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Como deve ser a dieta de uma mãe que amamenta um bebê com APLV

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Quando um bebê tem APLV e ele ainda é amamentado pela mãe, surgem muitas dúvidas com relação aos alimentos que essa mãe pode ingerir. Isso porque, tudo que a mãe ingere passa para a criança através do leite materno.

E par sanar as dúvidas mais comuns sobre esse assunto, eu bati um papo com a Nutricionista Raquel Bicudo Mendonça, Nutricionista especialista em Alergias Alimentares, Mestre e Doutoranda em Ciências Aplicadas à Pediatria pela Unifesp e Graduada em nutrição pela Unesp.

Na entrevista que a Raquel me concedeu, muitas dúvidas que chegaram até mim, vindas de mães cujos filhos tem APLV e ainda mamam, foram respondidas, de forma clara e direta.

dieta de exclusao
Photo Credit: ::: M @ X ::: via Compfight cc

MdM: Uma mãe que amamenta um bebê com APLV tem que ter quais cuidados na sua dieta?

R: Os cuidados dependerão do tipo de sintoma que a criança apresenta.

Há bebês que têm alergia às proteínas do leite de vaca e apresentam reações imediatas a qualquer produto que contenha esse alimento, porém não reagem ao leite materno mesmo quando a mãe consome produtos lácteos.
Nesse caso a mãe não precisa fazer restrições alimentares, mas terá que tomar cuidado para que o bebê não tenha contato com o leite que ela ingere, seja através de um beijo ou do toque com as mãos sujas. Além disso ela deverá evitar o uso de cosméticos ou produtos de higiene contendo leite na composição, como cremes hidratantes e sabonetes, por exemplo.

Por outro lado, há casos em que os bebês recebem exclusivamente leite materno e ainda assim apresentam sintomas tardios ou crônicos que podem estar relacionados à APLV, tais como diarreia ou intestino preso, muco ou sangue nas fezes, cólica, refluxo gastro esofágico, baixo ganho de peso, dermatite, entre outras manifestações.
Nessas situações, orienta-se que a mãe siga uma dieta totalmente isenta de proteínas lácteas. Ou seja, ela não pode consumir leite de qualquer animal, derivados de leite (queijo, iogurte, creme de leite, manteiga, etc) ou qualquer produto que tenha esses alimentos em sua composição. Sendo fundamental a leitura dos rótulos dos alimentos industrializados, pois a presença de traços de leite já pode desencadear sintomas.

MdM: Ela deve evitar somente alimentos que contenham leite ou também com traços de leite?

R: Mais uma vez os cuidados dependerão da natureza dos sintomas apresentados pelo bebê.

Quando o bebê apresenta sintomas gastrointestinais geralmente  a presença de traços de leite na dieta materna é suficiente para desencadear reações.

Para saber se é ou não necessário evitar os traços o ideal é fazer uma restrição total até que haja remissão dos sintomas. Após 8 a 12 semanas sem sintomas a mãe pode experimentar consumir alimentos que tenham traços de leite e assim verificar se os mesmos farão mau ao bebê ou não.

Na alergia alimentar é sempre assim, após um período de dieta de restrição onde haja remissão total dos sintomas é necessário programar os testes onde a criança será exposta novamente ao alimento e o médico poderá observar qual será a resposta do organismo.

É preciso ter coragem de testar, pois a APLV é passageira.

Você poderia explicar melhor o que são alimentos com traços de leite ou com contaminação cruzada?

Alimentos ou produtos alimentícios contendo traços de leite são aqueles que podem ter sido contaminados com pequenas quantidades de leite durante seu processamento, manipulação, armazenamento ou exposição. Por exemplo, um biscoito que não tenha ingredientes lácteos em sua composição original poderá ser contaminado com traços de leite se for fabricado no mesmo maquinário onde são processados outros produtos que levem leite ou derivados como ingrediente.

A contaminação cruzada pode ocorrer também através de equipamentos e utensílios como os fatiadores de frios, liquidificadores, chapas, pegadores, colheres de servir, entre outros.

Em casa orientamos que os alimentos da pessoa que estiver seguindo dieta de restrição nunca sejam acondicionados em embalagens plásticas que já tenham sido usadas para guardar alimentos contendo leite. Esse cuidado é importante pois o plástico é um material poroso e restos invisíveis de alimentos podem ficar impregnados no recipiente.

Outra forma de evitar os traços de leite em casa seria adotar esponjas exclusivas para higienização dos utensílios utilizados por quem está seguindo a dieta.

Vale lembrar que todos os alimentos devem ser devidamente embalados e mantidos bem fechados na geladeira, evitando-se assim qualquer contaminação.

MdM: Como uma mãe que faz a dieta da exclusão de leite pode se alimentar de forma que não falte nenhum nutriente para ela (considerando que ela está cortando vários alimentos da sua dieta)? O que ela pode/deve comer?

R: Diante da orientação de dieta de exclusão é importante lembrar que, com exceção do grupo dos leite e derivados, todos os demais grupos alimentares podem e devem ser consumidos.

A ingestão de produtos de origem animal como carnes e ovos é importante para garantir a presença de proteínas de alto valor biológico na dieta.

A carne bovina pode ser consumida . A orientação para sua restrição ocorrerá apenas nos casos em que haja uma clara relação entre seu consumo e a ocorrência de reações adversas.

Outras carnes como as de aves, suínos e peixes também estão liberadas para o consumo.

Os peixes poderão ser consumidos 2 a 3 vezes por semana, sendo a sardinha uma das opções mais ricas em cálcio e fósforo, nutrientes importantes presentes no leite.

Para quem come vísceras, o fígado apresenta-se como uma importante fonte de vitamina B2 (riboflavina) e vitamina A, e poderá ser consumido 2 a 4 vezes ao mês.

As leguminosas (feijão, grão de bico, lentilha, etc.) e oleaginosas (nozes, castanhas e amendoim) também devem compor a dieta, sendo consideradas importantes fontes de proteína vegetal, fibras e ácidos graxos. Deste grupo alimentar destacam-se o gergelim e as amêndoas, por serem ricos em cálcio.

Hortaliças e frutas também são fundamentais para uma nutrição adequada. As verduras verdes escuras devem ser valorizadas considerando seu teor de cálcio. Os vegetais de cor amarelo alaranjadas, fontes de beta caroteno, também devem ser ingeridos diariamente, uma vez que o leite, importante fonte de vitamina A foi eliminado.

Os cereais integrais também podem contribuir para o aporte de vitaminas do complexo B e , para garantir que não falte energia, além dos cereais devem ser incluídos na alimentação os tubérculos, raízes, pães e massas.

De qualquer forma, mesmo que a mãe capriche na dieta dificilmente conseguirá atingir a ingestão diária recomendada de cálcio e vitamina D. Portanto para esses nutrientes é necessário que seja feita a suplementação.

Raquel Bicudo Mendonça

Nutricionista especialista em Alergias Alimentares,  Mestre e Doutoranda em Ciências Aplicadas à Pediatria pela Unifesp, Graduada em nutrição pela Unesp.

Consultórios:

(11) 5579 6596 – Vila Clementino

(11) 2977 5325 – Jardim São Paulo

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