Para quem não sabe, estamos em plena Semana Mundial do Aleitamento Materno. Ela começou no dia 01 de agosto e vai até o dia 08.
E sendo essa uma semana especial, com um tema super importante sendo discutido por todos os cantos, principalmente na blogosfera materna, o Macetes de Mãe não poderia ficar de fora e cá estou para dar a minha contribuição. Optei por, em vez de alardear aos quatro ventos os benefícios da amamentação (afinal, quem ainda não sabe isso?), contar um pouco da experiência que eu vivi com o Léo e tentar ajudar outras mamães através de um relato simples, sincero e ainda um pouco tocante para mim. Afinal, é vendo no outro um pouco da nossa história, da nossa dor, da nossa dificuldade, ou do nosso prazer, alegria e realização, que muitas vezes encontramos forças para superar as dificuldades ou para aproveitar ainda mais tudo de bom que a gente recebe.Já aviso que esse post será bem extenso. Primeiro porque vou contar uma história, e sempre me estendo muito nas minhas histórias, e depois porque essa é uma história com muitos capítulos, com muitas lembranças e com muita coisa para ser dita.
Espero que vocês gostem e, acima de tudo, espero que esse relato sirva de amparo para todas as mães que estão passando por alguma dificuldade para amamentar. Afinal, ver que não estamos sozinhas, que tem outras pessoas que passam ou passaram pelo que estamos vivendo, muitas vezes, serve de consolo.
Quando eu estava grávida do Léo, nem por um segundo eu imaginei que não fosse conseguir amamentar. Não pelo menos da forma que eu gostaria. Ouvi alguns relatos fortes sobre dificuldades para amamentar (como o de uma amiga que viu o bebê regurgitar sangue e depois descobriu que era sangue que havia saído da fissura do seu peito), mas muito mais relatos maravilhosos de mães que viram nessa experiência a sensação mais prazerosa da sua vida (essa mesma amiga comentou que, depois que dificuldade inicial havia passado, amamentar foi uma das sensações maravilhosas que ela já havia vivido, como se todo o prazer do mundo passasse pelo seu corpo naquele momento).
Bom, é claro que eu, ainda vivendo na época da inocência, como gosto de, ironicamente, chamar a gestação, só guardei os relatos positivos e tirei da minha cabeça tudo que haviam me falado de difícil. E também não me preocupei muito em me preparar para essa experiência, basicamente, só gravei que o bebê tinha que fazer a pega correta e como ela era e que para tirá-lo do peito eu deveria colocar o meu dedo mínimo entre o lábio do meu filhote e bico do meu peito, para ajudá-lo a largar e não acabar me machucando. Simples assim! Ahahahah!
Fora isso, não li mais nada, não pesquisei mais nada, não me informei sobre mais nada. Achei que amentar era a coisa mais simples do mundo e que qualquer mulher, desde a idade da pedra, fazia isso sem grandes dificuldades (até porque, tinha ouvido muito mais relatos positivos que negativos até a chegada do Léo).
Uma das primeiras mamadas do Léo, ainda na maternidade |
Só que aí o Léo chegou, e as coisas já começaram meio estranhas. Logo que ele veio ao mundo, eu pedi para amamentá-lo, pois tinha ouvido que era super importante esse primeiro contato mamãe-bebê acontecer o quanto antes (outra das poucas coisas que eu sabia). Mas não senti de cara que aquilo era uma coisa natural. Eu não sabia muito bem como segurá-lo, ainda estava meio grogue da anestesia, ele estava exausto do trabalho que teve para nascer (afinal, não é só a mãe que faz força na hora do parto) e, basicamente, dormiu no meu peito em vez de mamar. Fiquei triste, mas aceitei que tudo aquilo era força da circunstância e que, em breve, muito breve, nós dois estaríamos curtindo a amamentação como se já fizéssemos isso juntos há anos.
Só que o tempo foi passando e nada das coisas entrarem nos eixos. Bom, não pelo menso da forma que eu imaginava que tinha que ser. Ainda na maternidade, o Léo vinha para o meu peito e dormia. Simplesmente dormia. Era uma ou duas sugadinhas e ploft, ele capotava. Aí comecei a receber todas as orientações possíveis e imagináveis sobre como acordar o bebê para mamar (porque ele dormia e não mamava mais) e elas iam subindo de nível. Começou com as enfermeiras me orientando a fazer carinho na mãozinha dele, depois a fazer cócegas na sua bochechinha, em seguida, elas já estavam mandando eu tirar uma camada de roupa e terminou com elas me mandando fazer o Léo mamar só de fraldinha. E isso em uma semana que fazia bastante frio e que, com certeza, o frio deveria estar incomodando um pouco (se não muito) ele.
