casos. Entretanto, a visão que ela quis passar, pelo meu entendimento, é a de que tem sim um lado positivo em todo esse sofrimento vivido por algumas mães, que é justamente esse morrer para renascer como uma nova mulher. Ou seja, não há do que se desculpar, do que se envergonhar, por ter tido uma depressão pós-parto. Faz parte da vida e desde que ela tenha sido superada, serve inclusive como um meio de crescimento pessoal.
 
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