Agora, recuperada da fase mais difícil, sinto-me à vontade para falar sobre essa experiência nada legal que algumas vezes a maternidade nos traz. Eu tive depressão pós-parto. Ela foi diagnosticada há 3 meses, mais ou menos, e agora, me sentindo bem novamente, opto por compartilhar com vocês a minha história. História essa que deve se parecer com de muitas outras mães e que eu espero, através do meu relato, possam se identificar, encontrar forças para procurar ajuda, e se curar.
Bom, minha história aconteceu assim…
(Peço desculpas de antemão pelo post extenso. É que esse é um assunto bem importante e fiz questão de descrever o problema em detalhes para poder ajudar outras mães a entenderem a doença e buscarem ajuda se necessário)
Logo que o Caê nasceu, eu fiquei ótima. Não tive sequer baby blues. Estava, é claro, cansada devido a falta de sono e trabalho em excesso durante o dia, mas psicologicamente me sentia bem, animada, feliz, pronta para ser mãe de dois. Quando Caê estava com três meses e meio, ele teve bronquiolite, e a partir daí as coisas começaram a mudar.
Após a crise de bronquiolite que o deixou internado por 3 dias, Caê passou quase dois meses doentinho. Durante quase 40 dias nós fizemos terapia respiratória diariamente nele, para que a sua respiração normalizasse, mas parecia que as coisas não evoluiam muito. Ele passou a se alimentar mal, dormir mal e a ganhar pouco peso. E eu passei a ficar mal junto com ele. Eu quase não dormia à noite (ele acordava demais), durante o dia eu estava sempre em pânico porque ele quase não mamava, também passei a ficar muito, muito preocupada com seu estado de saúde e acho que só não pirei porque a fisioterapeuta que atendia-o me tranquilizava dizendo que bronquiolite era assim mesmo, demorava para curar, mas que uma hora ele ficaria bom.
Junto com esse problema todo da saúde do Caê, chegou o inverno. E os dias frios e cinzentos me deixaram ainda mais para baixo. Então, nesse período, em suma, eu vivia preocupada com a saúde do Caê, 24h por dia exausta, devido as poucas horas de sono e, para completar, um pouco “down” por conta do inverno, que sempre me deixou um pouco para baixo.
Assim, quando comecei a perceber que as coisas não estavam indo bem e eu não estava legal (abaixo explico melhor o que eu sentia), simplesmente atribuía isso ao cansaço, preocupação e inverno. E pensava: assim que o Caê melhorar, eu dormir direito e o verão chegar, eu volto a ser eu. Só que inverno acabou, a saúde do Caê melhorou e eu simplesmente não melhorava. Pelo contrário, me sentia cada vez mais no fundo do poço.
Por meses, senti que algo estava errado, que eu poderia estar com depressão, cheguei até a comentar com amigas que ia procurar ajuda, mas me sentia tão cansada, tão debilitada, que não tinha nem forças para fazer isso, para ir atrás de ajuda. Eu simplesmente me acomodei. Fui levando aquela vida triste, sem prazer, pesada e desafiadora acreditando que um dia melhoraria, mas as coisas só iam ficando piores (Logo após o Leo nascer eu também tive algo similar a depressão pós-parto, mas na época não busquei ajuda então o problema não foi diagnosticado. Aqui eu conto essa experiência).
