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Querer amamentar x conseguir amamentar

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Quando eu estava grávida, nem por um milhonésimo de segundo imaginei que não fosse amamentar ou que talvez tivesse alguma dificuldade para isso. Todo mundo que eu conhecia tinha amamentado, muito bem, por um longo período e tinha tido leite para dar e vender (salvo casos extremos, como quando uma amiga teve um problema de saúde pós parto).

As únicas dificuldades de que eu tinha conhecimento antes da chegada do Léo eram duas: que doía no início, até o bico do peito “acostumar” ou o bebê acertar a pega, e que o sono da madrugada, interrompido para dar de mamar, era terrível.  E isso para mim, que olhava de fora, parecia fichinha. Afinal, eu tinha optado pelo parto normal e quem encara as dores das contrações deve passar rindo pelas dores de um bico de peito rachado. E o que seriam algumas noites mal dormidas? Fichinha também! Afinal, quantas e quantas madrugadas, na minha época de faculdade, eu não passei em claro, fosse estudando ou fosse fazendo festa? Barbada!

Já sobre o outro lado da história eu tinha ouvido muito. Amigas me falando sobre as maravilhas de amamentar, dizendo como é gostoso ter o filho no braço, fazendo carinho com a mãozinha no nosso peito, como nos sentimos poderosas, amadas, queridas e importantes.

Enfim, tudo certo, eu iria amamentar e esse seria um momento sublime na minha vida. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram. Em outro post aqui eu já falei sobre as dificuldades que encarei nesse processo e que me fizeram parar de amamentar o Léo quando ele estava com três meses.

Bom, mas o post de hoje, não é para falar das dificuldades que vivi na amamentação, mas sim para refletir um pouco e, quem sabe, gerar uma reflexão sobre essa enorme, intensa e nem sempre positiva cobrança que existe pela amamentação de nossos filhos.

Como acabei de comentar aqui, eu quis MUITO amamentar, justamente por saber de todos os benefícios dessa prática. E mesmo não tendo conseguido amamentar como eu queria (amamentei só até o Léo ter três meses e, mesmo assim, sempre dando complemento) continuo sendo super a favor dessa prática. Só que a questão é que muitas mães, assim como eu, também queriam ter amamentado seus filhos, mas não conseguiram. Seja por falta de experiência, seja por alguma dificuldade física.

E eu aposto que todas essas mães, assim como eu, passaram por momentos terríveis, por não terem conseguido realizar uma coisa que, ao seu ver, era vital para seus filhos. Essas mães, assim como eu, devem ter chorado, escondido ou escancarado, devem ter se cobrado, devem ter se sentido menos mãe, devem ter questionado se a saúde dos seus filhos seria a mesma tendo que tomar leite artificial e devem ter se culpado, muito, muito, muito por terem falhado nessa tarefa. Sim, porque a gente vê isso como uma falha, como algo que não conseguimos cumprir e que seria importante para nossos pequenos. E isso acaba com a gente.

Pode durar menos tempo para algumas e mais tempo para outras. Eu, por exemplo, sofri com isso até o Léo fazer seis meses. Até ele ter essa idade eu tinha vergonha de dar mamadeira para ele em público (juro!). Tinha horror dos olhares reprovadores de conhecidos e desconhecidos e pavor das perguntas certeiras que sempre vinham em minha direção: mas porque você não dá o peito para ele? Porque eu não consegui! Simples e triste assim.

Só quem vive essa experiência mal sucedida sabe o dano que ela causa. Nós sofremos com isso. Por mais que muitos maridos achem isso uma bobagem e que amigas nos consolem, a gente sofre! Como eu disse, a cobrança é enorme. E, além dessa cobrança gigantesca que já vem da gente, ainda há toda uma “estrutura” realizando essa mesma cobrança externamente.

Primeiro, há diversos companheiros que cobram isso de suas mulheres e que, em vez de dar apoio quando algo sai errado, agem com sensibilidade zero e pioram ainda mais as coisas. Afinal, nesse momento super sensível a pior coisa que pode acontecer é existir a cobrança daquele que mais amamos, além da nossa própria (graças a Deus, por isso não passei!).

E aí, quando saimos  de dentro de nossas casas, há ainda a cobrança dos familiares, principalmente daquelas mães que amamentaram sem grandes dificuldades e que acham, ou melhor, tem certeza, que só porque foi assim com elas tem que ser assim com todo mundo. E aí segue a cobrança de todos os lados: primas, tias, sogra e até mãe (thanks God, disso também fui poupada).

Mas não acaba por aí. Quando pensamos que a cobrança irá se resumir a alguém que tem a ver com a nossa vida, descobrimos que não, que a sociedade como um todo nos cobra isso. Pessoas com as quais nunca tivemos o prazer (ou desprazer) de cruzar na vida nos olham com olhares inquisidores quando nos vêem com um bebê em uma mão e uma mamadeira em outra e algumas chegam ao cúmulo de fazer perguntas e comentários totalmente desnecessários, indiscretos e, muitas vezes, desagradáveis.

Ah, sem contar ainda todas as campanhas e iniciativas, seja de governo ou de insituições, que pregam aos quatro ventos as maravilhas de se amamentar mas, sem nem sequer por um segundo, lembrarem de compartilhar alguma informação ou orientação para aquelas que vivem alguma dificuldade no processo.

Não que eu seja contra essas campanhas. Bem longe disso! Só acho que há de se pensar no outro lado da moeda, no lado B da história, de quem quis, tentou e não foi bem sucedida na empreitada. Ou seja, na minha opinião, toda iniciativa em prol da amamentação deveria ter também um espacinho dedicado a atender e ajudar aquelas mães que estão tendo dificuldade no processo ou, então, aquelas que já passaram por isso e sofrem por não terem conseguido.

Bom, acho que já me estendi demais, provavelmente porque esse é um post sobre o qual quero falar há muito tempo e que trata de um assunto muito importante para mim. Então, para finalizar, quero deixar o conselho de quem já passou por essa situação difícil: cobrem-se menos. Façam sua parte, tentem, não desistam na primeira dificuldade, mas se não deu, não deu. E também respeitem seus limites. Se sentirem que chegou a hora de parar de dar o peito e seguir só com o leite artificial (porque muitas vezes é isso que irá garantir a saúde dos pequenos), saibam que isso não será o fim do mundo, ou se não se sentirem confortáveis com as cobranças alheias, reservem-se o direito de amamentar seus filhos como podem longe dos olhares reprovadores. Eu fiz isso e me ajudou.

E essa história de que não se cria vínculo porque o bebê não mamou no peito, posso garantir para vocês que não existe! Maior bobagem do mundo! O Léo mamou aos trancos e barrancos até três meses (se é que chegou a isso) e sempre tomou complemento junto, e é impossível amor maior do que o que eu sinto por ele e apego maior do que ele tem por mim (tem horas que é até demais! kkkk!).

Enfim, como bem diz o meu marido, tudo é uma conjunção de fatores. Amamentar é importante sim, é claro! Mas há diversas outras coisas que também são importantíssimas: bebê ser amado, bem cuidado, estimulado, bem alimentado, mesmo que com leite artificial. E é a junção disso tudo que irá determinar o quão feliz e saudável seu filho será.

Então, se as coisas não foram perfeitas de um lado, desencane! Tem diversos outros pontos para você acertar e garantir a felicidade do seu filho e a alegria geral da nação.

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