Macetes de Mãe

Amamentar, uma questão muito delicada!

Há um tempo atrás, eu fiz um post falando sobre a dificuldade de amamentar que muitas mães, inclusive eu, enfrentam ou enfrentaram. Esse post gerou diversos comentários. Muitas leitoras contando suas histórias, dividindo suas dores e dilemas. Pois um dos comentários, vindo de uma leitora muito querida, a Tatiana Cali, me chamou especial atenção. Nesse comentário, a Tatiana dividiu comigo e com outras leitoras, um pouco da sua história. Ela contou que, apesar de ter estudado para preparar outras mães para a difícil tarefa de amamentar (ela é médica), não conseguiu, ela mesma, com seu primeiro filho, colocar em prática tudo que havia aprendido, planejado e sonhado.
 
Depois desse interessante depoimento, eu convidei a Tatiana para contar com mais detalhes tudo que ela viveu e tudo que aprendeu. E ela aprendeu bem! Sua segunda filha, hoje com um ano e meio, ainda mama no peito e a própria Tatiana, tamanho o sucesso da sua segunda experiência, foi doadora de leite para um conhecido banco de leite do Rio de Janeiro.
 
Com vocês, um pouco da história e do aprendizado da Tatiana. Espero que o conhecimento dela seja útil para todas vocês. 
Quando a Shirley me convidou para colocar no papel a minha experiência com a amamentação, muita coisa passou pela minha cabeça. Era tanto o que eu tinha para dizer que não sabia bem por onde começar. Então, me coloquei em frente ao computador e deixei o coração falar.

Antes de eu engravidar do meu primeiro filho, que hoje está com 5 anos e meio, fiz um curso para profissionais de saúde sobre amamentação. Neste curso, aprendi diversas técnicas para se ter sucesso nessa tarefa: como relaxar, como segurar o bebê, a pega correta, o que fazer para evitar as complicações, e por aí afora. Aprendi, na teoria, tudinho que precisava  para orientar mamães com problemas e mesmo para ter sucesso na amamentação do meu filho. Certo? ERRADO! Eu fiz absolutamente tudo certinho, como me orientaram, mas na minha vez, deu errado. Com 24h de amamentação meus mamilos estavam destruídos. O desespero era tanto que, mesmo sabendo que não deveria, se me mandassem colocar casca de fruta, pomadas ou mesmo “plantar bananeiras” eu seria capaz de fazer! Neste momento, eu entendi, mais do que isso, eu senti na pele, literalmente, porque há tantas campanhas em favor da amamentação: PORQUE É MUITO DIFÍCIL, MESMO!!!

Como já passei por esse problema, mesmo tendo me preparado para enfrentar as adversidade, sinto que posso compartilhar com vocês algumas dicas preciosas, que irão ajudá-las nesse momento tão delicado quanto importante. Primeiro irei repassar algumas informações sobre a preparação para a amamentação (O ANTES) e depois entrarei na questão da amamentação em si (O DURANTE).

O ANTES
Então, como se preparar para amamentação?!

1. Primeiramente, é importante que se saiba que o preparo para a amamentação começa no pré-natal. É necessário que o obstetra faça um exame nas mamas para diagnosticar alterações anatômicas que podem vir a dificultar a amamentação. Algumas mulheres possuem o que chamamos mamilos planos, ou seja, o biquinho do peito é reto, não faz relevo. Esta é uma das principais causas evitáveis de dificuldade para amamentar. Há “exercícios” que podem ser feitos para que o bico seja formado. Este é apenas um exemplo e todas devem conversar com seus obstetras para saberem se há alguma coisa que possa ser corrigida e como isso pode ser feito. CONVERSE COM SEU OBSTETRA SOBRE AMAMENTAÇÃO! Este é o primeiro recadinho.

2. Além de esgotar o assunto com seu obstetra, você também deve colocar as mamas ao sol. Isso mesmo, todas devem fazer “top less”. Mas calma! Você não vai precisar se expor para ninguém. Procure um lugar reservado em sua casa e tome, diariamente, alguns minutos de sol. O sol, todas devem saber, é o maior aliado da amamentação. Na gestação, ele ajuda a engrossar a pele dos mamilos e faz com que fiquem mais resistentes. E cuidado! NÃO use cremes ou pomadas, pois elas têm ação oposta a do sol. Elas vão hidratar os mamilos, fazendo com que fiquem mais finos e sensíveis. E agora uma dica para quem mora em regiões mais frias e com pouco sol: este pode ser substituído por uma lâmpada, daquelas antigas, incandescentes (amarelas), de 60W. Mas cuidado para não se queimar!

3. Outro mito que na prática não funciona (pelo contrário, pode inclusive atrapalhar) é o uso de buchas vegetais. O esfrega-esfrega delas no bico do peito, que ainda é erroneamente indicado por alguns obstetras, só serve para machucar os mamilos e não ajuda em nada. Então, aqui voltamos à dica do sol.