Nessa fase, eu me sentia péssima. Não tinha vontade de fazer nada e tudo era para mim muito difícil, um grande desafio. Se eu tivesse que ir ao mercado, por exemplo, isso era o fim do tempos. Parecia coisa de outro mundo. Passei a não querer sair, não querer encontrar as pessoas e nem querer receber visitas. Para cada sugestão de encontro eu tinha uma desculpa, e nunca ia. Até trabalhar no blog, algo que sempre me deu imenso prazer, era difícil. Eu me forçava a escrever, postar, compartilhar histórias, porque o blog era meu trabalho e eu tinha que manter as coisas andando, mas vontade de fazer isso eu não tinha. Minha irritação também estava no nível máximo. Por tudo eu brigava com o meu marido, perdia a paciência com facilidade com o Leo e o único que escapou da minha fase pavio curto foi o Caê. E por falar em Caê, teve uma fase em que achei que ele iria morrer (cheguei a esse nível de insanidade). Via as suas dificuldades respiratórias, via-o sem ganhar peso e simplesmente me batia um medo arrebatador de perdê-lo. Cheguei, certa vez, a perguntar para a minha mãe: “ele vai morrer?”. Minha mãe, sem entender nada, me respondeu que não, que claro que não, que ele estava doente mas era óbvio que ficaria bem. Que eu devia me acalmar e não sofrer tanto. Mas era difícil, porque eu estava fora de mim. E eu também não me cuidava mais. Não tinha vontade de me cuidar. Minha aparência estava péssima. Andava mal vestida, passava o dia de cabelo preso, não usava maquiagem alguma e tinha dias que até me forçava a tomar banho, porque até isso parecia um desafio em alguns momentos. Vontade eu só tinha de dormir. Eu colocava Caê para dormir e ia dormir também. Por mim, na verdade, eu nem sairia da cama. Levantar todas as manhãs era um desafio diário e eu não sei de onde tirava forças para isso (quer dizer, sei sim, tinha dois filhos para cuidar, uma casa para gerenciar, um blog para administrar). Minha alimentação também ia de mal a pior. Eu comia muito, e mal. Só porcarias. Já em outras noites, simplesmente ia para a cama sem comer. Outro ponto que também ficou super comprometido foi a libido. Por muito tempo, tive vontade zero de transar. E, por fim, eu não me sentia feliz. Eu me sentia, na verdade, extremamente infeliz. Olhava para a minha vida e pensava: não é possível que ser mãe de dois seja isso. Não é possível que seja tão trabalhoso, tão insano, tão desgastante (mesmo eu tendo ajuda). Eu olhava a minha vida e pensava que não era isso que eu queria para mim. E me doía admitir que eu estava infeliz, mesmo tendo uma família perfeita, filhos saudáveis (passada a fase difícil do Caê), um marido bondoso e compreensivo, uma casa confortável e o trabalho dos meus sonhos. Me doía e eu me sentia culpada por não estar feliz, como se a maternidade fosse um grande fardo que estava carregando após a chegada do Caê. Teve, inclusive, episódios que ouvi de leitoras que eu estava deprimida e precisava pedir ajuda. Pelos meus comentários “cinzentos” no Facebook algumas delas se tocaram e me sugeriram procurar ajuda, mas eu ainda não tinha chegado no meu limite.
Por outro lado, não tive nenhum sentimento negativo com relação ao Caê. Em nenhum momento eu o rejeitei (coisa que pode acontecer na depressão). Pelo contrário, eu era extremamente preocupada e cuidadosa com ele e esse excesso de zelo me consumia, me cansava ainda mais.
Enfim, a gota d`água para eu tomar a decisão de fazer algo por mim foi um episódio difícil que vivemos com o Leo. Durante um final de semana inteiro ele esteve impossível: irritado, furioso, incontrolável. Teve crises de birra homéricas, não queria tomar banho, não queria dormir, não queria se vestir para ir para a escola. Algo assustador. Na segunda seguinte a esse final de semana, ele deu um dos seus maiores shows em casa e foi para a escola aos berros. Eu, desesperada com aquele comportamento dele, liguei para o meu marido depois que ele deixou o Leo na escola. No meu telefonema eu dizia que a gente tinha que procurar ajuda para o Leo, que ele não estava bem, que a gente tinha que fazer algo porque ele estava incontrolável. Nessa hora, serenamente, meu marido respondeu: “Shirley, precisamos conversar seriamente. Eu acho que o comportamento do Leo é um reflexo do seu comportamento. Você não está bem, você precisa de ajuda, e ele está sentindo isso, por isso está se comportando dessa forma.”
Nessa hora, meu mundo caiu. Foi como se eu tivesse tomado um tapa na cara. Eu não estar bem é uma coisa, mas isso influenciar no bem estar do meu filho eu não admitia. Eu não podia ser responsável pela infelicidade dele. Eu precisava de ajuda, urgente, para salvar mais do que a mim, mas a minha família, o meu casamento (sim, as brigas eram frequentes e o relacionamento a dois também estava desgastado).
