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Maternidade: ajeita de um lado, desanda do outro

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bebêLembro até hoje o dia que liguei para dar feliz aniversário para uma amiga e ela perguntou como estava o Léo. Ele tinha um pouco menos de três meses e eu comecei a desfiar o rosário (algo que mudou completamente o rumo da conversa, é claro): o Léo está com cólica (muita cólica) o Léo segue chorando para mamar (quando mama), o Léo teve intestino preso (fechado, seria uma melhor definição), o Léo agora está com diarreia (intestino bipolar) e, para completar, agora o Léo terá que fazer exame de urina para verificar se não está com infecção urinária, algo raríssimo em meninos (depois de já termos feito exame de fezes e sangue, pelo que lembro, duas vezes). Concluí dizendo que não aguentava mais aquela novela de “quando não é uma coisa é outra” e confessei que já estava de saco cheio, muito cheio (PS1: saco cheio da situação, nunca do Léo. PS 2: Nem três meses tinham se passado desde o nascimento do meu pequeno e eu já tinha vivido uma pá de coisas. PS 3: No fim, descobrimos que tanto sofrimento tinha nome: APLV. Leia sobre isso aqui).
Nesse momento, essa minha amiga, que já era mais experiente no assunto maternidade, me disse que assim seria para todo o sempre e que eu teria que me acostumar. Que depois de um tempo que as cólicas cessassem, começaria a fase dos dentes, que depois que eu estivesse acostumada com os dentes, começariam os tombos, que depois dos tombos chegariam as viroses, resfriados, febres e noites mal dormidas de novo, e que, depois de tudo isso, um número ainda muito maior e mais significativo de preocupações estaria sempre por aí, animando a nossa rotina como um churras com pagode na casa do vizinho (quem gosta disso????) Enfim, uma sucessão de novos desafios, aprendizados, preocupações, sofrimento e, vamos ser sinceras, muita encheção de saco. Ou alguém aí acha que esse lado B da maternidade é divertido?
 
Na hora ouvi, gravei (tanto que estou aqui escrevendo sobre isso), mas estava tão focada no problema que estava vivendo naquele momento que não consegui entender muito bem a profundidade do que ela estava dizendo. Mas hoje, que o Léo está com quase um aninho, poucos tombos depois, mas já muitos dentes, e febres e resfriados vividos, posso garantir que ela estava tapada de razão.
 
Depois que um filho dá as carinhas aqui do lado de fora, não podemos mais esperar que as coisas entrem nos eixos e permaneçam lá por muito tempo. Sempre terá uma coisinha para tirar o nosso sono, para nos deixar apreensivas, para nos fazer sofrer, para nos encher de dúvidas, para nos tirar o chão ou nos dar muita dor de cabeça. Aquela vida organizadinha, incolor, insípida e inodora não existe mais. Esse mundinho cor de rosa no qual nós, super executivas, profissionais da saúde experientes, autônomas cheias de autonomia costumávamos viver, ficou lá no período pré-parto.
 
Eu já vinha percebendo isso aqui em casa, mas o que realmente me fez parar para pensar de novo no assunto e me despertou a vontade de escrever sobre isso foi a experiência de ter ido na consulta de rotina do pediatra, ter ouvido que o Léo estava ótimo da sua APLV e pronto para testar tudo menos leite (quanto tempo esperei ouvir isso!!!) e, ao mesmo tempo, receber o diagnóstico de uma bronquiolite.
 
Rá! Foi só ajeitar de um lado (brigamos com essa praga dessa APLV por meses) que a maionese estava prontinha para desandar do outro: a bronquiolite do Léo quase virou uma pneumonia, mas mesmo não virando, paramos duas vezes no pronto socorro, ele teve febre por dias, resolveu que alimentar-se de luz era o suficiente e que dormir era para os fracos. Ah, e para completar, acabou ainda tendo uma recaída da sua alergia, coisa comum quando um bebê com APLV fica com seu sistema imunológico baqueado. Uma beleza, não?!
 
Bom, depois disso, agora repito o mantra: não há felicidade que sempre dure, não há mal que nunca acabe (é assim mesmo que se diz?). Ô grande verdade essa em se tratando de maternidade.
 
E espero que esse conselho que acabo de colocar na frase aí de ajude você também, querida leitora, porque se você não entender isso, vai passar a maternidade dando murro em pota de faca. Se você ficar sempre esperando alguma coisa passar, melhorar, acabar para começar a viver a maternidade e aquele lado cor de rosa dela que você sempre sonhou existir, vai perder vários e vários anos da sua vida esperando por algo que não vem e nem nunca virá.
 
O mundo da maternidade, assim como o mundo em geral, é real. Ele não é perfeito e ele não é livre de preocupações e nem de dores. É claro que a gente tem momentos de descanso, é claro que há noites que a gente dorme sim, e é claro que depois da tempestade sempre vem a bonança. Mas aí a tempestade volta a aparecer e não dá para você deixar a peteca cair porque o negócio ficou complicado de novo.
 
Conviver com o que foge ao nosso controle,  aceitar que desafios vão existir sempre e entender que 
a maternidade não é só cor de rosa (mas que mesmo assim pode ser bela, doce e divertida) são os grandes aprendizados dessa experiência tão enriquecedora e única e são essas coisas que também fazem tudo valer a pena. Afinal, aqui também vale outro famoso ditado: no pain, no gain. 

 

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