Muitas mães me escrevem pedindo para falar um pouco sobre a experiência de ser mãe e ainda trabalhar fora. Bom, sobre trabalhar fora, eu comecei há pouco tempo (duas semanas, talvez), e ainda com uma agenda e rotina bem flexíveis, ou seja, não me encaixo muito no padrão de “mãe que trabalha fora”, com jornadas extenuantes, horários rígidos, viagens das quais não dá para escapar.
Então, por isso, nunca me senti confortável para fala sobre o tema “mãe e profissional que trabalha fora” e achei mais prudente convidar alguém para abordar o assunto.
E foi por isso que convidei a Andréa Ruschman, mãe das gêmeas Isabela e Laura, que foi diretora financeira de uma grande multinacional e que se viu no impasse “maternidade x carreira” como muitas de vocês se vêem hoje.
A Andréa já colaborou com o blog, escrevendo o texto “Eu superei um câncer e encarei 7 FIVs para ser mãe“, que foi publicado há poucos meses. Leia este também e conheça toda a sua emocionante história.
E agora, o mais novo texto da Andréa, falando sobre maternidade e carreira, falando sobre as suas escolhas e as implicações dessa decisão.
Maternidade e carreira: Eu larguei uma carreira de sucesso para ser “apenas” mãe
Por Andréa Ruschman
Como contei em no meu texto anterior para o Macetes de Mãe, aos 35 anos eu era Diretora Financeira de uma grande multinacional de energia, com desafios e responsabilidades de uma grande executiva. Eu era constantemente assediada por headhunters, bajulada por todo tipo de pessoa do mercado financeiro, ate de doutora era chamada. Tinha bom salário, motorista, viagens constantes para o exterior …. tudo muito encantador e charmoso.
Ainda tive alguns anos “dessa vida” em outras empresas, ate que, aos 40 anos, decidi que não poderia mais esperar para engravidar. Tinha sobrevivido a um câncer, os anos já estavam avançando, não podia perder mais tempo. Várias FIVs me forcaram a reduzir um pouco o ritmo profissional e, quando finalmente engravidei e dei à luz a duas princesinhas em 2014, algo mudou profundamente em mim.
Enquanto amamentava, comecei a imaginar como seria minha rotina profissional quando acabasse a licença maternidade. Que horas sairia de casa, que horas voltaria, e se tivesse que viajar . Aquilo tudo começou a me dar “calafrios”. Não conseguia me imaginar saindo de casa às 8h da manhã e voltando às 8h da noite. Isso, claro, se tudo desse certo. A saudades que eu sentiria das meninas seria insuportável.
Eu tinha batalhado muito para ser mãe e fui abençoada com duas meninas lindas. Fui percebendo que elas simplesmente “invadiram” meu mundo profissional, meu papel de executiva. Voltar em período e dedicação integral não era mais uma opção.
Me enchi de coragem e decidi que somente voltaria se a empresa aceitasse redução de jornada. Tinha certeza de que trabalhando meio período conseguiria cumprir minhas obrigações e por sorte, isso foi aceito pela empresa. Aceito, porém não compreendido. Infelizmente o mundo corporativo não entende o “part time”e o “home office”. Na prática, você passa a ser considerada “café com leite”, e excluída dos assuntos mais importante e estratégicos.
Senti então minha função se esvaziar, e hoje vejo como única alternativa profissional nesse ambiente, voltar ao período integral. Voltar a estar o dia todo no escritório, participar de todas as reuniões presencialmente, tomar cafezinho na empresa e participar de almoços com os colegas do trabalho.
Mas, infelizmente, isso não se encaixa mais na minha “agenda pessoal”. Minhas filhas estão com 3 anos e, mais do que nunca (ate mais do que quando eram recém nascidas e bebês), precisam de mim e eu preciso delas. Para levar na escola, na aula de inglês e na natação, poderia contratar um motorista e uma baba, mas percebo que são momentos preciosos de convivência com elas. São momentos em que elas contam coisas importantes, dividem preocupações e curiosidades, e tenho certeza de que ninguém melhor do que a mãe (ou o pai) podem atender as expectativas delas nesses momentos.
Entendo que alguns pais não podem fazer essa escolha que eu fiz e que a profissão precisa ser a prioridade em suas vidas. Sei também que não existe regra e que, muitas vezes, o que vale para uma pessoa não necessariamente se aplica à outra. Mas sei também de muitos pais que não “querem” fazer essa escolha. E agora, a minha provocação é para esse pais, que se deixem “embriagar” por esse mundo profissional e perdem momentos preciosos de convivência com os seus filhos.
Não são decisões fáceis, muito pelo contrário. Mas quem sabe o texto abaixo, que recebi de uma amiga querida e que foi escrito por um headhunter, seja um empurrãozinho para que alguns de vocês reflitam sobre a real importância de suas profissões.
“Procurei recentemente uma candidata para uma nova oportunidade profissional. Seria uma promoção em relação ao seu cargo atual e ela tinha as qualificações perfeitas para a vaga. A resposta dela, entretanto, foi: “Obrigada, mas não estou interessada nessa vaga”.
Eu insisti para que ela dissesse o motivo e a resposta me deixou bastante confusa. Ela disse que já tinha chegado ao topo profissional.
Eu conhecia bem a estrutura da empresa em que ela trabalhava no momento e chequei novamente o currículo dela. Ela estava bem distante do “topo”. Precisaria usar binóculos para conseguir ver o topo. Não era nem gerente ainda.
Ela, então, explicou que, para ela, chegar ao “topo” significava ter exatamente o cargo que ela tinha agora e que ela estava muito satisfeita. Ela gostava da empresa, era tratada de forma justa e respeitosa e tinha uma remuneração suficiente para ter uma vida confortável. Tinha ótimos benefícios, tinha flexibilidade. E o mais importante: ela nunca tinha deixado de assistir um jogo de futebol do seu filho, ou ir a um evento da escola, reunião com professoras, aniversários ou eventos da família.
Ela sabia o que representaria uma promoção na carreira: mais horas no escritório, viagens e sacrifícios. Segundo ela, não valeria a pena !!! E concluiu dizendo que a definição de “chegar ao topo” não precisa necessariamente ser aquela que a sociedade ou as outras pessoas dizem ser.