Mas nada, nada, ABSOLUTAMENTE nada que eu fizesse fazia o Léo voltar a mamar. Eu nem queria que ele acordasse de verdade. Eu só queria que ele mamasse, fosse isso acordado ou dormindo. Mas ele não mamava, ele só dormia.
Para completar, o Léo teve um pouco de icterícia quando nasceu e teve que passar um dia e meio tomando banho de luz no berçário. Aí, nesse período, a amamentação dele tinha que acontecer lá, para não atrapalhar muito o “tratamento”. E amamentando lá, acabei sendo observada mais de perto pelas enfermeiras e aí que a coisa complicou mais ainda. Num dos momentos que não vou esquecer mais, uma das enfermeiras me chamou e disse que eu precisava acalmar o Léo pois ele estava muito agitado e elas não conseguiriam continuar dando banho de luz nele se ele continuasse assim. E aí, se ele continuasse assim, ele não melhoraria da icterícia e eu teria que ir embora do hospital sem ele no dia seguinte. Bom, nem preciso dizer que pirei nessa hora e que até hoje tenho vontade de enfiar um murro na cara dessa anta que não foi treinada para ter sensibilidade para tratar com pessoas na minha situação (#prontofalei). No exato momento que ela disse isso, eu me vi saindo de lá sem meu filho, e mais perdida e insegura que em qualquer outro momento da vida, simplesmente respondi: “Mas eu faço o quê para acalmá-lo? Eu acabei de dar de mamar por mais de 40 minutos, não sei o que fazer? Será que ele segue com fome? Será que eu não tenho colostro (meu leite ainda não havia descido)? Será que será que será que será???….”. Já nem sei mais o que eu dizia nesse momento. Nisso, a anta, super sensível como só ela soube ser, pediu para ver o meu peito e confirmou: “É, exatamente, daqui não está saindo muita coisa. Se você quiser, podemos dar um mamadeira para ele ou, então, uma chupeta com glicose.”. Oi? Mamadeira? Que mamadeira? Chupeta com glicose? Para que isso? Não, não aceito, quero falar com o pediatra responsável por essa joça e nessa hora eu já estava rodando a baiana (sim, um tantinho de presença de espírito e de sanidade se apossaram de mim). Pedi para falar com o pediatra responsável para ele me explicar o que estava acontecendo, se o Léo estava mesmo passando fome, porque eu não tinha leite, se eu ia conseguir amamentar e mais outras dezenas de dúvidas que me invadiram naquele momento. Nem sei o tanto de coisas que perguntei. Eu, que sempre controlei tudo na minha vida, estava vivendo o momento “mais perdia do mundo” de toda a história da minha existência.
O pediatra que me atendeu, graças a Deus, foi ótimo, me tranquilizou, disse que tudo corria bem, que ele tinha perdido o peso esperado desde o nascimento e que eu tinha total condição de amamentar, só teria que me acalmar para as coisas começarem a acontecer de verdade (quase que eu respondi, então fala lá com a anta do berçário e manda ela calar a boca ou pensar duas vezes antes de falar com outra mãe insegura).
Mas aí o problema já estava criado. Eu, que já não tinha a sensação que amamentar era a coisa mais simples e natural do mundo, agora ainda estava insegura, com medo e entrando em desespero porque meu leite não tinha descido.
No dia seguinte, saímos da maternidade e passamos a nossa primeira noite em casa. Bom, dessa noite eu nem lembro direito, apaguei vários detalhes e só me recordo que num dado momento o Léo entrou em desespero, chorou como se estivéssemos torturando ele há horas e só nos restou ligar para a pediatra. Nessa hora, ela proferiu as palavras que eu menos esperava ouvir depois da chegada do Léo: “Peça para seu marido sair e comprar o leite em pó X. Prepare uma mamadeira de 60mls usando 2 colheres de leite em pó. Depois ofereça para o bebê e garanta que sempre sobrará 30mls na mamadeira. Se não sobrar, aumente a dose em mais 30mls”. Eu me recordo disso como se fosse hoje (uma das poucas coisas que lembro desse dia) e do quanto me doeu ouvir isso. Nesse momento, me rasguei no meio por perceber que eu oferecia leite em pó antes do meu próprio leite ao meu filho. Estava aí o meu primeiro grande baque com a maternidade. Esse foi apenas o primeiro de vários, mas talvez um dos que mais me doeu.
Meu marido saiu para comprar o leite e, horas depois, porque não encontrava em lugar nenhum o que a pediatra havia indicado, voltou para casa com a tal lata de um leite que eu não tinha jamais ouvido falar (não me foi indicada a marca mais conhecida do mercado, mas uma outra opção que, segundo minha pediatra, era melhor). Talvez tão baratinado quanto eu. Afinal, ele também não esperava por essa.
E foi só no dia seguinte, já no final do dia, que o meu leite resolveu dar o ar da graça e aí tentei, aos trancos e barrancos, amamentar o Léo. Digo trancos e barrancos porque ele seguia dormindo ao mamar. E dormindo a ponto de nada nesse mundo fazer com que ele acordasse (nunca tinha ouvido falar de bebês que fizessem isso. Cheguei a pesquisar e muito na internet, mas não encontrava nenhum relato similar, e isso me deixava ainda mais desespera e triste. Se pelo menos outras mães tivessem passado por isso, se pelo menos eu ouvisse alguma palavra de esperança sobre isso, se pelo menos não me sentisse tão sozinha nessa minha história, talvez eu teria passado por ela com menos dificuldade (e é por isso que estou aqui contando para quem quiser ouvir que existe sim bebês que dormem de uma forma que nenhum santo no mundo os faça acordar. Sei que há porque eu vivi isso e, depois de mim, uma amiga viveu exatamente a mesma história. Enfim, se você está vivendo algo similar, saiba que não é a única!).
Bom, mas no dia seguinte eu tinha consulta com a pediatra e ela, com toda certeza, iria resolver o meu problema e me ajudar a voltar para o caminho da amamentação. Bom, era isso que eu esperava. Chegando lá, conversamos por mais de duas horas, eu expus toda a história e o meu desespero e pedi, implorei, clamei por ajuda pra reverter o caso e dar de mamar para o Léo. Ela, sentindo o meu desespero, me passou o contato de uma consultora de amamentação, a qual deve ter encontrado 600 chamadas não atendidas e mais umas 300 mensagens de texto e de voz assim que encntrou seu celular perdido em algum canto de uma bolsa largada (tentei contato com ela por horas!).
Consegui marcar um bate papo com ela só no dia seguinte e até lá fui rezando e torcendo para que a sua ajuda colocasse tudo nos eixos.
No dia seguinte, conversei por mais de quatro horas com a tal consultora. Contei toda a história, deixe-a mexer no meu peito, ver formato, bico, quantidade de leite, e etc… , e relatei o que mais me angustiava nesse momento: a essa altura do campeonato, pior do que o fato de dormir a ponto de parar de mamar e não acordar de jeito nenhum, eu já estava vivendo o pesadelo do Léo rejeitar o meu peito. Isso mesmo! Ele não dormia no meu peito porque nem sequer queria chegar até ele. Eu ouvi tanto conselho, tentei tantas posições, engoli tantos pitacos que aquilo virou uma situação estressante e angustiante para nós dois. E ele, que não é bobo nem nada, passou a evitar a hora da mamada. Foi horrível! Coisas apavorantes passaram pela minha cabeça e eu só conseguia pensar que o Léo estava me rejeitando.
Com a tal consultora voltamos a tentar diversas posições, tentar usar e não usar bico de silicone e simplesmente nada ajudava. O Léo berrava e não queria mamar.
Quando ela já estava indo embora e eu já estava quase desabando de tanta tristeza, resolvi fazer uma última pergunta: “E agora, não tem mais nada mesmo que eu possa fazer para reverter esse quadro?” Ela me respondeu que havia uma única última alternativa, que seria eu tentar o uso de uma sondinha para ajudar na amamentação (leia mais detalhes sobre isso aqui). Ou seja, eu poderia oferecer um complemento para o Léo enquanto ele estivesse mamando no meu peito e isso iria “enganá-lo” um pouco, o que poderia fazer ele ficar acordado e começar a mamar e pegar meu peito de novo. Em suma: eu colocaria dentro de um tubinho um pouco do meu leite, tirado com bombinha, ou um pouco de fórmula. Assim que o Léo pegasse meu peito para mamar, eu colocaria dentro da boquinha dele um caninho que saia desse tubinho com leite. Ele iria sugar, mais leite entraria na boquinha dele, ele iria se entusiasmar, continuar mamando, e isso aumentaria a minha produção de leite (sim, ela já tinha dito que eu tinha leite, mas que a produção estava baixa e que esse talvez fosse um dos motivos para o Léo dormir quando mamava – ou seja, basicamente ele não mamava, ele chupetava).
