Faz bastante tempo que não publico aqui no blog relatos de parto. Pois hoje tem um novo relato, de um parto natural, que aconteceu numa cidade pequena do interior. A mamãe dessa história, a Alessandra Rodrigues, optou por contar a sua experiência porque sempre gostou muito de ler relatos de parto e acha que eles a ajudaram a criar coragem para ter seu parto sem tanto medo. E também, porque ela queria mostrar que um parto normal/natural não precisa ser um bicho de sete cabeças. Ele pode ser calmo e tranquilo sim.
Com vocês o relato do parto da Alessandra. Uma delícia de ler!
Relato de parto natural
Por Alessandra Rodrigues


Quando descobri que estava grávida, a minha primeira preocupação foi saber se meus peitos (que cresceram muito) iriam caber no vestido de casamento, que já estava pronto e ajustado. Sim, eu descobri que estava grávida 1 mês e meio antes de me casar. Quanto ao parto (esse pequenino detalhe..rsrsrs) eu só fui parar a pensar sobre ele no dia que meu pai me disse, lá pelo quarto mês de gravidez: “Você já disse para a sua médica que quer parto normal?”.
“Hein? Parto?! Parto normal?! Ai meu Deus!”
Lá fui eu pesquisar tuuuudo sobre parto normal. Aprendi um pouco sobre o parto “natural”, que, até então, nunca tinha ouvido falar. Fiz curso de gestante, conversei com a médica, conversei com muita gente. Queria saber/ler o relato de parto de todo mundo. Minha mãe teve três filhos, do que hoje é chamado “parto natural”. Eu quis saber de-ta-lhes de cada parto. Avós, tias, cunhadas… todo mundo teve que relatar (e detalhar) o parto pra mim.
E, então, dentro de mim, a vontade de ter parto normal foram crescendo. Posso parecer insana, mas comecei a ter curiosidade de saber/sentir o que era uma contração! O que era essa tal “dor do parto” que tanto eu ouvia falar.
Primeiramente, pra tentar o parto normal pensei que deveria seguir a vida como sempre segui: muito exercício físico (neste caso, tive que substituir alguns pesados por alguns mais leves). Fiz aulas de hidroginástica, pilates e muita caminhada. Além disso, fiz muita faxina em casa (só contratei alguém pra me ajudar em casa recentemente, pra cuidar do pequenino porque eu voltei a trabalhar), mas com muuuuito cuidado, sempre! Lavar banheiro e cozinha eu fazia com muito cuidado (minha mãe ficava doida comigo). Passar pano embaixo da cama? Sim! Eu literalmente deitava no chão, de barriga pra cima (rsrs), e passada o rodo embaixo da cama, de lado. Enfim, muito exercício. Lembrando que eu não tive nenhum problema em toda a gravidez. Felizmente, meu corpo permitiu que eu continuasse vivendo praticamente sem grandes mudanças.
Eu moro numa cidade do interior, mas relativamente grande, com hospitais ótimos e com UTIs. Já a minha obstetra era da minha cidade natal (onde meus pais vivem), que é minúscula e tem um pequeno hospital, sem UTI. Desde o começo, a minha obstetra indicou que eu fizesse o parto na cidade onde moro atualmente, por conta da estrutura dos hospitais daqui. Então, ficou combinado que eu faria o início do pré-natal com ela e, depois, passaria para ser acompanhada por um médico da cidade onde moro, para o baby nascer aqui, com mais segurança.Acontece, porém, que eu simplesmente não encontrei profissionais que eu tivesse certeza que me ajudariam a ter um parto normal (gente, isso chega a ser ridículo!). Já a obstetra da minha cidade natal era super a favor do parto normal. Eu e meu marido, então, conversamos bastante e resolvemos que continuaríamos a fazer o pré-natal com ela e teríamos o nosso filho no pequeno hospital, sem UTI, da pequena cidade onde eu nasci. (Ah! outro detalhe importante que tomamos conta só depois: na maior parte das cidades pequenas do interior, essa “moda de pagar-o-médico-pelo-parto” ainda não chegou. Além da mensalidade do plano de saúde, não gastamos um Real com o parto!).
