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Educação financeira: e agora, como explico?

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Educação financeira não é um assunto tão simples de abordar com as crianças. E é na infância que já são embutidas muitas crenças limitantes em relação ao dinheiro. Então, como ensinar educação financeira sem prejudicar a ligação da criança com o dinheiro no futuro?

No post de hoje, nossa colunista, a economista Andreia, mãe do Felipe e do Thomás, ensina como a gente deve explicar às crianças sobre dinheiro para que elas tenham uma relação saudável com ele.

Educação financeira: e agora, como explico?

Quando começamos a estudar educação financeira infantil ouvimos muito: não diga a ele coisas que possam prejudicar a sua relação com o dinheiro na fase adulta. Lição que parece simples, até que:

“Mãeeeeee, não quero que você viaje a trabalho, fica comigo! Não vou mais pedir presentes, você não precisa trabalhar, quero você!”

E agora? O que fazer? Como explicar se, desde a nossa infância ouvíamos: “vou trabalhar para poder comprar o que você me pede!” e temos o instinto natural de copiar esta frase e replicar para os nossos filhos?

Esta dúvida foi de uma leitora do Macetes de Mãe: como explico que preciso viajar a trabalho e ficar dias longe?

E, com certeza, é uma dúvida que vira e mexe bate em uma de nós quando o filho começa a chorar e pedir para que fiquemos em casa. E sim, nós, porque eu também, mesmo sendo educadora financeira, sofro ao deixar meus filhos em casa, chorando, sabendo que, muitas vezes, sim, estamos indo pelo dinheiro…

Mas, se dissermos que tudo é apenas pelo dinheiro qual será a ligação que talvez ele/ela fará no futuro quando pensar em trabalho? Serão estas abaixo?

  • Trabalhar traz dinheiro, mas ficamos longe de quem amamos!
  • Ganhar presente acaba com a tristeza de estar longe. Logo, quando eu ficar triste, eu vou comprar! (olha o comprador se formando aí)
  • Trabalhar afasta a família
  • Dinheiro compra presentes, mas não traz felicidade, sempre que minha mãe saia eu ficava triste.
  • Dinheiro é ruim, logo, se ele vem através do trabalho, não vou me esforçar.

E, se não queremos correr o risco disto acontecer, o que fazer?

1. CONVERSE HONESTAMENTE COM A SUA CRIANÇA SOBRE O SEU TRABALHO E O PORQUÊ FAZ O QUE FAZ

Tenha esta conversa de coração aberto e com toda a disponibilidade para responder as perguntas mais capciosas que só eles sabem fazer.

Por exemplo: se viajar é uma constante na sua atividade (como é da leitora que enviou a dúvida), conte por que isto faz parte da atividade e de que forma você, mamãe, ajuda as pessoas com isto. Ao invés de reclamar ou dizer, mamãe vai por obrigação, conte o prazer que você sente, porque escolheu esta profissão e como isto ajuda você, os outros e as outras pessoas.

O que criança tem de sobra é empatia! Use este ponto a favor de vocês!

Aqui em casa meus filhos amam quando eu digo: eu sei que vocês querem ficar com a mamãe, mas agora preciso ajudar a amiga da mamãe a cuidar do dinheiro, combinado? Como eles amam ajudar, ficam orgulhosos da mamãe e me abraçam gostoso!

2. COMPARTILHE SENTIMENTOS

Conte seus medos e dores e que você também fica triste em ficar longe, mas que trabalhar é bom pelas razões X, Y e Z…

Permita com que a criança sinta que é importante você fazer o que faz, mas que isto não a torna menos importante, pelo contrário, ela é a razão por você não perder tempo e voltar correndo para casa.

3. TENHA UM PRÉ-COMBINADO

Criança gosta de segurança e rotina. Se for ficar muito tempo longe, anote em algum lugar, como serão os dias dela e o que acontecerá até você voltar. Vale até calendário colado na geladeira em uma folha de papel.

O importante é que ela saiba o que está acontecendo.

Se a criança ainda não souber ler, desenhe. Por aqui, desenhamos os dias (aqui mamãe irá voar, neste dia você vai para a escola com brinquedo, neste natação, aqui a vovó irá brincar com você e aqui a mamãe volta).

Se forem apenas algumas horas combine o horário no relógio (tenha sempre um relógio visível em casa para estes acordos) ou horários do dia, como por exemplo: “antes do sol dormir”.

Quando voltarei após eles dormirem eu combino o seguinte: vocês já estarão dormindo, então prometo que dou um beijo em cada um assim que chegar, mesmo que vocês não acordem!”

Isto dá tranquilidade que estarei de volta e que eles não estarão sem mim e as coisas fluem melhor.

Agora, além disto tudo é importante dar um abraço gostoso e acolhedor, falar no ouvido que a mamãe ama muito, que sentirá saudade, que volta logo e lembrar de NUNCA:

  • Ameaçar: “se eu não for você ficará sem a festa, o presente, a comida, a escola”.
  • Jogar a culpa na criança: “eu não queria ir, mas estou sendo obrigada porque você precisa comer e eu preciso deste dinheiro”.
  • Reclamar junto e colocar a culpa no dinheiro: “também odeio isto, mas tenho que ir porque preciso do dinheiro” (lembra da crença de que o dinheiro é ruim?)
  • Ignorar o sentimento da criança: “para de chorar! Você sabe que eu tenho que ir, pare de birra”.

E, claro, lembrar que, dependendo de como você agiu sobre este assunto até hoje toda esta aplicação leva um tempo afinal, seu hábito pode ser “culpar o dinheiro” e, por isto, será necessário vigiar suas frases e gestos até que consigam, você e seu filho, entender o trabalho como algo que trás dinheiro mas também opções, futuro, possibilidades e não distanciamento da família, solidão ou “presentes para amenizar a separação causada pelo trabalho”.

Afinal, como nossos filhos serão astronautas, jogadores, médicos, professores, empreendedores, bombeiros ou qualquer outra coisa que imaginarem sem entender que o trabalho é bom e que o dinheiro que vem com ele trás junto a possibilidade de felicidade e realização?

Trabalhar é bom, ganhar dinheiro é ótimo e ter paz ao fazer estes dois é incrível.

Cabe a nós, neste momento, educarmos nossos filhos para olhar para si, para o trabalho e para o dinheiro como algo que vale a pena.

Pode dar um certo desconforto no começo, mas acredite, vale a pena! O abraço do seu filho orgulhoso do que você faz vale cada centavo que ganhará.

Se tiver dúvidas sobre este assunto ou sugestões de outros assuntos, mande mensagem para nós. Nossa missão aqui é ajudar você a desenvolver a consciência financeira do seu filho (e a sua) para que dinheiro não seja uma barreira para as realizações.

Super beijo e até a próxima!

Andreia Fernanda

Assista também no Canal MdM, esse vídeo sobre como ensinar os filhos a cuidarem do dinheiro:

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