E lá fui eu correr metade da cidade de São Paulo para encontrar a tal sondinha, da marca Mamatutti (acho que é só essa marca que faz essa bendita sonda). Por sorte, encontrei, a usei e ajudou bastante, mas também não foi uma experiência nada fácil.
Ps: aqui, antes de continuar a história, quero abrir um parêntese. Apesar da sugestão da sondinha ter sido ótima e ter me ajudado, eu acho que a tal consultora que eu chamei pecou um pouco no meu caso (é o que eu penso agora, que detenho mais informação sobre o assunto. Na época, achei que ela tinha sido ótima). Ela pecou porque não me deu várias orientações que depois eu descobri serem super comuns de se dar para quem tem está tendo dificuldades na amamentação e porque ela também não conseguiu me passar muito segurança (sabe quando falta o tal do incentivo, falta alguém acreditando em você e também fazendo você acreditar em você mesma? Foi bem por aí). Ou seja, foi uma ajuda, foi útil e foi válida, mas já ouvi relatos de outras experiências com consultoras que foram muito mais positivas. Enfim, esse foi mais um capítulo da história que ainda iria se desenrolar com várias intercorrências.
Depois de quase um mês usando a tal sondinha Mamatutti, eu já estava produzindo mais leite e o Léo já estava pegando um pouco melhor o meu peito. Na verdade, ele já estava na fase que pegava bem, ia para o peito todo alegrinho e cheio de vontade de mamar, não dormia mais (eeeee! que alegria) e meu peito ficava até inchadinho, cheinho de leite, mas aí ele começou a apresentar um outro comportamento, para meu desespero.
Quando eu achei que tudo estava quase entrando nos eixos, quando eu comecei a acreditar que poderia tirar a mamadeira da nossa vida e ficar só no aleitamento materno (mesmo com a sondinha, eu sempre oferecia a mamadeira depois, mas em algumas vezes ele a rejeitava e isso me dava esperanças de um dia eu poder tirá-la de vez) ele começou a berrar enquanto mamava, jogar o corpo para trás, soltar puns homéricos e não querer mais ir para o peito de jeito nenhum.
Ou seja, eu tinha acabado de vencer um desafio, que era a baixa produção de leite atrelada ao sono excessivo do Léo quando mamava, e estava já entrando em outro: aceitar que o Léo tinha muito desconforto para mamar e simplesmente não conseguia fazer isso sem uma boa dose de sofrimento (sofrimento esse que me arrisco a dizer foi igual para mim e para ele, exatamente no mesmo nível, se não maior para mim).
Assim que esse comportamento começou a se apresentar, eu comecei a desconfiar de APLV – alergia à proteína do leite de vaca – pois já conhecia o problema por ter amigas que passaram por ele. Quando eu tentava falar com a pediatra do Léo sobre isso, de cara ela dizia que não era nada disso, que era a cólica comum da idade. Mas eu sentia que tinha algo por trás. Ah! Coração de mãe não se engana.
Entrava consulta, saia consulta, entrava e saia ligação desesperada para relatar para a pediatra a catástrofe que estavam se tornando todas as mamadas, e ela seguia achando aquilo tudo muito normal e dizendo que com três meses melhoraria (“com três meses passa” foi a frase que mais ouvi no meu início da maternidade. Tenho até arrepios lembro dela).
Depois de algum tempo e de tantas ligações minhas, ela optou por mudar o leite do Léo para uma fórmula com a proteína extensamente hidrolisada (justamente achando que ele poderia mesmo estar desenvolvendo alguma alergia à proteína do leite), mas esse leite o Léo não quis, de jeito nenhum, aceitar, e aí, depois de muito tentarmos, inclusive misturando o meu leite à fórmula para disfarçar o sabor, desistimos porque ele simplesmente não pegava (sim, eu passava a madrugada tirando leite para dar na mamadeira já que no meu peito ele não conseguia mamar porque berrava de dor).
Sem o Léo aceitar esse segundo leite que testamos, partimos para a terceira opçÕ, depois de muitas tentativas, ele foi engolindo aos poucos, mas também foi se mostrando cada vez mais desconfortável para mamar e seu intestino, que até então tinha funcionado tão bem quanto funciona uma pedra, de uma hora para a outra, resolveu produzir tudo que não tinha produzido até aquele momento. Ou seja, de intestino preso o Léo passou a ter o intestino mais solto desse mundo, com cocô ácido e totalmente aquoso diversas vezes ao dia. Ah, e é claro, com o choro e desespero cada vez maior a cada mamada.
