Depois das duas primeiras semanas, começaram as cólicas e a Carolina passou a chorar muito. Meu Deus, era desesperador, não sabíamos o que fazer! Ela se contorcia, ficava vermelha, esticava as perninhas e não havia o que fizéssemos para melhorar seu incômodo. Tenho os e-mails que mandei para o pediatra nessa época e o primeiro foi de 12 de fevereiro, ou seja, com menos de um mês do seu nascimento. Nessa fase, eu ainda não estava mal, mas me sentia impotente por não conseguir resolver as dores e, ao mesmo tempo, muito cansada por dormir pouco e me dedicar à ela e ao trabalho.
Mais alguns dias se passaram, o cansaço virou stress e passei a não ter leite no final do dia. Tivemos que entrar com o complemento, o que me deixou chateada, mas não tivemos outra alternativa imediata. Nessa época, eu já me sentia esgotada, chorava muito e passei a ter a sensação de que não daria conta. “Não é possível que ter um filho é isso, não pode ser tão desgastante!” pensava eu. Meu sentimento era de que nunca mais conseguiria fazer mais nada na vida. Minha organização tinha sumido, não tinha mais vontades, queria minha vida sem filhos de volta! Não era exatamente um arrependimento, pois eu queria muito cuidar da Carolina, mas, ao mesmo tempo, queria fugir de tudo e voltar ao que era antes. Cheguei a tomar medicamento para ajudar na produção de leite, que supostamente também ajudaria a melhorar meu ânimo, mas não fez nem cócegas.
Sair da cama de manhã era um esforço imenso. Via meu marido levantando e se arrumando para começar o dia e tudo que eu pensava era que queria dormir mais, ficar deitada o dia inteiro, sem ter nenhuma obrigação. Não queria sair de casa, fazer as unhas, lavar o cabelo, nada. O que fazia era porque me “forçavam” a fazer. Praticamente me “arrastavam” para fora, para espairecer, desfocar um pouco dos cuidados com a Carol. Cheguei a ficar quase duas semanas sem por o pé na calçada, sem ver a cara da vizinhança.
Além disso, tudo que acontecia com a Carolina passou a ser motivo de pânico, de achar que algo estava muito errado. No dia 27 de fevereiro, além do choro que não diminuía, pelo fato do seu sono ter mudado um pouco de “padrão”, redigi um email para o pediatra que meu marido precisou cortar pela metade. Era praticamente um tratado, um pedido de ajuda desesperado, de alguém que claramente não estava em seu estado normal. Eu achava que se a Carolina parasse de chorar, eu ficaria bem e minha vida voltaria ao que era. Então procurava uma fórmula mágica, um remédio que tirasse as cólicas, qualquer coisa que pudesse me dar um pouco de “paz”.
Lembro que o feriado de Carnaval foi o pior do período. Foi no comecinho de março e eu contava a passagem dos dias por turnos: “Passou a manhã de sábado, agora é só a tarde e a noite!”, “Passou a tarde, agora é só a noite!”, “Já é noite, agora faltam só 4 dias!”. Foi horrível! Nesse cenário, dei o braço a torcer e disse para o marido que precisaria da ajuda da mãe dele. Sempre achei que conseguiria dar conta sozinha das coisas – e, talvez, se estivesse bem, teria dado – mas eu simplesmente não conseguia mais. Não tinha mais forças.
Minha sogra e cunhada passaram a vir diariamente para casa, o que permitiu que eu descansasse um pouco, mas não foi o suficiente para eu melhorar. Eu chorava de soluçar em momentos específicos do dia e me sentia mal por “não ter motivo” aparente para isso. Minha filha era saudável, meu marido me ajudava com tudo e tinha apoio com a Carol e a casa.
Eu estava perdida, sem entender aquele sentimento, um antagonismo de vontades, de querer cuidar e proteger a Carolina, ao mesmo tempo em que queria fugir do mundo. Meu pai me dizia que dependia de mim me animar. O marido não entendia o porquê do meu estado e minhas amigas tentavam me confortar com suas experiências de mãe. Minha sogra, na verdade, foi a primeira pessoa a desconfiar da depressão e o ápice da doença foi numa sexta-feira, acho que dia 4 de abril.
Meu marido teve aula de tênis no almoço e insistiu que eu o acompanhasse com a Carolina para dar uma volta pelo clube, sair um pouco. Fomos, mas me sentia muito “mole”, como se estivesse com pressão baixa. Ele conversava comigo pelo caminho, mas eu só conseguia responder “sim” ou “não”. Voltamos para a casa, minha sogra chegou e eu dormi por 2 horas seguidas, mas levantei com a mesma sensação ruim. Me joguei literalmente no sofá e minha sogra se assustou: “Leva a Fabiana para o hospital porque ela deve estar com pressão baixa ou crise de stress.”. Eu mal percebia o que acontecia ao meu redor. Já tinha emagrecido muito, não tinha fome, não comia praticamente nada. Cheguei nos 53kg, peso de quando casei há 10 anos atrás.
No hospital, fui examinada, mas nenhuma alteração física foi identificada. Minha pressão estava ótima, não tinha dores, tudo normal. Sabendo do histórico do parto, o médico me orientou a procurar um psiquiatra. Liguei imediatamente para minha obstetra que foi muito categórica: “Só você sabe o quanto está mal. Procure o psiquiatra e o que ele disser para fazer, você faça, nem que tenha que parar com a amamentação. Você tem que estar bem para cuidar da sua filha.”.
Consegui consulta na segunda-feira seguinte e comecei a tomar um antidepressivo no mesmo dia. Não precisei parar com a amamentação, nem ter nenhum cuidado específico com a medicação. Em 7 dias eu estava melhor, tinha voltado a ser a Fabiana de antes, como se nada tivesse acontecido. Era outra mulher, outra mãe. Até a forma de segurar a Carolina nos braços ficou mais firme, mais confiante. Deixei de precisar da ajuda diária da minha sogra e passei a encarar a maternidade de uma forma totalmente diferente. Coincidentemente, a Carolina parou de chorar. Todos dizem que o bebê reflete o estado de espírito da mãe, mas eu nunca dei muito crédito. Não sei se foram as cólicas que passaram na mesma época, mas passei a encarar esse ditado de uma forma muito diferente.
Eu nunca tinha tido depressão, o que retardou nossa percepção da doença e busca por ajuda. Teria sido muito mais fácil e tranquilo se tivesse procurado auxílio médico especializado desde o início.
A depressão pós-parto é muito séria, mas é física e tratável! Por isso, não me inibo em contar o que passei, principalmente com quem acabou de ter bebê, pois sei o quão horrível e difícil é experimentar esse sentimento. Hoje, depois de 2 anos, estou super bem, feliz da vida e satisfeita como mãe!
Espero que este post possa ajudar outras mães que estejam passando pelo que passei e que precisam de atenção e cuidados, como eu precisei.
Fabiana Bellentani, autora do blog For Mammies.
Assista ao vídeo no qual eu falo sobre a minha depressão pós-parto:
Assista também, esse vídeo no Canal MdM, sobre esgotamento materno: