Está na dúvida se está criando crianças consumistas? Então, confira o texto de hoje da nossa colunista Anna Luisa, especialista na área financeira. Neste texto, a Ana explica como nosso cérebro toma decisões e nos indica como ensinar as crianças a fazerem trocas inteligentes e como definir regras. Confira!
Estou criando crianças consumistas?
O desejo por mais – mais brinquedos, mais chocolates, mais videogames, mais passeios, etc. – vai aparecer em algum momento da infância. Como encontrar a medida ideal entre o consumo consciente, que nos traz satisfação e bem-estar, e o excesso? E como ensinar esta medida aos pequenos?
A primeira dica é bem conhecida, mas vale pontuar: filhos aprendem pelo exemplo. Se os pais trocam de celular todo ano apenas porque o novo modelo é melhor, compram roupas com frequência mesmo com o guarda-roupa cheio, rotulam de pão-duro ou mão-de-vaca quem faz escolhas diferentes das suas, compensam problemas ou emoções em compras ou se endividam para comprar algo que não é essencial, é isso que os filhos aprendem.
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Mesmo famílias que têm controle financeiro, ainda precisarão ensinar sobre consumo consciente aos pequenos. Para começar, ajuda muito compreender como o ser humano toma decisões, inclusive a de comprar: o psicólogo Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, explica que temos 2 formas de pensar.
Como o cérebro toma decisões de consumo
Uma delas, que chamou de Sistema 1, é rápida, fortemente influenciada por nossas emoções, se atém às informações disponíveis e é automática – está sempre funcionando, não há como desligá-la. Já a outra, o Sistema 2, é lenta, analítica, faz uma avaliação mais ampla e precisa ser acionada – como consome muita energia, fica em stand by e só entra em ação quando convocada.
A publicidade, o marketing, o design de embalagens, o layout de vitrines, a comunicação de vendas, entre outros, são totalmente desenhados para fisgar nosso Sistema 1. Por isso, uma das dicas para evitar compras desnecessárias é: antes de passar o cartão, dê mais uma volta para refletir e, se realmente for o caso, volte e compre. Esta é uma das maneiras de convocar o Sistema 2 para participar da decisão, permitindo uma escolha mais consciente.
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Além de ensinar esta técnica aos seus filhos, pratique-a junto com eles. Quando estiver em uma loja e observar algo interessante, comente com eles: “Será que vale a pena mesmo comprarmos? Vamos dar uma volta enquanto pensamos” e liste os prós e contras que lembrar. Dessa forma, ele vivencia uma tomada de decisão na prática e vai aprendendo. Importante lembrar que o cérebro das crianças ainda está em desenvolvimento, então nos pequenos, essa integração entre os Sistemas 1 e 2 não acontece da mesma forma que nos adultos.
Defina algumas regras
Já em relação aos pedidos das crianças, vale estabelecer tetos – cada família estipula o ideal conforme sua realidade, mas vou dar alguns exemplos. Comprar no máximo dois pacotes de biscoito na próxima ida ao mercado (e deixe que ela escolha entre algumas opções); pedir apenas um presente nas datas comemorativas, como aniversário, Natal e dia das crianças; gastar no máximo R$ 30 neste passeio.
Aqui em casa, sempre que meus filhos pedem um brinquedo fora de datas especiais, eu comento sobre os que eles já têm e não são muito “brincados”. Assim, vamos lembrando de quando nos divertimos jogando algo, valoriza o que já temos e os faz perceber que eles estão desejando reviver aquela experiência e não de fato comprar um novo item.
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Outra técnica eficiente é responder a três perguntas: Realmente quero este objeto ou apenas chamou minha atenção? Preciso mesmo disso ou consigo resolver de outra forma? Posso comprar agora ou seria mais prudente aguardar um mês? Com as crianças pequenas, é preciso ajudar com as respostas, pois ainda não têm maturidade suficiente. Por exemplo: “Filho, acho que você não quer um tênis novo, apenas encontrou o modelo que seu amigo usa; neste momento, você não precisa de um novo par, pois já tem outros dois para a escola e para passear; logo seu pé vai crescer e aí voltamos nesta loja para comprá-lo”.
Faça trocas inteligentes
Mas tem horas que eles querem mesmo é comprar qualquer coisa. Se for o caso e for possível, uma alternativa é combinar de escolher um livro, em vez de um brinquedo, jogo ou guloseimas – além de ser mais barato, ainda é educativo. Há outras trocas possíveis: em vez de um jogo, material de papelaria, para construir algo com sucata, cola, tinta, etc. Ou em vez de doces, comprem ingredientes para preparar um bolo juntos em casa.
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Associe as decisões de consumo com os seus valores: “Filho, se quiser uma camisa nova do seu time, tudo bem, mas brinquedo de arma não vou comprar, pois não gosto de armas nem de brincadeira”. Assim, ele verá que nem tudo vale ser consumido, pois depende dos valores pessoais. É importante entender que o dinheiro não é o fim e sim o meio para alcançar algo importante para si.
Porém, se o único motivo para não comprar algo que a criança pediu for mesmo a falta de dinheiro, você não precisa detalhar valores. Mas pode comentar que neste momento, o valor que tem já está destinado a outras prioridades, como mercado ou conta de luz. E assim que tiver uma folga no orçamento, você avisa para comprarem o que ele pediu.
Caso você tenha outras dicas ou sugestões de como evitar o consumismo na infância, mande para mim: annaluisa@invistasemmedo.com.
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