Assim, quando ele já estava com mais ou menos dois meses e meio a pediatra confirmou (e se convenceu) de que ele tinha refluxo oculto e bem provável também APLV. Nesse momento, ela me encaminho para acompanhamento com um gastropediatra que começou a cuidar do Léo e que, graças a Deus, começou a colocar as coisas nos eixo.
Mas foi também nesse momento que tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida: eu optei por parar de amamentar.
Quando tivemos a confirmação da APLV do Léo eu fui orientada a fazer a dieta da exclusão, caso optasse por continuar amentando. Nessa dieta, eu não poderia ter contato com nenhum alimento que tivesse o mínimo traço de leite, pois eu ingerindo esse leite, por menor que fosse a quantidade, eu poderia desencadear a alergia no Léo novamente (isso significava não poder comer um presunto que foi cortado na mesma máquina do queijo, para vocês terem um ideia).
O problema é que, por conta própria, eu já estava fazendo a tal da dieta. Basicamente, nos últimos dois meses eu havia me alimentado de batata, banana, arroz e frango e sentia que não tinha mais forças para seguir me alimentando daquela forma.
Eu estava fraca, cansada, desestabilizada, estressada, em estado de quase desespero. Para encarar essa nova fase da vida do Léo, essa experiência de aguardar com calma e paciência a sua recuperação, eu também precisava ficar bem. E foi aí que decidi, com o total apoio do meu marido, porque sem isso eu não teria nunca conseguido tomar essa decisão, parar de amamentar.
A minha principal razão é que eu PRECISAVA deixar qualquer traço de leite longe do Léo. Eu simplesmente não podia mais conviver com o fantasma de que qualquer coisa que comesse viesse a fazer mal para ele. Eu PRECISAVA ter a certeza de que o contato dele com leite havia acabado para eu também ter certeza de que ele iria melhorar, e o quanto antes.
Aí eu parei de amamentar (não sem antes repensar isso mil vezes e quase mudar de ideia outras mil) e comecei a dar para o Léo apenas o leite especial que ele toma até hoje, que contém na sua fórmula aminoácido em vez de proteína.
Bom, isso foi o que eu vivi em quase três meses, tentando de tudo (tudo que eu tinha conhecimento) para amamentar o Léo. Tentando até o ponto em que eu percebi que o desespero para vê-lo curado era maior que tudo e que eu não conseguiria conviver com o risco de estar deixando algum traço de leite passar para o leite que ele mamava de mim (aqui um detalhe muito importante: o leite materno livre de qualquer traço de leite é um dos melhores remédios para a cura da APLV. OU seja, as mães que estão passando por esse problema não devem desistir de amamentar seus filhos. Se sentirem-se fortes para isso, devem insistir que isso fará bem para os seus pequenos. O problema era que, no meu caso, eu não conseguia mais lidar com o fantasma do medo do Léo passar mal como havia passado até aquele momento por conta de algo que eu pudesse por engano ingerir. E porque a falta de alimento também estava me fazendo mal, muito mal, a ponto de eu ter tido inclusive um quadro muito parecido com depressão pós parto – se é que não foi mesmo depressão pós parto, nunca cheguei a ter certeza disso).
Enfim, eu optei por parar de amamentar e dar apenas a fórmula especial que o Léo devia tomar. Hoje olho para trás e não me dói mais essa decisão. Acho que eu fiz o que o meu coração mandou e fiquei em paz com a decisão tomada porque vi que o Léo pouco a pouco foi ficando bem, mamando com prazer e se desenvolvendo super saudável (PS1: a melhora não foi de uma hora para outra. Ela foi meio custosinha, com altos e baixo, mas o que importa é que ele ficou bem e se mostrava, dia a dia, uma criança mais feliz. PS2: essa paz com a decisão tomada, que eu comentei acima, também não foi de uma hora para outra e foi bem custosinha, mas o que importa é que ela aconteceu e que agora estamos todos bem).
Agora, olhando para trás, eu me recordo de algumas cenas e coisas importantes que vivi nesse meu desafio de amamentar o Léo. Cenas que ficaram marcadas e que acho que valem a pena ser divididas, pois, quem sabe, esse conhecimento não veja ajudar outras mães que nesse momento estão sentindo-se sozinhas nessa situação.