Quando completei 37 semanas, fui à consulta de rotina e a médica observou que eu já tinha 2 dedos de dilatação, o que me deixou muito feliz (era um início), mas o bebê não estava encaixado. Ainda nesta mesma semana, já de volta à cidade onde moro e trabalho, meu tampão começou a sair, mas não me preocupei. Continuei trabalhando normalmente e comentei com a minha mãe (que mora na minha cidade natal) o que havia ocorrido. Ela ficou desesperada e disse para eu fazer as malas e ir correndo pra lá. Não fiz isso. Esperei o final de semana e, aí, sim, arrumei as malas, parei de trabalhar, e fui para lá “ficar de plantão”. Na segunda-feira mesmo, quando eu completei 38 semanas, eu estava me sentindo muito bem (achando que eu ia ficar uns 15 dias “de férias”), fui à obstetra. Ela me examinou e foi “curta e grossa”: “Vc tem 4 de dilatação e o bebê está encaixado. Vai nascer esta noite ou nesta madrugada!”. E sabe qual foi a minha reação?! “O queêeee?? Mas eu queria fazer caminhadas com a minha mãe, tenho uns livros para terminar de ler”.
Fui para a casa, arrumei as malas e esperei. Imaginei a bolsa estourando no meio da madrugada, aquele “oba-oba” e correria danada. Fui dormir. Acordei super bem e, frustrada. Bebê ainda aqui na barriga, tudo normal. Quando fui ao banheiro, no entanto, o resto do tampão saiu. Fui, então, ao hospital, a médica me encontrou lá e constatou que os batimentos cardíacos do bebê estavam ok, que a água da placenta estava cristalina e que eu já estava com 5 de dilatação, ou seja, teria que ficar por ali. Eu estava começando a sentir uma pequena cólica, igual a quando eu ficava menstruada. A médica disse que ia voltar ao consultório dela (a cidade é minúscula! Qualquer emergência, bastava ela pegar o carro e andar poucos quarteirões) e pediu para que eu ficasse em repouso, esperando as contrações aumentarem e a bolsa estourar. Ela disse que, caso a bolsa não estourasse até a hora do almoço, ela avaliaria as condições e ela mesmo a estouraria. Bem, na hora do almoço a médica voltou e a dilatação chegou a 6, mas as contrações continuavam fracas e a bolsa intacta. Então, ela resolveu esperar até o final da tarde para fazer uma nova avaliação. Lembro que, neste momento, meu marido perguntou para ela quais eram as chances de o bebê não nascer naquele dia. Ela respondeu: “1%” – a pergunta foi feita porque meu marido é devoto de São Judas Tadeu e aquele era o dia 28 de outubro, dia deste Santo.
Bem, entre contrações, passei a tarde tentando terminar de ler um livro. Estava louca pra saber quem era o assassino do livro antes de o bebê resolver nascer. Não sei como, estive muito tranquila naquele dia. Por volta das 16hs as contrações começaram a aumentar fortemente, mas ainda eram bem suportáveis. Eu falava para a minha mãe (que também estava no quarto – coisas de cidade pequena!): “mãe, está doendo, mas está suportável”, e ela respondia: “fique tranquila, ainda vai doer”.
Às 17hs, da janela do quarto do hospital, meu marido viu que a médica estacionou o carro e, na hora, pensei: “agora ela vai estourar a minha bolsa” e no exato momento que eu pensava isso, a bolsa estourou sozinha!!! Nisso, ela entrou no corredor do hospital e as enfermeiras gritaram: “a bolsa estourou” e a médica disse: “uhu” (sim, a médica disse “uhu”. Risos.).
Aí, sim, tive a minha insana curiosidade de saber o que é dor do parto naquele momento. Depois que a bolsa estourou, a dor se multiplicou ao infinito. A médica pediu para eu ir para o chuveiro, para “relaxar”. Depois de uns 20 minutos no chuveiro, como eu estava com bastante dilatação, lembro-me da minha mãe e do meu marido dizendo várias coisas pra mim, mas a minha cabeça não processava nada! (Descobri, depois, que eles falavam: “saia do chuveiro que esse bebê vai nascer aí!!”). A única coisa que eu me lembro de ouvir dizer, bem de fundo, foi a palavra “anestesia”, que a minha médica disse. Aquela palavra parecia um sonho. E a minha resposta? “SIMMMMMM!”
Mas, deu tempo? Claro que não. Fui pra sala de parto já perto das 17h30 e, depois de umas 5 forças, meu bebê nasceu, às 17h40. Quando o anestesista chegou, o meu filho já tinha tomado até banho.
E assim meu bebê chegou ao mundo. Rápido e tranquilo, como todos os partos deveriam ser.
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