Já reparou que, quando estamos grávidas, principalmente do segundo filho, somos bombardeadas por questionamentos ou comparações descabidas? Se o primeiro filho é um menino, nos perguntam: “será que agora vem uma menina?” Se a irmã tem olhos azuis, perguntam: “será que vai ter olhos azuis como a irmã?” e assim por diante. Enquanto isso, estamos preocupadas e desejamos algo mais importante: que meu filho venha com saúde. No post de hoje, a colunista Nathália Alves, autora do Instagram Repertório de Mãe, conta como teve que administrar a ansiedade dos outros durante a gravidez da sua segunda filha.
Será que vai ter olhos azuis?
Ouvi essa pergunta por quase toda a segunda gestação. Na primeira não quisemos saber o sexo do bebê. E tudo o que eu queria como mãe de primeira viagem era apenas que ele tivesse o coração forte, o cérebro intacto, todos os dedos. E aquelas outras expectativas básicas que alimentam uma gestante por quase um ano. Fosse menino ou menina, de olhos pretos, verdes ou azuis, cabeludo ou não, tudo seria novidade, uma enorme alegria e muito bem-vindo.
Então, logo após o Natal de 1999, ganhei o meu melhor presente: uma menina perfeita e com lindos olhos azuis, o que, de fato, parecia ser a cereja do bolo! Não para mim. Por muito tempo, o primeiro elogio a ela foi quase sempre para aqueles expressivos olhinhos, por onde quer que passássemos.
A vida seguiu e cerca de quatro anos depois, engravidei novamente. Desta vez quis descobrir o sexo da criança o quanto antes para confirmar a possibilidade de aproveitar todo aquele mundo cor-de-rosa guardado havia anos no armário. E sim! Era mais uma menina!
Vivendo a segunda gravidez
Acho que uma mulher pode ficar grávida trinta vezes: tudo é absolutamente novo e, em algum momento daquele infinito período de espera, ela vai pensar ou de novo ter sonhos malucos com o bebê e vai pedir aos céus que tudo o que ele tenha seja saúde e só.
Amigos e familiares não costumam acompanhar a parte “tensa” da gravidez como os pais: não participam dos benditos ultrassons e exames mensais, momentos em que a felicidade se mistura estranhamente a uma certa apreensão, tantas são as medidas, números, referências e, enfim, formas que a gente desconhece. É uma vida se formando a pleno vapor dentro da nossa barriga sem que a gente tenha o menor domínio sobre isso. Ninguém duvida que o milagre da vida é o que há de mais maravilhoso. Mas nem todo mundo compreende a ansiedade que esse milagre gera no casal. Em especial na mãe, o ser responsável por gerar aquele outro ser.
Somado a isso, o fato de que as pessoas adoram fazer perguntas cujas respostas não existem, a coisa fica às vezes mais pesada na cabeça da gestante do que na balança: “Será que ela também vai nascer gordinha?”, “Será que ela também vai ser grandinha?”, “Será que ela também vai ter olhos azuis?”. Gente, eu não sei! Como eu vou saber? Não tenho bola de cristal e não sei como resolver isso pra vocês. Era a minha vontade.
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Tive que administrar a minha ansiedade e a dos outros, pois, para eles, a comparação parecia inevitável, enquanto, para mim, a importância da cor dos olhos no ranking era realmente algum número abaixo de zero. O que de tão grave aconteceria se ela não tivesse olhos claros, meu Deus do céu? Eu vivia atormentava imaginando cenas em que as pessoas – sem noção – fariam diferença entre as minhas filhas. E eu não podia fazer nada além de esperar.
Finalmente perto do carnaval de 2004 ganhei o segundo melhor presente da minha vida: uma filha perfeita, com coração forte, cérebro intacto, todos os dedos e… olhos azuis! Eu só percebera o peso daquelas cobranças quando o meu sentimento foi de alívio ao saber deste detalhe. Não parece absurdo? Era muito real. As pessoas não sabem o que suas curiosidades causam na cabeça de uma grávida.
Igualdade entre as irmãs?
Esse dever de garantir a igualdade entre elas ficou enrustida em mim por muito tempo – acho que ainda até hoje. De modo que sempre fiz questão de assegurar as mesmas chances: as festas em buffet, as bonecas caras, as mochilas novas a cada ano, a natação, o inglês e, além disso, os acampamentos. Quem tem mais de um filho sabe que isso é quase um instinto. Obviamente nem tudo esteve ao meu alcance, como por exemplo, ambas serem daminhas de casamentos na família ou noivinha da festa junina. Dois convites que, aliás, foram feitos às duas por pura sorte.
Até que um fato me alertou sobre essa missão. Por uma questão de mudança escolar, minha filha mais velha não completou a catequese. Enquanto sua irmã, anos depois, fez a primeira comunhão. Percebendo o meu incômodo em relação a isso, minha primogênita disse: “Mamãe, eu não queria e nem quero fazer, não muda nada pra mim!”
Desta vez o alívio foi a conclusão de que cada filho tem a sua história, as suas escolhas, os seus momentos e conquistas. E que não é possível para nós, pais e mães, propiciar exatamente tudo da mesma maneira. E nem necessário! Um vai ter um dia inesquecível, uma lembrança, uma foto especial. O outro terá oportunidade diferente, tão importante e incrível quanto. Enfim, não há controle sobre quase nada, por que muito da vida não está sob nosso comando, não é verdade?
Podem acreditar: quanto mais os filhos crescem, mais isso se confirma. E quando você menos espera, a missão passa a ser – simplesmente – absorver.
Se você gostou desse post, não deixe de assistir no Canal MdM, esse vídeo sobre as 10 pérolas que toda grávida escuta: