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Mãe não pode reclamar

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Já repararam que mãe não pode reclamar? Pois é, é isso mesmo. É só mãe abrir a boca para falar alguma coisa, fazer alguma mínima reclamação sobre a realidade da maternidade, para alguém olhar de cara torta e soltar a pérola mais tradicional de todas: mas teve filho por quê então?

Eu perdi a conta de quantas vezes ouvi isso. Não de pessoas próximas, mas de leitoras. Várias vezes, já publiquei no Facebook posts nos quais eu desabafava sobre o lado B da maternidade e aí vinha um punhado de leitoras jogar pedras e fraldas sujas em mim, comentando coisas como: “Para que tanto mimimi? Você reclama demais!”, “Mas você não sabia que ter filho dá trabalho?“, “Quis ter filho por quê então?”.

mae nao pode reclamar
Photo Credit: Todd F Niemand via Compfight cc

E vejo que isso é muito comum. Muito mesmo. Percebo claramente que nós, mães, não podemos nunca-jamais-em-hipótese-alguma abrir a boca para fazer uma mínima reclamação que seja sobre a nossa rotina de mãe. Que se a gente fizer isso, “não pega bem”, não combina com o nosso papel de mãe, e temos que nos resignar e simplesmente aceitar – sem abrir a boca para reclamar – que é assim e pronto.

Mas eu não concordo com isso. Não mesmo. Eu não acho que a maternidade é perfeita, linda e maravilhosa 100% do tempo. Eu acho sim que a gente vive muitas vezes muitos perrengues e que a gente tem o direito de abrir a boca para desabafar e colocar para fora aquilo que está nos cansando, machucando, estressando. Se eu estou cansada de acordar 5 vezes por noite há mais de um ano, tenho que ter o direito de reclamar dessa situação e não ser obrigada a fazer cara de paisagem e dizer sorrindo que está tudo bem, é assim mesmo, e eu não me importo. Porra, se eu me importo, se estou cansada, exausta, tenho o direito de reclamar sim, desabafar, me abrir com alguém.

Mas normalmente, quando a gente faz isso, as pessoas nos olham estranho, nos julgam, e já começam a achar que a gente não gosta de ser mãe, não nasceu para ser mãe, se arrependeu de ser mãe. Pelo amor de Deus, não é nada disso. A gente ama ser mãe, ama nossos filhos acima de tudo e não voltaria jamais no tempo para deixar de tê-los, mas também é verdade que a gente encara grandes desafios para ser mãe e que, muitas vezes, eles nos abalam. E quando nos abalam, TEMOS QUE TER O DIREITO de abrir nossos corações, desabafar, falar, chorar e reclamar, porque guardar sentimentos e sensações que não queremos carregar não faz bem a ninguém.

Com esse post, gostaria de pedir mais compreensão e menos julgamento. Claro que aqui não me refiro a pessoas que só conseguem ver o lado negativo das coisas e reclamam de tudo (porque aí o furo é mais embaixo), mas de gente como a gente que, em alguns momentos, chega no seu limite e precisa desabafar.

Eu respeito e compreendo as mães que reclamam, as mães que tem a coragem de assumir que nem tudo são rosas, as mães que não tem vergonha de admitir que tem horas que dá vontade de fugir sim. Amar nossos filhos acima de tudo não nos torna insensíveis às coisas difíceis e desafiadoras da maternidade. E falar sobre elas – o que inclui, sim, reclamar – é importante, e até mesmo necessário. Afinal, é desabafando, colocando para fora aquilo que nos machuca e faz mal, que, muitas vezes, conseguimos encontrar a solução para um problema ou o alento para uma dor.

Aqui alguns posts nos quais eu fui uma “mãe reclamona”:

Sobre nem tudo ser rosas no primeiro ano de vida do bebê

Quando você tem a impressão que só você não dá conta

Sobre ter um bebê pequeno em casa e experimentar uma certa melancolia

Veja mais!