Nossas mães acabam sendo um exemplo positivo (ou não) para a mãe que iremos nos tornar. Muitas de nós nos espelhamos nas mães que temos para seguir a nossa jornada da maternidade. Assim como outras, se espelham para não serem como a sua mãe foi. Nesse relato emocionante, publicado originalmente no site Ravishly, a autora revela o exemplo de mãe que ela teve e do qual não seguiu o mesmo modelo. Sua mãe passou a vida toda ocupada demais em ser uma excelente profissional, enquanto a autora do relato, largou a carreira para se dedicar à maternidade. Confira abaixo numa tradução livre.
Eu sou a mãe que sou por causa da mãe que eu tive
Por Vedavati M (@TheCulturalMisfit)
Por mais universal que seja, a maternidade é uma experiência única: todos lidam com isso de maneira diferente e ninguém está certo ou errado.
Minha mãe nunca foi uma mãe “tradicional”. A única coisa que a destaca na minha infância é que ela nunca esteve lá por mim.
Papai me levou para a escola até eu ter minha própria bicicleta. Era sempre ele que ia às reuniões de pais e professores. E, portanto, foi ele quem participou de cada evento esportivo, chorou com orgulho nas cerimônias de formatura e nunca perdeu nenhuma das minhas peças de teatro. Ele não era um “pai-que-fica-em-casa”. Porém, ele sempre teve tempo para mim.
Apesar da presença do meu pai, eu sentia falta da minha mãe
Cada um dos meus amigos podia avistar meu pai à distância, quase tão bem quanto eles podiam encontrar seus próprios pais na multidão. Quanto à minha mãe, eles a encontravam uma vez por ano, no meu aniversário.
Ela era a anfitriã perfeita, recebendo a todos com afeição materna, algo que ela parecia reservar apenas para os outros. Ela jogou bingo com meus amigos, preparou comidas dignas de Pinterest e, além disso, ainda contou piadas. Enfim, ela era a mãe que todos queriam, ela era “legal”. Mas eu sentia falta da mãe chata, a “mãe-que-fica-em-casa”, que todos os meus amigos tinham.
Minha mãe trabalhava das 9 às 18h, e às vezes até às 19 ou 20h. Sua posição de “gerente -assistente” em um banco teve prioridade sobre seu papel como “mãe”. À noite, quando ela chegava em casa, o ar parecia se tornar elétrico. Ela rapidamente tirava suas roupas, vestia o roupão e começava a preparar o jantar, enquanto preparava o café da manhã e o almoço do dia seguinte. Em meio ao caos da panela de pressão no fogo, pratos sendo lavados e sanduíches sendo embalados, ela não tinha tempo de ouvir sobre o meu dia.
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Tudo o que eu lembro da minha mãe, é uma sombra … um borrão
Na hora do jantar, enquanto mamãe e papai se encontravam, eu comia calmamente.
A última coisa que ela fazia era me dar um beijo de boa noite. Um beijo na bochecha e um tapinha na cabeça para compensar sua ausência o dia todo. Mas isso nunca foi o suficiente.
Lembro-me de um e episódio. Foi no ano 1996. Subi ao palco para receber o Prêmio de Melhor Aluna, meus olhos percorreram o auditório, embora soubesse que ela não estaria lá. Vi meu pai vestindo seu blazer mais caro e ostentando seu sorriso mais largo. Ele parecia mais gordo, mais feliz. E assim que meus lábios se curvaram para mostrar um sorriso para ele, eu a vi! Mamãe veio! Ela tirou meio dia de folga no trabalho para fazer parte de um momento mágico na vida da sua única filha.
Minha mãe estava lá!
Eu a apresentei a todos os meus professores do ensino médio. Eles sabiam o quanto eu desejava a participação dela na escola. Então ela sorriu com alegria e me disse: “Eu não participei disso.”
Soou como humildade, mas para mim, representava indiferença. Sua falta de participação esteve comigo por anos, durante a faculdade, casamento e agora com uma filha. Eu sempre pensei em como ela não exerceu seu papel de mãe nas minhas realizações.
Ela não me ajudou na lição de casa de matemática ou nos meus ensaios. Ela não sabia quem eram meus professores ou quais os assuntos que eu amava. Ela não tinha ideia de que eu recebi um “F” em matemática na sétima série ou que ganhei um prêmio numa competição estadual.
Ela estava muito ocupada buscando seus próprios marcos na carreira, quebrando seu próprio teto de vidro, lutando contra o estigma de ter uma filha única – uma menina! – por escolha, lutando contra sua própria culpa em uma família indiana indiferente, preconceituosa e, além disso, pseudomoderna.
Meu nascimento fez dela uma mãe, mas, ainda assim, ela ganhou todos os títulos que conseguiu em três décadas de sua carreira profissional
Ela participou de um dos dias mais monumentais da minha vida no ensino médio, mas, de alguma forma, pareceu forçado, não foi natural. Eu me senti culpada por tê-la feito tirar o meio dia de folga, sua presença me pareceu confusa.
Apesar de ter passado bastante tempo de qualidade com uma pessoa adulta, de alguma forma, eu não fui capaz de me livrar dessa sensação de ser sempre secundária.
Tive conversas com minha mãe nos últimos anos sobre o que a maternidade significa para mim e o que isso significava para ela quando eu era pequena, e vejo a disparidade em nossos pontos de vista. Onde eu tenho imenso orgulho e alegria em ser uma “mãe-que-fica-em-casa”, ela vê o fracasso. Onde vejo meu cuidado, conforto, educação e amor ao meu bebê como instintos maternais naturais, ela os vê como responsabilidades obrigatórias – algo que uma babá poderia fazer com a mesma facilidade e eficiência. Quando passo meu tempo aprendendo sobre a vida, amor e sobre eu mesma, ela vê oportunidades de carreira passando.
Ela não tem vergonha de expressar sua decepção por mim, sobre minha escolha de deixar de lado meu mestrado e minha carreira profissional ser interrompida.
Em todas as conversas que tenho com ela, me sinto julgada
Ela acredita que me deu asas por não me mimar. Ela acha que me colocou em um caminho de independência por ser indiferente. Ela está certa de que tive conquistas profissionais porque ela era um exemplo.
Dizer que ela não tinha nada a ver com a minha mudança seria errado: ela me ensinou resiliência, autoestima e independência. Dar-lhe crédito pelo meu crescimento pessoal e profissional poderia ser falso. Ela nunca me encorajou a ser escritora – minha escrita foi, e sempre será, um hobby para ela. Enfim, culpá-la por todas as partes de mim que estão quebradas não seria nada legal.
Ela não é responsável por quem eu sou hoje. Dito isto, em um nível subconsciente, eu sou a mãe que sou por causa da mãe que eu tive
Estou aprendendo a deixar rolar, a desvincular. Aprendendo a dizer respeitosamente: “Eu não sou a mãe que você era”, sem malícia ou pesar. Minha mãe não era a típica mãe porque não há definição para “típica”.
Estou percebendo que, por mais universal que seja, a maternidade é uma experiência única: todos lidam com isso de maneira diferente, e ninguém está certo ou errado. Ela fez o melhor que pôde.
Estou começando a dizer a mim mesma, todas as noites, enquanto dou de mamar e coloco minha filha para dormir, que ela será quem ela será, apesar de mim, e não por causa de mim. Ela terá sua própria história para contar, sua própria jornada para trilhar, suas próprias queixas contra mim, suas próprias escolhas a fazer.
Tudo o que posso fazer é tentar estar lá para ela, para abraçá-la, amá-la, encorajá-la. E aceitá-la por quem ela é.
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