“Falta de dinheiro” também é uma desculpa na hora de dizer para o seu filho que você não pode comprar algo que ele pede?
Hoje a nossa colunista Anna Luisa, consultora de finanças para família, traz um alerta sobre aqueles momentos em que que não podemos (ou não queremos) comprar algo para as crianças. Nessas horas, a gente tem por hábito dizer que “não temos dinheiro”, não é mesmo? Leia o texto de hoje e confira a orientação da especialista.
Falta de dinheiro é o motivo fácil!
Quando não quiser ou não puder mesmo comprar algo para seu filho, não alegue falta de dinheiro. Este até pode ser um dos motivos, mas provavelmente não é o único. As crianças pedem coisas com frequência, mas geralmente dentro do contexto financeiro em que vivem – mesmo sem ter noção de valores, elas absorvem muito bem a realidade em que estão inseridas.
Mas chega um dia em que se encantam por um brinquedo grande, colorido e que está posicionado bem no meio da loja, cujo preço é a bagatela de R$ 1.500 (já aconteceu comigo!). “Nem pensar gastar mil e quinhentos reais com o farol da Patrulha Canina!!” – foi o que pensei. Mas na hora de responder, quase sai o famoso “não tenho esse dinheiro”.
Aqui começa a reflexão: será que não temos mesmo este dinheiro?
Algumas famílias fazem questão de organizar uma festa de aniversário para as crianças e somando o espaço, a decoração, comes e bebes, bolo e doces, lembrancinhas e animação, não sai por menos que esse valor. Há quem goste de viajar, nem que seja para passar o fim de semana em uma casa alugada numa cidade próxima, mas isso também custa. Se você somar os gastos com restaurantes, iFood e lanches na rua de toda a família durante um mês, talvez chegue próximo do preço do brinquedo.
O fato é que muitas vezes temos dinheiro suficiente para o pedido do filho. Porém, aquele pedido não é prioridade. O preço do brinquedo talvez seja mais alto que seu valor. Vou dar um exemplo irreal, mas que ilustra: se o brinquedo de R$ 1.500 fosse um robô que brinca com as crianças, ajuda a fazer o dever de casa de inglês, arruma o quarto após a brincadeira e ainda aproveita a madrugada para limpar a casa, valeria seu preço. Mas um brinquedo estático, com bonecos e carrinhos não vale esse dinheiro.
E é exatamente esse argumento que precisamos explicar para os filhos. Ou pode ser outro, como: não vamos comprar o videogame de atiradores de elite que custa R$ 800 porque não acho adequado uma criança ou adolescente atirar em pessoas mesmo que virtualmente; prefiro que escolha entre um patinete, bicicleta ou patins, que desenvolve a coordenação e equilíbrio, do que a motoca elétrica. Entre outros argumentos.
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Este tipo de abordagem dá muito mais trabalho, porque a criança pode argumentar de volta ou insistir e os pais precisarão de paciência e segurança para fazer valer seu ponto de vista ainda que os filhos discordem – afinal, a responsabilidade da criação é dos adultos. Dizer que não tem dinheiro é muito mais fácil porque as crianças não têm como contra-argumentar e não adianta insistir. Mas é um caminho muito ruim para a educação financeira dos pequenos.
Primeiro porque joga todo o ônus da decisão para cima do dinheiro, às vezes tornando-o o grande vilão. Depois porque não aproveita a oportunidade para ensinar sobre como fazer escolhas, como alocar recursos finitos, priorizando o que é mais importante e abrindo mão do restante. Outro problema é que, aos olhos da criança, parece que se você tivesse o dinheiro, compraria. Quando for mais velho, pode interpretar que uma decisão de consumo deve ser baseada somente no saldo da conta corrente: tem saldo, eu compro.
E ainda perde a chance de ensinar sobre a relação preço X valor, algo fundamental para a vida – e que muitas vezes é uma análise individual. Não existe um manual com o valor de todas as coisas para compararmos se o preço na prateleira está condizente ou não. Essa avaliação se o preço condiz com o valor do objeto para si próprio é muito complexa, pois vai se alterando ao longo da vida e conforme diversas variáveis – é preciso ensinar desde cedo.
Outra oportunidade: na hora de comprar celular
Outra oportunidade de conversar sobre o tema é na hora de comprar um celular para o filho adolescente. É comum eles estarem super por dentro dos últimos modelos das melhores marcas, que geralmente são os mais caros. Mas se a intenção dos pais é dar um aparelho mais simples, é importante dar os argumentos corretos! E não apenas alegar que só tem dinheiro para o mais barato.
Adolescentes ainda estão aprendendo a cuidar de seus pertences, então é comum deixarem cair, perderem ou ainda serem roubados. Não é para culpá-los, até porque acontece com adultos também, mas é natural começar com algo de menor valor. Além disso, se os pais dão o aparelho para facilitar a comunicação, não é preciso ter a melhor câmera ou memória. Sim, eles podem desejar isso tudo, mas nem sempre será prioridade da família. Além de tudo, nada os impede de, quando crescerem um pouco mais, começarem a gerar a própria renda e comprarem o celular que quiserem.
Se precisar de mais algumas dicas de como lidar com a questão Filhos & Dinheiro, acesse invistasemmedo.com e me mande uma mensagem para mim!