Quem escreve hoje para o blog é uma leitora muito querida, a Flávia Sinhor Vogel. Seu filhote, o Henry, foi um bebê pélvico que, por ter nascido com importantes alterações bilaterais no quadril, teve que usar, como tratamento para o problema, um acessório conhecido como suspensório de Pavlik. Abaixo, Flávia relata a experiencia e elucida algumas dúvidas das mães com relação ao tratamento com o uso desse importante acessório. Boa leitura!
Bebê pélvico e o tratamento com suspensório de Pavlik
Por Flávia Sinhor Vogel
Já completou 1 ano e, às vezes, eu nem acredito: como tudo passa rápido depois que eles nascem!
Sou enfermeira e mãe do Henry, um lindo bebê que ficou pélvico até o final da gestação, situação que acomete apenas 3% dos bebês e que implica em maiores chances de uma displasia congênita de quadril.
Eu me lembro das últimas consultas de pré-natal e dos últimos exames de ultrassom, onde ele sempre aparecia sentadinho. Fosse no consultório ou no laboratório começou, assim digamos, uma certa tensão: “e esse bebê sentado, hein!?”; “vira ou não vira?” eu estava com 30 semanas. A coisa foi evoluindo. Na semana seguinte, a mesma coisa: “converse com ele para virar, daqui para frente cada vez vai ficando mais difícil que vire”. E eu fui ficando tensa, conversando com o bebê e não vendo resultado. Me sentia pressionada e passava essa pressão para ele também. Até que em um momento, eu parei e decidi que não ia mais conversar com ele sobre isso. Oras, tudo estava indo bem, todos os parâmetros estavam ótimos, porque é que eu tinha que ficar passando essa carga de responsabilidade para alguém que sequer tinha nascido? Fiquei mais tranquila e conversando com minha médica, fomos cogitando uma cesárea. Expliquei para ela que gostaria que meu parto fosse normal e sabia que ela também, afinal ela foi eleita minha obstetra exatamente por ser alguém muito a favor de partos normais. Como já mencionei, sou enfermeira e passei anos da minha vida estudando e acreditando no parto normal e agora, justo eu, cogitaria uma cesárea?! Creio que caiba, salientar aqui, que ela é MUITO adepta ao parto normal e eu, apesar dos medos comuns de uma primípara, sabia que estaria em boas mãos… Ela ouviu meus desabafos e concluiu: “Tanto eu quanto você queremos mãe e filho bem; este é o nosso foco!”.
Como o bebê não virou e eu já estava com 32 semanas, minha GO explicou e me incentivou à fazer a “versão externa”, manobra que consiste em virar o bebê com ajuda do aparelho de ultrassom. Ela tem prática no assunto e esclareceu que, apesar de no Brasil ser pouco realizado e divulgado, é uma prática comum em outros países, principalmente os europeus. Conversamos sobre os riscos (sangramento, dor, possibilidade de insucesso da manobra em 1/3 dos casos) e ela me deu a tarefa de conversar com o marido e avisá-la, caso aceitasse, para que se programasse em relação à internação, equipe, etc. Eu pensei a respeito, mas resolvi não aceitar e o marido me apoiou.
Nessa fase as consultas eram semanais e, em conjunto com a minha médica, decidimos que quando o colo do útero desse sinais do início do trabalho de parto, partiríamos para a cesárea. Assim seria o menos “agressivo possível”, respeitando o tempo do Henry. (Vale meu pedido de não julgamentos aqui, sei que muitas mulheres acreditam que bebê pélvico não é indicação de cesárea, mas eu não queria correr os riscos conhecidos de bebês nessas condições…)
Contrariando a minha intuição de que ele nasceria só a partir do dia 25/3, na consulta de 11/3/13 – quando eu estava com 39 semanas e já sentindo algumas contrações de treinamento – o colo estava amolecido e já se abrindo, constatou a médica no exame de toque. Ela me deu a opção de esperar mais um tempo até que o trabalho se intensificasse ou internar naquela noite. Eu tinha ido dirigindo para a consulta após o almoço, pude voltar para casa, organizar as coisas, tomar um banho e ir para o hospital. Ele nasceu naquela noite, no que seria o momento mais emocionante e incrível da minha vida!!!
Com o choro forte e olhinhos piscantes, o Henry veio ao mundo com 3.725g de parto cesáreo, em apresentação pélvica completa (nascer pelos pezinhos e não pelo bumbum). Nos dias que se seguiram, a rotina da maternidade se realizou e, para a minha surpresa, apesar do exame físico dos pediatras, não parceia haver nada de errado com seu quadril. No momento da alta, a pediatra me explicou que eu sairia com uma solicitação de ultrasonografia de quadril bilateral para o bebê, pois era rotina para todos os que ficavam pélvicos. Com 7 dias de nascido, o levamos ao seu pediatra e ele também não identificou alteração ao exame físico e reforçou a necessidade de fazer o de imagem.
O resultado do exame mostrou alterações importantes bilateralmente no quadril. O pediatra dele logo nos indicou um ortopedista pediátrico. Este, por sua vez, já nos mostrou o tratamento: suspensório de Pavlik. Em suma, esse suspensório deixa as perninhas anguladas de tal forma que o encaixe da cabeça do fêmur no quadril fica correto e, assim, o problema é resolvido em algumas semanas. Pedi orientações, perguntei muitas coisas e o ortopedista, sempre muito paciente, disse que o melhor era manda-lo fazer sob medida e quanto mais tempo ele usasse sem pausas – tirando apenas para o banho – melhor seria. Providenciamos assim que saímos do consultório, retornamos para testar e antes de completar 1 mês de vida, meu pequeno já estava usando sua “armadurinha” como minha mãe gostava de falar. Eu também brincava com ele dizendo que apenas os super-heróis têm armaduras e, portanto, ele era um! rsrs
Como fazia frio naqueles dias e ele ainda dormia por muitas horas, parecia nem ligar em ter que usar. No exame seguinte, com 2 semanas de uso, ele já mostrava ganhos mas ainda assim deveria usar por mais 2 semanas. Confesso que fui rígida nesse ponto e, com um mês de tratamento, ele estava livre do suspensório. Novos exames de ultrasonografia foram necessários para acompanhar a evolução, depois as radiografias e em todos os resultados sempre foram ótimos, graças a Deus! Ao completar 1 ano, ele retornou ao ortopedista para acompanhamento, fez radiografia que mostrou perfeito desenvolvimento do quadril e pernas do Henry.
O nosso ortopedista sempre me incentivou a conversar com outras mães, pois entendeu que eu encarei o tratamento com uma sobriedade bacana e não me desesperei. Na época, não tive muitas oportunidades de conversar com outras famílias sobre o assunto, mas agora veio a oportunidade e espero que ajude às que estão passando por essa batalha!
Vale ressaltar:
1) Nem os exames e nem o uso do suspensório causam dor ao bebês. Eles tiram de letra. Nós, adultos, é que as vezes ficamos impressionados com a imagem.
2) Como o Henry tinha muuuuitas cólicas até completar 3 meses, o que realmente nos deixava apreensivos eram os choros de dor por conta das cólicas. Talvez por isso, a atenção tenha ficado dividida e sem sentirmos tanto o fato de ele usar o suspensório. (Mais tarde viemos descobrir que ele teve APLV).