Terça feira, dia 10 de fevereiro. Acordei na maternidade super empolgada e animada, pois aquele seria o dia que viríamos para casa. Na noite anterior, meu médico havia me dado alta e a pediatra também já tinha liberado o Caê.
Amamentei, tomei um banho demorado, me vesti e estava pronta para colocar um pouco de maquiagem quando outra pediatra adentrou o nosso quarto.
Ela, muito cheia de dedos, estava lá para dizer que o Caê não receberia alta naquele dia como informado na noite anterior. Segundo ela, os motivos eram dois: primeiro, porque estavam desconfiados de que o Caê havia quebrado as duas clavículas no parto, e não apenas uma, como haviam nos dito anteriormente (no parto, na hora da expulsão, a clavícula esquerda do Caê quebrou. E, aparentemente, estavam desconfiados de que a outra clavícula também havia se quebrado e ele precisaria ficar mais no hospital para investigarem o problema melhor). O segundo motivo era que o Caê estava com o nível de bilirrubina acima do normal e teria que fazer banho de luz. No dia anterior os níveis haviam dados normais, mas nessa manhã se mostraram alterados.
Bom, é claro que eu não gostei da notícia e me frustrei. Mais do que isso, me preocupei com o fato de não terem visto antes que a clavícula direita também estava quebrada. Só que independente do que havia acontecido, não tinha nada que eu pudesse fazer, assim, tive que aceitar e lá permanecer por mais um dia.
Nas horas seguintes, Caê foi para um novo exame que confirmou que sim, as duas clavículas estavam quebradas e, na sequência, começou o banho de luz no nosso quarto mesmo.
Só que conforme o dia ia passando, Caê ficava mais agitado e chorava mais. E chorando, é claro que ele não podia ficar no banho de luz, tinha que sair, para eu amamentá-lo, ele acalmar e voltar para lá. Só que ele não acalmava. Mamava, mamava, mamava e não tinha jeito de se saciar, acalmar e voltar para o banho de luz. Meu leite não havia descido ainda, estava só no colostro e, por isso, começamos a achar que ele estava com fome.
Para matar a sua fome e acalmar o pequeno, eu o deixava praticamente todo o tempo no peito, mamando. Mas ele sugava e sugava e não saia muita coisa. E eu sentia que o negócio estava começando a complicar.
À tarde, uma enfermeira veio até nosso quarto. Tirou a temperatura do Caê e informou que ela estava um pouco alta e que isso poderia ser sinal de desidratação, já que eu ainda não tinha leite. Na hora, ela foi categórica: a solução é dar fórmula para o Caetano, pois ele precisa se hidratar e acalmar para ficar no banho de luz. Nessa hora, meu mundo caiu. Foi como se abrisse um buraco no chão e eu tivesse prestes a cair dentro. Pé na pontinha do precipício. Para mim, ouvir isso, foi mais chocante que receber a notícia das clavículas quebradas.
Eu, assim que recebi a notícia, afirmei que não daria fórmula de forma alguma. Contei para a enfermeira que o meu primeiro filho havia tido APLV e um dos motivos poderia ser o fato dele ter sido exposto à fórmula muito cedo e que eu não deixaria isso acontecer de novo de jeito nenhum. Além do mais, eu queria, e muito, ter uma experiência positiva de amamentação dessa vez, o que não foi possível na primeira.
Minha sugestão foi eu usar a bombinha de tirar leite que eu havia levado à maternidade e oferecer então esse leite para o Caê. A enfermeira informou que isso não seria possível, pois por garantia de higiene e segurança o hospital não permitia o uso de bombinhas que não as do próprio banco de leite.
Bom, ouvi essa informação – “Banco de Leite”- e na hora a luz se fez. Se eles tinham um banco de leite, então eu iria até lá tirar o meu leite para dar para o Caê (achando que tirando com a bombinha sairia mais e que aí poderia oferecer na mamadeira). E enfermeira disse que tudo bem e lá fui eu. Triste, frustrada, até certo ponto desesperada. Precisando extrair leite do peito para dar para o Caê na mamadeira, pois ele sugando não estava saindo o suficiente.
Entrei no bando de leite e mal e mal conseguia falar. Minha voz estava engasgada. Eu queria chorar. Eu não acreditava que estava passando por dificuldades para amamentar de novo. Mas se era isso que eu precisava viver, passar, eu estava ali para isso. Para tentar o que fosse possível para não dar fórmula.
Sentei em uma cadeira e lá fiquei tentando tirar o leite. Assim que uma enfermeira me perguntou quanto eu já tinha extraído, e eu respondi “nada”, o desespero bateu de novo. Realmente, eu estava sem leite. Realmente, eu teria que me dar por vencida e dar a fórmula que eu tanto me negava a oferecer.
