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Depressão pós-parto (relato da leitora)

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Há poucos dias, publiquei o relato sobre a depressão pós-parto que tive após o nascimento do Caê. Nesse post, comentei que traria outros depoimentos, que daria voz a outras mães, como forma de chamar atenção para esse problema que atinge tantas mulheres, é bastante perigoso e ainda é visto com tanto preconceito.
Hoje, trago o relato da Juliana, Mãe de duas crianças e que vive em Portugal. Sua história é parecida com a de muitas outras mães que vivem o problema da depressão pós-parto e que sofrem com essa doença tão triste.
Espero que o relato da Juliana sirva para ajudar outras mulheres. Boa leitura!
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Photo Credit: Almost brilliant via Compfight cc
Meu relato de depressão pós parto
Olá, sou a Juliana e moro em Portugal. A minha família toda está no Brasil. Aqui somente tenho os meus sogros, o meu cunhado e sua esposa e os amigos do meu marido (poucos, mas fieis).
Tenho 2 filhos, uma princesa linda de 5 anos e um menino lindo de 9 meses. Na minha primeira gravidez, tive alguns dos sintomas que tive agora, e hoje com mais conhecimento e mais maturidade para assumir, sei que já venho de uma depressão pós parto desde a primeira gravidez, só não tive coragem de assumir para mim mesma antes.
Eu sempre quis ter o segundo filho e decidimos tê-lo depois que minha princesa, com 4 anos, começou a ver os amigos com irmãos e a pedir muito um “mano” (ela sempre quis um menino). E aí, Deus ouviu as preces dela e enviou-lhe um maninho.
A minha filha ficou muito feliz com a notícia da gravidez, mas já no fim da gestação, sentia-se mais carente. Ela, que já dormia no quarto dela, regrediu e passou a querer dormir na nossa cama. Só queria saber de mim e de mais ninguém. Eu já estava muito cansada, já não conseguia dormir direito e já não tinha mais tanta disposição para sentar, brincar com ela e dar a atenção que ela queria.
Preparei tudo para a chegada do Samuel sempre pensando na minha filha mais velha, a Lana. Sempre tentando fazer tudo para que ela não tivesse ciúmes e o recebesse bem. Cheguei a comprar um bichinho de pelúcia para dizer que foi o mano que trouxe para ela, junto com um ovo de Páscoa, já que ele nasceu em Abril.
Quando enfim ele nasceu, nas duas noites que passei no hospital, ela chorou e sentiu muito a minha falta No entanto, quando o viu pela primeira vez, ficou encantada, seus olhos brilhavam e foi amor à primeira vista.
No retorno à casa, da maternidade, a sua primeira reação foi correr e buscar brinquedos e, em seguida, dizer “mano vem brincar comigo!” (afinal, era por isto que ela queria tanto um mano. Risos!), Mas o seu olhar de desilusão se formou quando eu e o meu marido lhe dissemos que o mano ainda não sabia brincar, quer era muito pequenino. Nessa hora, ela disse: “oh mãe, vamos devolver o mano”.
Desde então, começou o ciúmes dela para comigo. Tratava muito bem o irmão, mas comigo tinha reações de ciúmes e dizia constantemente: “não me ama, não brinca comigo, nunca me chama de meu amor, só falas em bebês…”, dentre outras coisas.
E eu não tinha paciência para os ciúmes da minha filha. Eu comecei a tratá-la com indiferença e não tinha nenhuma paciência com ela. O meu marido dava-lhe atenção por mim e por ele. Ele substitui-me enquanto mãe e até brincou de bonecas com ela. E apesar dele compreender que o momento que eu estava passando não era fácil, muitas vezes, chamava a minha atenção carinhosamente, dizendo para eu dar mais atenção e carinho à Lana. Mas eu estava tão exausta que por mais que me esforçasse, eu não conseguia, e passei a me sentir muito mal por não ser capaz. Sentia que não era uma boa mãe para a minha filha. Eu a via sofrer e me sentia tão culpada, as palavras dela entravam pelo meu coração adentro, como se estivessem me enfiando uma faca.
Mas ela era apenas uma criança. Só queria a minha a atenção. Então, a minha filha começou a sentir que eu estava vulnerável e, para chamar a minha atenção, começou a fazer birras enormes. Começou a ser agressiva e a dizer coisas como “você é má!”. A reação dela me afetou muito, porque eu estava tão deprimida que não era capaz de separar as coisas, de compreender que ela só estava reagindo assim devido ao meu próprio comportamento.
Um dia, resolvi que não a levaria para a escola. Era o dia que ficaríamos juntas com o bebê. Eu iria brincar com ela, passaríamos um dia feliz de mãe e filhos. Mas este dia foi um terror. Ela fez birra, partiu para me bater, e eu, para não lhe bater, soquei o colchão. Dei murros e gritei para desabafar. Ela ficou assustada. Encolheu-se num canto com medo. E eu liguei para o meu marido, que tinha ido a uma reunião de trabalho em outra cidade, em Lisboa, a 2 horas de viagem. Eu só chorava e  até passou pela minha cabeça em me jogar pela varanda. Pensei em desistir, pois eu tinha falhado. Meu marido pediu calma e voltou para casa desesperado, com medo que eu realmente colocasse em prática o que estava pensando. Mas eu olhei para os meus filhos, pensei no bebê que tinha acabado de colocar no mundo, e resolvi não tomar nenhuma atitude drástica. Eu estava com tanta raiva de mim, da situação, e até com raiva da pressão que a minha filha estava fazendo. Eu estava cega. Liguei para uma amiga, conversei e ela acalmou-me.
Quando o meu marido chegou, ele me abraçou e chorou ao dizer que precisávamos de ajuda, que não tinha nada de mal em assumir isto. No dia seguinte, fomos à nossa médica de família que, ao ouvir tudo o que eu sentia, não conseguiu resistir e também chorou. Ela conversou comigo, me apoiou, passou uma medicação que não interferia na amamentação e começamos o tratamento.
A verdade é que eu tinha muitos sintomas de depressão pós-parto: eu estava triste, estava me sentindo incapaz, havia perdido a libido, tinha compulsão por limpeza e organização e tudo era motivo para me irritar. Eu não queria receber visitas em casa, eu não queria sair. Eu passei a ficar agressiva com todo mundo porque achava que os comentários não eram para me ajudar e sim para me deitar pra baixo.
Com a medicação, comecei a ficar mais calma e mais serena. Passei a olhar para trás e ver que, se tivesse pedido ajuda antes, poderia ter evitado muitas coisas. Hoje, a minha filha está sendo acompanhada por um psicólogo porque não consegue lidar com os seus sentimentos, não conseguia lidar com as suas frustrações.
Eu também já me sinto melhor, mas a minha filha ainda sofre as consequências de eu não ter procurado ajuda antes. Mas eu tinha vergonha, tinha medo que as pessoas me vissem como louca.
Assim que melhorei, eu compreendi que o melhor remédio para as birras era um abraço, era amor. A minha filha agora está aprendendo a lidar com as suas frustrações e as birras diminuíram consideravelmente desde que comecei a tomar a medicação e a lhe dar mais atenção, mais abraços, mais amor.
Eu me arrependo de não ter procurado ajuda mais cedo. Eu ainda me sinto culpada de olhar para trás e ver que esta doença causou danos psicológicos na pessoa que amo mais do que a mim própria, a minha filha.
Só quem vive esta doença sabe como é. Não desejo que outras mães passem pelo mesmo que passe e, para aquelas que tem depressão pós parto eu desejo que tenham força e coragem para assumir o problema e pedir ajuda.
Assista ao vídeo no qual eu falo sobre a minha depressão pós-parto:

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