E aí você está grávida do segundo filho e quer muito ter parto normal. Porém, seu primeiro parto foi uma cesárea e agora você não sabe se poderia ter um parto vaginal?
No post de hoje, nosso colunista o Dr. Claudio Basbaum, médico ginecologista e obstetra explica cada tipo de parto e responde: será que é possível um parto normal pós-cesárea? Confira!
Parto normal pós-cesárea é possível?
O parto é um momento crítico, sem controle, irreversível e absolutamente mágico
A consciência da importância desse instante para toda a vida de um ser humano está presente em mim há muito tempo. Em 1974, fui fortemente influenciado pelas ideias do médico francês Frederick Leboyer, defensor de um parto menos violento para o bebê. O processo do nascimento é um evento perturbador para o ser que está vindo à luz. O bebê, cansado “viajante”, ingressa em nosso mundo que é muito diferente da antiga realidade intrauterina.
Na minha prática ao longo de mais de 50 anos, sempre observei, deslumbrado, a paz e o prazer que experimentavam os bebês, tanto ao contatar o corpo da mãe, quanto ao lamber ou sugar seus mamilos, já nos primeiros minutos de sua vida extrauterina.
Graças a um grande movimento de profissionais de saúde e também de organizações e sociedades médicas, o parto humanizado está sendo cada vez mais desmistificado para mulheres e gestantes que entenderam que o parir deve acontecer de forma respeitosa para a mãe e o bebê e, portanto, do modo mais natural possível.
É contra a trivialização da cesárea, com indicações muitas vezes questionáveis, que nós, obstetras e gestantes, devemos refletir. O tipo de parto requer uma avaliação consciente, serena e compartilhada com o casal. Cabe à equipe obstétrica esclarecer, com bases científicas, dados estatísticos, riscos e benefícios, as opções de parto.
Tipos de partos
Por isso, antes de continuar esse texto, gostaria de mostrar as classificações básicas dos tipos de parto. Muitas pessoas ainda não conhecem a diferença de um e outro e acho importante sabermos quais são as formas existentes para trazer um bebê ao mundo.
Parto normal – também conhecido como parto vaginal. Acontece quando o bebê nasce pela vagina, de forma não cirúrgica, com pouca ou nenhuma incisão no corpo da mulher. A mãe pode optar, por indicação do médico ou sua própria solicitação, por tomar ou não a anestesia peridural, bem como hormônios para estimular as contrações.
Parto natural – é um parto vaginal sem nenhuma incisão, analgesia ou uso de algum medicamento. A gestante utiliza apenas técnicas naturais para o alívio da dor, como massagens, imersão em água quente ou banho morno de chuveiro, bola de pilates, o banquinho ou outros artefatos.
Parto humanizado – todo parto que respeita a mãe e o bebê, o protagonismo da mulher e que cada intervenção é aplicada apenas quando se faz necessária, com os procedimentos não seguindo protocolos rígidos pré-determinados.
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Uma cesárea, inclusive, também pode ser considerada parto humanizado. Tudo depende de como esse parto é conduzido, se as vontades e decisões da mãe são respeitadas, se ela está com um acompanhante e, além disso, se suas dúvidas são respondidas, como o bebê é tratado após o nascimento, dentre outras questões.
VBAC (vaginal birth after cesarean) – Traduzido para o português significa parto vaginal após cesárea. Muito comum hoje em dia. A mulher já fez uma cesárea e agora quer optar pelo parto vaginal, natural ou o normal, porque se informou sobre os benefícios para ela e o bebê.
Posso ter um parto normal depois de ter tido uma cesárea?
O que muitas mulheres me perguntam é “Doutor, eu posso ter um parto normal depois de ter tido uma cesárea?”. A resposta simples seria “sim”. Porém, cada gestação e cada corpo feminino é um. Sendo assim, uma avaliação médica criteriosa sobre a condição de saúde da mulher, do bebê e da musculatura do útero pós-cesárea são indispensáveis.
A princípio, com apenas uma cesárea anterior e tecnicamente bem realizada, um parto normal vaginal não apresentaria risco de complicações materno-fetais, que acontecem em menos de 0,5%. Porém, quanto maior o número de cesáreas que essa mulher já teve, mais fina fica a parede do útero onde foram feitos os cortes para retirar os bebês.
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Essa fragilidade muscular pode acarretar graves complicações como rompimento de útero, hemorragias e até levar a morte. Por isso, somente o obstetra, por meio de exames e da avaliação do histórico da paciente, poderá dizer se aquela gestante está apta ou não a parir por via vaginal.
Além disso, é preciso considerar outros elementos da saúde dessa mãe. Como está a pressão arterial? Ela tem algum problema cardíaco ou diabetes? A placenta está prévia? A mãe tem alguma doença de coagulação ou sexualmente transmissível (DST)? E o bebê, está saudável e em posição correta para o trabalho de parto? Todas essas questões precisam ser levadas em consideração na hora de escolher qual será a via de parto.
Baseados no que foi exposto, eu sugiro às futuras mamães que procurem obstetras em quem confiem e façam juntos todas essas ponderações. Portanto, se você tem o sonho de ter um VBAC, busque especialistas que apoiam o parto humanizado, pois eles possuem experiência e saberão indicar caminhos possíveis para o seu caso.