4. Também durante a gestação, não se deve apertar o peito para ver se o leite já veio. Isso pode machucar, além de estimular a liberação de um hormônio que pode desencadear o trabalho de parto antes do tempo. E também não pode “futucar” aquelas bolinhas brancas da aréola (parte escura da mama). Deixe-as quietas, por favor. Mexer pode criar uma porta de entrada para bactérias e causar infecção.
O DURANTE:

1. Quando chega o momento de amamentar, uma problema que não é tão raro de ocorrer é a demora em o leite descer. Ele pode demorar até uma semana ou mais para realmente vir. Se isso acontecer com você, peça ajuda ao seu pediatra e siga dando o peito, mesmo que sem leite, para estimular a sua descida.

2. Na mão inversa, o leite quando vem, pode vir em excesso. Isso é muito comum e pode ocorrer até o organismo se acostumar com a quantidade necessária para o seu filhote. Quando isso acontecer, é imprescindível que você tire o excesso. OU seja, quando o seu bebê acabar de mamar, e você perceber que ainda tem leite, massageie as mamas e tire o que sobrou. E não se preocupe, pois não vai faltar para a próxima mamada. Entretanto, se ficar acumulado, pode levar a uma mastite, que é uma infecção muito chata de ser tratada e que pode se tornar grave.

3. Quando for dar de mamar para o bebê, procure um local calmo, sem muito barulho. Lembre que este é um momento muito particular e de conhecimento mútuo, e que qualquer coisa que faça o bebê se distrair pode dificultar o processo. Se for preciso, peça licença às visitas e mude de ambiente. Aqui vale uma observação: visitas para bebês com menos de 2 meses são como de médico, curtinhas, pois a família precisa de privacidade nesta fase.

4. Quando já estiverem no ambiente de vocês, procure uma posição confortável. Apoie as costas, as pernas e, se desejar, os braços. Olhe-se no espelho neste momento e verifique se você realmente está relaxada. Ombros contraídos e levantados causam dor nas costas e de cabeça, então tente relaxá-los. Para estimular que o bebê abra a boca, toque os lábios dele com o bico do peito. Quando o bebê abrir bem a boca, faça com que ele(a) abocanhe toda ou boa parte da aréola, que é a parte mais escura da mama. E não precisa se preocupar, pois o bebê não irá se afogar. Se ele(a) pegar só o biquinho não conseguirá tirar o leite de maneira eficaz e também ajudará a formar as rachaduras. Verifique também se os lábios do bebê estão voltados para fora e se as bochechas estão bem redondinhas. Esta é a pega correta:
5. É muito comum que os problemas apareçam nos primeiros dias. Na maioria dos casos, corrigir a “pega” resolve o problema. Mas e quando não resolve? Bom, embora o pessoal que trabalhe com amamentação contra-indique, eu usei com meu filho mais velho o famoso bico de silicone, que serve justamente para proteger o mamilo das “agressões” causadas pela sucção. Na verdade, eles estão certos de contra-indicarem, pois o bebê engole mais ar, causando assim mais cólicas, e também não tem como esterilizá-los quando se está fora de casa (por conta disso, eu cheguei a ter quatro pares!), mas eu arrisquei e deu super certo.

6. Outra dica para casos de mamilos machucados é uso de pomadas à base de Lanolina (Lansinoh, Lanidrat, Matercare). Estas pomadas formam como um filme protetor e ajudam na cicatrização, além de não precisarem ser retiradas na hora da amamentação. Mas disso tudo, novamente, o mais importante é o SOL. Ele evita infecção por fungos e ajuda a cicatrizar.

7. Outro erro comum é o uso dos absorventes para serem colocados nos soutiens. Eles impedem a respiracao da pele, aumentam  a umidade e assim agravam as rachaduras e as infeccoes nos mamilos. Muito melhor que essa opção é o uso de conchas próprias para coletar o leite em excesso. Mas atenção: de todas disponíveis no mercado, as melhores são as de base rigida. Os modelos flexíveis permitem que o bico do peito encoste na “parece” da concha, o que não é bom. Além disso, elas não cumprem a função de deixar sair o leite que há em excesso.
 
8. E como não poderia deixar de ser, a última e importantíssima dica: passar o próprio leite no peito após cada mamada. Funciona que é uma beleza, pois ele faz as vezes de um antibiótico natural . Isso mesmo, nosso leite é muito poderoso!!!

Bom, espero ter contribuído para que as dificuldades da amamentação sejam minimizadas!

Gostaria, ainda, de recomendar o site da Rede Brasileira de Bancos de Leite. Lá vocês encontram dicas simples sobre amamentação e a lista dos Bancos de Leite existentes em  todo o Brasil. Aqui no Rio, há o famoso (e excelente!) Banco de Leite do Instituto Fernandes Figueiras, no Flamengo. Lá além de receberem doações de leite, eles fazem um lindo trabalho de orientação às futuras mamães e ajudam aquelas que apresentam alguma dificuldade para amamentar. Embora seja um serviço público, o que pode gerar algum preconceito, é de primeiro mundo. São eles que treinam e implantam os Bancos de Leite Humano por todo o nosso País e em diversos países pelo mundo afora.
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