Eu lembro de raramente ter tido aquele prazer mágico que quase todas as mães relatavam sentir ao amamentar. Para mim, quase sempre foi complicado, custoso, difícil.
Lembro de todas as vezes que eu me questionei, quase em desespero, se o Léo iria criar vínculo comigo por eu não tê-lo amamentado da forma que manda o figurino (garanto que criou! olha a boa notícia aqui!).
Lembro de uma vez, ter confessado, aos prantos, e na frente das visitas que aqui estava para conhecer o Léo, que eu arrasada por não estar conseguindo amamentar exclusivamente. Que estava me sentindo culpada por não cumprir os seis meses de amamentação exclusiva que eu tinha me prometido e ainda mais por nunca conseguir chegar no um ano de aleitamento materno que o meu marido já havia comentado que era o ideal, na visão dele (Obs: isso foi o que ele disse antes de termos vivido toda essa história. Depois que o tsunami da amamentação passou nas nossas vidas – sim, nossas, já que ele passou madrugadas em claro me ajudando com a tal sondinha, dentre tantas outras dificuldades que dividiu comigo – ele foi um dos primeiros a me dizer para parar pois aquela tentativa desesperada para amamentar a todo custo estava acabando comigo).
Lembro de não ter tido coragem de dar mamadeira em público para o Léo até ele ter seis meses de idade (período que eu havia me proposto a amamentar exclusivamente com leite materno).
Lembro de várias vezes que, ao ser questionada se amamentava e responder que sim, mas que dava complemento também, ter sido encarada com cara torta e, ainda, ter tido que ouvir a maravilhosa e super bem sucedida experiência que essas mães tinham vivido ao amamentar.
E, por fim, lembro de ter saído arrasada de uma loja quando vi uma mãe calma e tranquila dando de mamar para seu filhote ali, no meio de todo mundo, sem se importar com nada. Para ela aquilo era tão simples, tão natural, e para mim tinha sido tão difícil (Por que comigo? Por quê? Que mãe nunca se perguntou isso?).
Mas, graças a Deus o tempo passa, as feridas se fecham, e hoje eu falo que FOI algo difícil para mim, algo que hoje está bem mais esclarecido e bem resolvido e que já não me faz pensar que precisarei de terapia para tratar o trauma (mas juro eu achei que precisaria sim quando resolvi parar de amamentar).
E o que eu tirei de tudo isso?
Que amamentar não é fácil
Que por mais fácil que seja para algumas, no início é difícil para todo mundo
Que amamentar é algo que quase todas as mulheres querem e se cobram (demais!)
Que é um pecado criticar, culpar ou julgar alguém que não amamentou (você não sabe os reais motivos dessa pessoa)
Que o desejo de amamentar deve ir até o ponto que isso não se torne um peso na sua vida
Que cabe a você tentar tudo que está ao seu alcançe para amamentar se esse é o seu desejo, mas que também cabe a você abrir mão disso e tocar a sua vida adiante se, simplesmente, depois de todas as tentativas, a coisa ainda não der certo (ou alguém vai aí deixar o filho passar fome?)
Que eu não merecia ter me culpado tanto. Que eu não precisava ter sido tão rígida comigo. Que eu podia sim ter sofrido menos e aceitado mais que não amamentar também é algo natural e que, infelizmente, faz parte da vida de muitas melhores.
Eu quero ter outro filho e eu quero amamentá-lo. Acho que quando eu engravidar essa será uma das questões que mais irá rondar meus pensamentos: será que dessa vez eu vou conseguir? Será que agora, já sabendo como as coisas são e funcionam, tudo vai dar certo? Será que vou viver de novo tudo que já vivi? Não tenho essas respostas, mas sei que vou tentar e que, se não der certo, eu irei me culpar muito menos.
Afinal, leite materno é ótimo, os momentos de prazer amamentando são ótimos, mas o que cuida e faz crescer mesmo é o amor. E esse, amamentando ou não, todas nós temos de sobra.
Bom, encerro esse post mais de três horas depois de tê-lo iniciado. E olha que nem fiz a revisão final. Eu só abri meu coração e joguei as palavras aqui.
Acredito que pela extensão do depoimento, muita gente parou na metade e nem vai ler essas linhas. Mas se você chegou até aqui, espero que tudo que eu aqui coloquei lhe seja útil.
Boa sorte! Faça sua parte e seja legal com você mesma caso as coisas não corram como você sempre sonhou. Você merece isso por tudo que já fez por tudo que ainda irá fazer pelo seu filho.
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