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Dor de cabeça em crianças – quando se preocupar?

Quem é que nunca ouvi o filho reclamar de dor de cabeça? Depois que eles já conseguem identificar e explicar onde dói, muitas vezes, acabam reclamando desse tipo de desconforto. Aqui, Leo já reclamou algumas vezes, e como sei que isso não é tão incomum, achei bacana trazer para vocês algumas informações mais detalhadas sobre o problema.

Assim, o post de hoje foi escrito por quem entende do assunto, a Neurocirurgiã pediátrica Dra. Raquel Rodrigues Zorzi. Em seu texto, ela esclarece alguns pontos importantes: motivos de dor de cabeça em crianças, causas graves e o que fazer quando o problema aparecer.

Photo Credit: mynameisharsha via Compfight cc

Dor de cabeça em crianças – quando se preocupar?

Por Dra. Raquel Rodrigues Zorzi

Sabemos que entre adultos é frequente a queixa de dores de cabeça. Mas e quando é seu filho que queixa de dor de cabeça, o que fazer? Procurar um médico? Dar um remedinho? Esperar passar?

Em primeiro lugar, saiba que 85% das crianças entre 5 e 12 anos terão dor de cabeça ao menos uma vez na vida. Mas quais são as causas? Quando devemos nos preocupar? Pode ser uma doença grave? Será que meu filho só quer atenção? Pode ser enxaqueca? Vejamos o que é importante saber sobre esse assunto tão frequente no dia a dia do consultório de um neuro especialista em crianças.

Por que uma criança tem dor de cabeça?

São tantas causas possíveis que o diagnóstico precisa ser feito após analisar o contexto: alimentação, sono, capacidade de visão, entre outras situações. Portanto, sempre fique atento ao comportamento do seu filho, de modo que consiga relatá-lo corretamente ao médico na hora que for na consulta. Algumas das causas mais comuns e benignas são:

Ok, essas são as causas mais comuns… E se seu filho tem dor de cabeça, é bem possível que um ou mais fatores acima estejam relacionados a dor. Mas e quanto aquele temor que os pais tem de ser algo mais grave? E se for um tumor cerebral???

Causas graves de dor de cabeça…

Infelizmente as crianças também tem doenças graves. Nas crianças as três causas orgânicas que devem ser descartadas por serem um pouco mais frequentes que as demais são: a hidrocefalia (conhecida como excesso de “água” na cabeça), sangramentos (especialmente se tiver história de acidentes) e tumores cerebrais. Claro que estou excluindo aqui coisas mais comuns, como doenças infecciosas, já que até uma simples gripe ou sinusite podem fazer a cabeça doer também. Então, de uma forma geral, o alerta vai para você: quando eu preciso procurar um especialista para meu filho? Sempre que estiver presente pelo menos um dos “sinais de alerta”:

  1. Qualquer dor de cabeça de forte intensidade ou que seja constante e insistente – especial atenção se a dor de cabeça for mais intensa pela manhã logo que a criança acordar ou quando ela não alivia com os remedinhos comuns (tipo aqueles que o pediatra possa ter receitado, como dipirona, paracetamol, ibuprofeno).
  2. Quando a criança apresenta vômitos associado a dor de cabeça.
  3. Quando apresenta alguma alteração comportamental – sonolência, agitação, apatia, recusa a se alimentar.
  4. Quando a criança interrompe suas atividades e brincadeiras devido a dor.
  5. Quando associada a dor de cabeça temos algum sinal neurológico – tonturas, dormências, crises convulsivas, fraqueza de um lado do corpo, alterações na face ou no movimento dos olhos, etc.
  6. Se for bebê os sintomas podem ser mais difíceis de perceber porque eles não sabem explicar – podemos ver a “moleira” inchada, sonolência, irritabilidade, não quer se alimentar, apatia e convulsões, entre outros sintomas que mais dificilmente são percebidos pelos pais.

Nesses casos um neuro especialista deve avaliar a criança, examiná-la com atenção e decidir pela necessidade de solicitar exames como tomografia e ressonância para determinar o que está acontecendo. A dor de cabeça pode ser o primeiro sintoma de uma doença grave, como um tumor no cérebro, por isso ressalto que toda queixa deve ser observada mais de perto e valorizada. Não recomendo que se tente dar qualquer tipo de medicação para dor de cabeça em crianças sem a recomendação do médico, isso pode inclusive mascarar algo mais grave e retardar o diagnóstico. O melhor é observar o comportamento da criança e relatar tudo durante a consulta!

Mas pode ser que meu filho só esteja querendo atenção?

Bom, existe sim em alguns casos a situação em que a dor de cabeça pode ser motivada por um ganho secundário. Isso significa que a criança percebe que ganha mais atenção dos pais quando tem dor e geralmente, logo após receber atenção, já volta a se divertir e ficar melhor. Pode ocorrer por exemplo quando a criança ganha um novo irmãozinho e deixa de ser o centro das atenções. Mas cuidado! Até que provemos o contrário, dor de cabeça não é “manha” de criança. Mesmos nos casos em que essa é a suspeita, procure sempre um neuro especialista para orientá-los, não deixe de diagnosticar uma situação mais grave achando que é só “manha”.

E a enxaqueca em crianças???

Hoje sabemos que cerca de 8% a 10% das crianças com dor de cabeça entre 5 e 12 anos no país têm enxaqueca. Então muita atenção, pois essa também é uma situação grave. Não no sentido de gravidade como um tumor ou uma hidrocefalia, mas como as dores de cabeça da enxaqueca são mais intensas e podem ser crônicas, podem levar a um verdadeiro sofrimento para a criança! O diagnóstico de enxaqueca na criança é clínico, não necessita de nenhum exame geralmente, e é baseado a partir de uma série de perguntas que o médico faz ao paciente (ou seus pais), sobre seus sintomas. O critério oficial da Sociedade Internacional de Cefaléia para se estabelecer um possível diagnóstico de enxaqueca inclui certos pré-requisitos. Caso o seu filho tenha crises de dor de cabeça recorrentes, fique atento a outros sinais: se o incômodo surge mais em um dos lados da cabeça (direito ou esquerdo), com intensidade moderada a forte, e se vem acompanhado de enjoo e vômito. A enxaqueca costuma se manifestar também pela fotofobia (incômodo com a luz), fonofobia (desconforto diante de sons altos), é pulsátil (lateja) e piora com o esforço físico. Vale lembrar que o histórico familiar conta muito para o problema, já que ele é determinado por fatores genéticos. Procure logo um especialista pois as crianças costumam responder muito bem ao tratamento e isso previne que elas percam desempenho nas atividades escolares e fiquem afastadas de suas atividades.

 

Dra Raquel Rodrigues Zorzi, Neurocirurgiã pediátrica, CRM 142761

Site www.raquelzorzi.com.br

 

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