Hoje, aqui no blog, mais um ótimo texto da psicóloga Raquel Suertegaray para a coluna Psicologia Infanti.. E o tema abordado dessa vez é agressividade infantil: por que ela ocorre, em que fase é mais comum acontecer e como lidar adequadamente com ela. Confiram e aproveitem as ótimas dicas. Boa leitura!
Agressividade infantil
Por Raquel Suertegaray
Olá mamães, hoje vou abordar um tema polêmico, a agressividade das crianças. Este é um assunto que costuma assustar os adultos, pois temos ainda uma tendência, que se origina da imagem angelical atribuída a crianças no passado, de imaginar que a criança é pura e por isto, destituída de agressividade.
No entanto, não é preciso olhos treinado para perceber que esta é uma imagem irreal, que não ajuda em nada às crianças a lidarem com seus monstros internos.
Existem diversas linhas que explicam a agressividade humana e cada uma tem suas teorias sobra a origem da mesma, porém, hoje é ponto pacífico que ela está presente desde o início da vida e algumas linhas de pensamento atribuem a ela a força que nos faz vencer os obstáculos e viver.
Acredito que o bebe precisa encontrar no seu entorno um ambiente capaz de ajudá-lo a lidar com seus momentos de raiva como algo natural, que pode ser canalizado de forma construtiva e isto é papel dos pais e da escola quando ela entra na jogada.
É a agressividade, por exemplo, que faz o bebe lutar para sugar o peito com vigor e mamar. Este ato pode ser interpretado como uma agressão pela mãe, que tem muitas vezes seu peito machucado ou pode ser interpretado como ímpeto de viver.
O amor e o ódio são sentimentos experimentados desde muito cedo e nós, ao longo de nossas vidas, precisamos aprender a lidar com eles, são aprendizagens que iniciam na infância e devem ser mediadas pelos adultos.
É fundamental entendermos que amar e odiar não passam pelo crivo do certo e errado, pois são da ordem dos sentimentos e estes são incontroláveis, apenas é possível controlar o que fazemos a partir do que sentimos – e as crianças ainda não sabem fazer isto.
É papel dos pais e da escola ajudar a criança a se organizar diante do que sente e , assim, as mordidas, os empurrões, os tapas e tudo que anda junto com isto fazem parte do processo e são um bom começo para a criança começar a lidar com a sua raiva e agressividade.
As crianças pequenas possuem um vocabulário primitivo e pouca habilidade para articular as palavras e descrever o que sentem, por esta razão, tendem a usar o corpo como primeiro recurso na hora de resolver conflitos. Portanto, é normal que briguem ou mordam outras crianças quando querem resolver alguma coisa.
Porém, o fato de ser normal que isto aconteça não significa que deva ser permitido, pelo contrário, estas atitudes devem ser reprimidas, ao mesmo tempo em que se deve oferecer alternativas de resolução e a criança deve ser estimulada a se colocar no lugar do outro.
Este é outro ponto importante de compreendermos. A criança não consegue compreender que o que sente é o mesmo que o outro sente ou colocar-se no lugar do outro. Isto é uma habilidade que conquistamos à medida que nos relacionamos. Então, revidar não é uma forma de ensinar, pois a criança não entenderá que a dor que ela sente é a mesma que o outro sente. Ela não aprenderá nada, apenas se sentirá humilhada ou ficará com raiva, sem alternativas mais maduras para lidar com o que sente e, além do mais, agindo como ela, estaremos validando a atitude de agredir diante do que nos contraria.
No início da vida o mundo passa pela boca. É através dela que o bebe se alimenta e cura o desconforto interno da fome e também é por ela que ele explora todos os objetos e seu próprio corpo e isto não é novidade para nenhuma de nós, não é mesmo? Tudo que cai nas mãos dos bebes vai à boca!
Agora, deve ficar mais fácil compreender porque a mordida que nos deixa tão condoídas ou envergonhadas, dependendo de que lado dos dentes estamos, é um recurso tão comum nos berçários e maternais (ela costuma acontecer entre crianças de 1 e 3 anos).
A mordida é uma forma da criança expressar que não gostou de alguma coisa, mas também pode ser vista como manifestação de amor e, aliás, esta não é uma exclusividade das crianças. Afinal, quem não sente vontade de morder um bebê fofinho quando ele nos desperta um amor que não cabe em nós? (Observação importante: Acredito que cheguei em mais uma reflexão delicada, morder os bebes, por mais irresistível que seja é um desejo que deve ser controlado, pois ao darmos mordidelas de amor, ensinamos ao bebê uma forma de relacionar-se e ele poderá utilizá-la em suas relações futuras, porém com pouca habilidade e de controlar a força de seu amor deixará marcas no corpo dos coleguinhas).
Uma criança que morde precisa ser advertida, mas de forma amorosa. Nunca podemos esquecer que ela está aprendendo e mordeu por não saber fazer de outra forma. Quando a mordida se repete, a criança pode estar tentando compreender as repercussões deste ato ou, ainda, pode estar pedindo ajuda para lidar com sentimentos e estão sendo demais para ela.
Morder eventualmente é esperado, porém, situações em que a mordida se repete de forma muito intensa merecem atenção, pois mostram um transbordamento afetivo e pode ser sintoma de que algo não vai bem com a criança e que ela precisa de nossa ajuda Cabe avaliar cada caso e a melhor condução do mesmo.
Tudo o que falei acerca da mordida serve para os beliscões, empurrões e tapas, que são as formas mais comuns de brigas entre crianças. Essas atitudes representam o uso do corpo para dar vazão ao que se sente e não encontra-se palavras para expressar. São os recursos que estão mais ao alcance das crianças diante de um brinquedo arrancado de sua mão, ou um brinquedo desejado na mão do amigo, ou para desocupar o lugar de seu desejo e por aí afora.
A escola infantil, por ser um local que abriga um grande número de crianças na mesma faixa etária, é um universo fértil para este tipo de acontecimento. Muitas vezes, os casos se repetem e causam muita angustia em todos os adultos envolvidos, muito mais que nas crianças, que salvo situações particulares, seguem brincando em pouco tempo, sem maiores mágoas, a menos que os pais, suas maiores referencias para compreender o mundo, reajam de forma muito negativa. Portanto, os pais devem estar atentos para facilitar a administração destes conflitos e buscar ajuda da escola se não souberem como fazer.
Aqui uma escolha bem feita da escola é determinante, pois nestes momentos a confiança exerce um papel decisivo. Quando acreditamos nos profissionais que estão com nossos filhos, saberemos que as situações que ocorreram foram mediadas e nossos filhos contidos em suas dores, seja por ter machucado o amigo ou por ter sido agredido por ele.
A orientação para a criança que vem sendo mordida ou agredida deve ser buscar ajuda de um adulto, externar descontentamento e dor para com o amigo e também defender-se, porém, defender-se é diferente de agredir. Colocar a mão na frente, sair de perto e buscar um adulto são formas de defesa.
Ensinar as crianças a usar as palavras no lugar do corpo é a nossa função de pais e educadores e é também algo que elas levarão para a vida toda. A palavra marca a inserção do home na cultura e nos diferencia dos animais, é ela que nos torna civilizados e é ela que devemos oferecer a nossos filhos para resolver seus conflitos. É a palavra também que devemos recorrer para ensinar aos nossos filhos, ou seja, nós também não temos o direito de agredi-los quando as palavras nos faltam, mas isto é tema para outro dia e voltaremos a falar sobre ele.