Nessa mesma tarde tomei uma decisão: eu iria buscar ajuda. Eu iria procurar uma psicóloga ou psiquiatra e me tratar (eu fiz terapia durante um tempo da gravidez, mas parei no meio, e não quis retornar com a mesma psicóloga porque queria alguém cujo consultório fosse mais perto, para ser mais prático para mim). Em um ou dois dias eu encontrei uma psicóloga que eu achei bacana (especializada em pós parto) e fui vê-la. Já na segunda consulta ela pediu para eu consultar com uma psiquiatra, pois, segundo ela, talvez uma medicação para auxiliar no tratamento fosse indicada (segundo o que ela mesmo disse: “muitas vezes, o volume está tão alto que não conseguimos ouvir direito as coisas. Eu eu estava precisando baixar o volume para o tratamento fazer efeito e eu ter uma melhora num período de tempo não muito longo).
Segui o conselho dela à risca e fui consultar com uma psiquiatra. Tivemos uma longa e sincera conversa e o diagnóstico dela foi enfático: depressão. Nunca vou esquecer do que ela disse: Você está com depressão. Você e as outras pessoas podem não perceber isso claramente porque você não está atirada em cima de uma cama, afinal, tem coisas para fazer e tem que levantar dela todo santo dia, mas você não está bem e precisa de tratamento.
E assim, comecei a tomar antidepressivo, algo que nunca tinha feito na vida. Após 10 dias de tratamento com a medicação prescrita eu já me sentia melhor e agora, mais ou menos três meses depois, me sinto muito melhor. Na verdade, me sinto normal. Me sinto a Shirley de sempre, que tem energia, prazer em fazer as coisas, é feliz com a vida que tem, não se desespera frente a qualquer desafio, não perde a cabeça por tudo e não entra em pânico quando tem que ficar sozinha com duas crianças (sim, eu tinha pânico de ficar sozinha com o Leo e o Caê).
Junto com o antidepressivo, a minha psiquiatra prescreveu outras duas coisas: sair com o marido, só nós dois, pelo menos uma vez a cada 15 dias, e voltar a fazer exercícios físicos. Orientações que estou seguindo à risca. Sexta à noite, a cada 15 dias, eu e o Otávio saímos sozinhos ou com amigos, Eu também voltei a me cuidar. Há um mês e meio comecei academia, massagem e reeducação alimentar. Para conseguir encaixar isso na minha rotina, tive que abrir mão de algumas coisas (trabalhar menos no blog, ficar menos em cima dos filhos), mas garanto que tem sido ótimo e tem me feito muito, muito bem.
Agora, sinto que voltei a ter controle sobre mim e sobre a minha vida. Voltei a ver a vida em cores (porque antes era tudo cinza). Voltei a enxergar o verdadeiro tamanho e significado das coisas (antes tudo era enorme, desproporcinal, arrebatador).
E por que resolvi contar tudo isso aqui? Porque eu quero que as pessoas entendam que depressão pós parto não é algo para se envergonhar, não é falta de amor, não é sinal de fraqueza. Depressão pós parto é uma realidade que muitas mães experimentam, devido às alterações hormonais e ao excesso de privação que a maternidade nos traz, e que, principalmente, ela tem cura. O quanto antes ela for identificada, diagnosticada e tratada, melhor.
Eu sei que as coisas poderiam ter sido bem menos sofridas se, assim que eu tivesse percebido que algo não estava bem, eu tivesse procurado a ajuda de um profissional, por isso, peço que se você está passando por algo similar ao que eu vivi, busque ajuda o quanto antes. Não deixe o tempo passar, não deixe a passividade tomar conta de você. O quanto antes você receber apoio e reagir, antes seus filhos e sua família serão beneficiados por isso.
Se você também viveu uma experiência de depressão pós parto, me mande a sua história. Gostaria de compartilhar outros depoimentos sobre esse problema aqui no blog para, de alguma forma, ajudar quem está enfrentando essa dor.
Se você está passando por isso, saiba que não está só. Depressão pós parto é algo difícil mesmo, mas tem cura se você quiser e receber o apoio necessário.
Espero que esse post ajude outras mães. Sirva para abrir os olhos e dar forças para um recomeço.
Assista também a esse vídeo no qual eu falo sobre a minha depressão pós-parto: