Já falamos bastante desse assunto aqui: endometriose. Mas porque é um tema que gera muitas dúvidas e vale sempre trazer informação de qualidade para vocês. E como é saúde, sabemos que a medicina vem avançando e uma doença que às vezes era crítica no passado, não é tão crítica atualmente. Então, vamos entender como é a endometriose nos dias de hoje?
Endometriose nos dias de hoje
O movimento conhecido como março amarelo marca o mês dedicado a conscientização sobre a Endometriose que é caracterizada pela presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina. Esse tecido é aquele que se prepara todos os meses para receber o embrião, e, quando isso não ocorre, ele se desestabiliza e descama. Tal fenômeno é popularmente conhecido como menstruação.
Nessa doença, o endométrio, consegue se implantar e se desenvolver em outros locais do corpo, como por exemplo nos ligamentos uterinos, na pelve, no peritônio, nos ovários e, eventualmente até em órgãos extra-abdominais, como pulmão e pleura. Várias teorias existem sobre como esses implantes endometriais se formam: a partir de um fenômeno chamado menstruação retrógrada, outra diz sobre a metaplasia de tecidos celômicos em endométrio, uma terceira diz que há uma propensão imunológica para a formação desses focos, mas, a verdade é que até hoje não sabemos exatamente porque a endometriose ocorre em algumas mulheres e em outras não.
A presença de focos de endométrio fora da cavidade uterina determina uma reação inflamatória importante que frequentemente evolui com fibrose. Tal fato determina a formação de tecido cicatricial com aderências que muitas vezes distorcem a anatomia da pelve feminina. A inflamação, associada as alterações anatômicas provocadas pela endometriose são responsáveis por seus principais sintomas: dor menstrual e infertilidade.
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Atualmente, estima-se que aproximadamente 15% das mulheres que estão com dificuldades para engravidar sejam portadoras de endometriose. Se pesquisarmos a doença em pacientes que possuem sintomas de dismenorréia, principalmente do tipo progressiva, até 40-50% das mulheres podem ter confirmada a doença. Infelizmente, o diagnóstico da endometriose ainda é feito com muito atraso. De acordo com alguns trabalhos, em média leva-se 4 a 8 anos para se confirmar esse diagnóstico a partir do início dos sintomas. Essa demora é inaceitável e pode agravar o quadro, dificultando o controle da dor e muitas vezes aumentando as chances de infertilidade.
Dito isso, há um ponto que não podemos esquecer de ressaltar sobre a endometriose: ela é uma doença benigna, mas, possui um comportamento progressivo ao longo do tempo. Essa característica evolutiva das lesões endometrióticas mostra como é importante o diagnóstico precoce e o início adequado do tratamento. Além disso, há frequentemente a recorrência de lesões mesmo após a retirada cirúrgica delas. Por isso, cada caso deve ser bem discutido e planejado quanto a sua eventual necessidade de cirurgia
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Nas pacientes que não desejam gestar ainda, o tratamento da doença deve levar em consideração o controle da dor e o bloqueio hormonal para tentar diminuir o avanço das lesões. Nesses casos, em linhas gerais, a abordagem cirúrgica somente é considerada quando estamos diante de lesões endometrióticas mais extensas, ou que acometam estruturas nobres, como por exemplo intestino, ureter, raízes nervosas, e em pacientes que mesmo com a medicação otimizada não consigam apresentar um controle álgico adequado.
Já nas pacientes que desejam engravidar e não conseguem, a abordagem é mais individualizada, devendo levar em consideração extensão da doença, presença de sintomas álgicos, idade da paciente e tempo de infertilidade. Os tratamentos de supressão hormonal não são indicados para esse grupo de pacientes pois são incompatíveis com uma gestação, logo, nesses pacientes há sempre que considerar tratamentos de fertilização in vitro ou cirurgia seguida por tentativas de coito programado ou inseminação intra-uterina.
Concluindo, a endometriose é uma patologia cada vez mais incidente nas mulheres. Seu diagnóstico deve ser sempre ser suspeitado em mulheres com história de desconforto e cólicas menstruais, principalmente do tipo progressiva. O diagnóstico precoce permite o tratamento adequado e facilita muito no controle a longo prazo da doença. Embora não tenha cura, é possível controlar a endometriose.