Esse pensamento me colocava cada vez mais para baixo. E por estar mais sensível por conta do pós parto, eu fiquei ainda mai arrasada. Quem lê isso pode pensar que é um exagero sem fim, não é o fim do mundo dar fórmula, mas eu queria, como queria, que com o Caê as coisas fossem diferentes e ele mamasse. Simplesmente mamasse. Coisa que é tão fácil para tantas mães e bebês.
Sentada lá no meu cantinho, com as lágrimas escorrendo, vi se sentar ao meu lado uma outra moça. Simpática, ela puxou conversa e perguntou desde quando eu estava lá, no hospital. Disse que desde domingo, que meu bebê havia acabado de nascer. Ela informou que o dela estava há mais de um mês, e que iria ficar até abril, pois havia nascido de 24 semanas, estava internado na UTI e todo santo dia ela ia lá para tirar leite para darem para ele.
Bom, nessa hora, tomei um tomei um tapa na cara e, vendo a situação dessa mãe, tomei consciência de que a minha não era nada perto da dela. Eu tinha um filho saudável, que tinha nascido com peso e idade adequados e o único problema é que eu precisava dar fórmula para ele. O que não era, com certeza, o fim do mundo, mas a solução de um problema (a solução que me deram naquele momento).
Bom, conversei um pouco mais com ela, até meio sem saber o que falar e tentando aprender algo com essa mãe tão guerreira e positiva (ela não estava nada abatida, pelo contrário, estava bem) e, por fim, deixei a sala de coleta de leite.
Ao sair, entreguei o leite para as enfermeiras e fiquei esperando elas me devolverem para eu levar até o berçário. E foi aí que elas me informaram que aquela quantidade – 5ml – não seria suficiente para oferecer na mamadeira e que iriam ligar para a pessoa que estava com o Cae e informar sobre o quanto de leite havia sido colhido.
E lá fui eu, rumo ao berçário, tentando me acalmar e pensar no que poderia ser feito para resolver aquele problema com o mínimo de consequências negativas (medo de oferecer fórmula e o Cae também desenvolver APLV).
Antes de conversar com a enfermeira responsável pelo Cae, entrei no banheiro. Entrei para deixar rolar as lágrimas que teimavam em não parar de rolar e tentar ficar mais calma para conversar e tomar uma decisão. Assim que falei com a enfermeira, disse que eu havia pensado e tido uma ideia. Que eu autorizava darem fórmula para meu pequeno, mas que deveria ser o leite Neocate, que é o leite especial para bebês alérgicos. Se fosse essa a fórmula, Caê não seria exposto à proteína do leite de vaca e não teria chance de desenvolver a alergia por conta disso (ele pode até ter a alergia, mas não devido ao contato com a fórmula).
A enfermeira disse que tudo bem, eles providenciariam a fórmula e que eu devia subir para o quarto, aguardar e voltar quando me chamassem, para eu acompanhar o momento em que ela daria a mamadeira ao Caê (detalhe: eu pedi que a fórmula fosse dada no copinho, colherinha ou seringa, para evitar o contato precoce com a mamadeira, por medo disso atrapalhar a amamentação, mas fui informada de que esse procedimento foi proibido na maternidade por conta do risco de engasgo com esses métodos. Não concordo 100% com essa informação, mas não havia como eu discutir e fazê-los mudar de opinião, então, aceitei que a mamadeira seria dada).
Subi para o quarto e lá desabei. Chorei. Chorei por estar sensível, chorei por estar cansada, chorei por estar passando com o Caê pelas mesmas dificuldades que passei com o Leo, e chorei, principalmente, por medo de, mais uma vez, não ter uma experiência positiva nessa amamentação. Chorei por medo de não amamentar meu filho de novo.
Assim que fomos chamados, eu e o pai do Caê, para acompanharmos a enfermeira dando a mamadeira, nós descemos. Nessa hora, eu já estava mais calma e confiante que esse seria um fato isolado, que logo meu leite desceria, Caê mamaria e tudo começaria a entrar nos eixos.
Me agarrei a essa ideia e passei a torcer, então, para o Caê aceitar a fórmula que estava sendo oferecida, pois Neocate é um leite com gosto muito ruim e muitos bebês se negam a tomá-lo.
Por sorte, Caê mamou. Ele tomou 15ml dos 30 que foram oferecidos e, enquanto assistia à enfermeira dar a mamadeira (ela teve que dar, por questão de segurança, para evitar qualquer engasgo), rezei para que essa fosse a única vez, para que meu leite descesse em breve e que eu pudesse, ao longo dos próximos meses, amamentar o Caê da forma que eu sempre sonhei.
E para minha alegria, naquela noite, meu leite desceu!