Com certeza, você deve se lembrar da primeira queda do seu filho. Ainda mais se ele bateu a cabeça (o que é suuuuper comum). E aposto que quando você lembra disso, também se recorda do desespero que bateu, daquele medo de ter sido algo sério, da dúvida se era necessário levar para um médico avaliar ou não.
Pois bem, no post de hoje, a Neurocirurgiã Pediátrica Raquel Zorzi explica direitinho que nós devemos fazer quando um bebê ou criança tem uma queda e bate a cabeça.
Post super útil. Na verdade, de utilidade pública. Confira!
Meu filho caiu e bateu a cabeça, o que devo fazer?
Por Dra Raquel Zorzi, Neurocirurgiã pediátrica, autora do site www.raquelzorzi.com.br
As quedas em crianças são extremamente comuns. Seja quando são bebês e estão aprendendo a andar ou quando estão maiorzinhas, querendo desbravar o mundo, sabemos que nossos filhos estão sempre sob o risco de cair, e o pior, bater a cabeça no chão. É importante saber que qualquer trauma da cabeça é classificado como um “traumatismo craniano”. Embora esse termo seja um pouco assustador, vale a pena lembrar que o que muda é o grau do trauma que pode ser leve, moderado ou grave. Além do grau, também é preciso levar em conta o mecanismo de trauma, ou seja, o a intensidade do impacto na cabeça que a criança sofreu. Todos os pais devem ter consciência de quais situações apresentam verdadeiro perigo para os pequenos. Quando devemos levar nossos filhos ao hospital? O que é mais importante saber e observar quando nosso filho tem um traumatismo craniano? Vamos esclarecer essas e outras dúvidas comuns em relação a esse tema.
Por que quando as crianças caem elas frequentemente batem a cabeça?
Existe uma explicação física para isso! Nas crianças, especialmente nas pequenas, a cabeça é proporcionalmente maior do que o resto do corpo. A isso associamos o fato que as perninhas são pequenas em relação ao tronco, então temos o centro de gravidade perto da cabeça da criança, então assim, quando ela cai, essa é uma das primeiras partes a bater no chão. Além disso os bebês e crianças menores de 1 ano não tem um controle muito bom da musculatura do pescoço, deixando a cabeça mais “solta” e propensa a bater.
Quais tipos de acidente são mais perigosos?
Tudo depende da “energia do trauma” ou seja, seu impacto e consequentemente do grau do traumatismo. O que isso quer dizer? Simples, basta imaginar que é diferente bater a cabeça porque se está andando distraído ou bater a cabeça quando a criança está correndo. Isso significa que quanto maior a intensidade do acidente, maior o risco de uma lesão grave do cérebro. Traumas considerados de baixa energia, como já explicamos, raramente causam lesões cerebrais ou fraturas, já os de alta energia podem levar uma criança ao coma e ter graves consequências. Geralmente um trauma de alta energia é aquele que tem maior velocidade ou altura. Em termos de altura da queda, geralmente nos preocupamos mais com quedas que sejam maiores do que uma vez a altura da criança. Por exemplo, uma criança que tem 1 metro de altura que cai de uma altura maior que 1 metro. Já a velocidade depende muito da idade da criança.
Quando preciso levar meu filho ao hospital?
Em primeiro lugar, todos os bebês com idade menor que 6 meses devem ser levados para avaliação se sofrerem alguma queda, mesmo que pequena. Como eles têm a cabeça bem “molinha” e ossos frágeis, uma simples queda da cama ou do colo pode causar fraturas!
Em crianças maiores que 2 anos, quando a criança sofrer qualquer traumatismo de alta energia conforme explicado acima ela deve sempre ser levada ao hospital para avaliação, mesmo que esteja bem. Alguns sinais de gravidade nestes casos podem não ser percebidos pelos pais no início e a criança pode piorar rapidamente. Os traumas de baixa energia em geral podem ser observados em casa, mas caso a criança apresente algum sinal de alerta deve ser levada imediatamente ao hospital. Veja os sinais de alerta do traumatismo craniano em crianças:
- Bebês – apresentam irritabilidade ou sonolência, fontanela (“moleira do bebê) inchada, vômitos, convulsões, perda de consciência (desmaio).
- Crianças – dor de cabeça persistente, vômitos, sonolência, tonturas, convulsões, perda de consciência (desmaio), amnésia (não lembra onde está ou o que aconteceu), alterações de comportamento.
- Crianças em qualquer idade que apresentem sangramentos, especialmente se forem do nariz ou ouvido.
É muito importante que os pais observem se a criança apresentará algum destes sintomas nas primeiras 24 horas do traumatismo craniano. Em crianças com traumatismos moderados, como cair de bicicleta, de patins, ou de um escorregador, por exemplo, às vezes os pais têm uma maior dificuldade de determinar a gravidade ou não do caso. Por isso, nesses casos, é recomendado levar a criança ao hospital, especialmente se ela for menor que 2 anos. Como neurocirurgiã posso dizer que já presenciei inúmeras quedas de bicicleta por exemplo sem maiores problemas, mas também já operei muitas fraturas e hematomas nessas situações. Quando se trata dos nossos filhos, todo cuidado é necessário, e prevenção é a palavra-chave! Então eu sempre lembro que as crianças devem usar capacete para bicicleta/patins/skate e no carro devem usar a cadeirinha apropriada para idade com a fixação correta!
É mito ou verdade a história que a criança não pode dormir depois que bate a cabeça?
É verdade! Deixa eu explicar o porquê. Quando a criança bate a cabeça já foi mostrado a importância da observação neurológica, não? Então, como você vai observar se seu filho está agitado ou sonolento ou ainda com alterações de comportamento se ele dormir? O ideal é que os pais possam observar a criança se ela está se comportando de forma normal. Mas você deve estar se perguntando o que fazer se o trauma for, por exemplo, às 22h? Nestes casos é recomendado que se observe a criança no mínimo 3 horas acordada, após esse período você pode deixá-la dormir. Ao longo da noite tente acordá-la a cada 2 horas, se ela despertar fácil, sem problemas. Se a criança não acordar, ou você tiver que insistir muito para isso, ou ainda ela apresentar qualquer dos sinais de alerta citados, leve-a ao hospital. Em caso de dúvida sempre procure um médico especialista.
Dra Raquel Zorzi, Neurocirurgiã pediátrica, CRM 142761 RQE 56460
Site: www.raquelzorzi.com.br