Macetes de Mãe

A maternidade e a culpa

Quem é que nunca ouviu a famosa expressão: “Quando nasce um bebê, nasce uma mãe. E com ela a culpa”? Está aí uma das grandes verdades da maternidade. É só a gente ter um filho para a grande maioria de nós (se não todas) começar a se culpar por quase tudo: por não conseguir amamentar, por voltar muito cedo para o trabalho, por largar a profissão, por não ter mais tempo para o marido, por não ter mais tempo para si, por achar que tem pouco tempo para o filho, e por aí adiante.

É uma confusão de sentimentos tão grande que quase deixa a gente doida. Eu tive, e em alguns casos ainda tenho, algumas culpas muito fortes: amamentei muito menos que gostaria (essa já está bem resolvida, depois de muito sofrimento), muitas vezes gostaria de ter mais paciência do que tenho (essa ainda me pega de vez em quando), voltei a trabalhar e agora o Léo passa o dia com uma babá, comigo por perto, pois trabalho de casa, mas está mais com a babá que comigo (no momento, essa é a culpa que mais está me incomodando, mas optei por fazer isso porque sinto falta de trabalhar e produzir. Essa também sou eu).

E é incrível como a culpa pega as mães de jeito. Pode ser a coisa mais simples do mundo, como a criança se machucar e você nem ter culpa por isso, mas você vai se sentir culpada de qualquer jeito. Ou então coisas maiores, como a questão parto, amamentação e volta do trabalho. Esses três assuntos, Deus do céu, fazem as mães pirarem, sairem do seu centro, entrarem em depressão e aí, sentirem-se mais culpadas ainda. Um ciclo vicioso nada, nada legal!

Sei porque eu vivo isso. Claro que vivo, porque sou mãe de carne e osso, porque também erro, porque também gostaria de fazer as coisas melhores do que muitas vezes faço e porque nem sempre tenho controle absoluto das coisas.

Acho que a culpa é um pouco fruto de um mix de sentimentos: insegurança e inexperiência (nunca sabemos se o que estamos fazendo é certo mesmo, ainda mais quando somos mães de primeira viagem – já falei sobre isso aqui), medo de errar (já falei sobre isso aqui), falta de controle (o querer x o conseguir, muito comum na questão parto e amamentação), falta de opção (quantas mães tem que voltar ao trabalho antes que gostariam) dentre outros.

Ou seja, ter esse sentimento de culpa é comum. É uma das coisas mais comuns da maternidade. Mas cabe a nós, mães saudáveis e equilibradas (digamos que na maior parte do tempo), tentarmos pensar racionalmente sobre as questões que nos levam a sentir culpa e tentarmos resolver esses sentimentos ambíguos dentro de nós.

Sempre que analisamos, racionalizamos e fazemos uma auto-análise objetiva da situação e de nós mesmas, as coisas ficam um pouco mais claras e a dor da culpa ameniza um pouco (só um pouquinho, mas ameniza). Quer um exemplo: eu estou com babá, coisa que nunca imaginei que teria. Vira e mexe, me sinto um pouco culpada, por estar em casa e em vez de eu mesma estar cuidando do Léo, ter contratado uma babá para me ajudar. Só que logo que penso nisso, também tento recordar tudo que me fez optar por essa alternativa: eu gosto de trabalhar e precisava voltar a trabalhar; mesmo tendo uma babá, eu estou por perto, porque justamente abandonei uma carreira fora de casa para tocar um negócio pequeno e ficar pertinho do meu filhote; porque gosto e preciso ter tempo para mim; porque uma mãe feliz, equilibrada e satisfeita é muito mais saudável para um filho; porque essa sou eu, alguém que ama ser mãe, mas que também ama o outro lado da sua vida, aquele onde a Shirley pessoa (e não só a Shirley mãe) também se encaixa.

A questão da culpa, acho eu, não será resolvida nunca, mas a gente tem que tentar amenizá-la, afinal, ninguém se tornou mãe para sofrer e ser infeliz. Muito pelo contrário. Nos tornamos mães para acrescentar coisas às nossas vidas: amor, realização, felicidade, prazer e aprendizado.

E pensando em toda essa questão da maternidade e da culpa, que aflige e apurrinha 101 em 100 mães, a revista Pais e Filhos criou um projeto muito legal, o Culpa Não. Nele, mensalmente, são levantados, analisados e discutidos os principais temas que levam as mães a se sentirem culpadas e, depois, os resultados desses levantamentos são compartilhados na revista, no site e na fanpage do projeto.

Na semana passada, eu participei de um pedacinho dessa iniciativa. Estive presente num brunch promovido pela revista, junto com outras mães, blogueias e um educador, e discutimos por algumas horinhas o tema culpa por deixar o filho na creche/escolinha. Eu expus a minha experiência sobre o tema (eu não senti culpa quando o Léo foi para a escola) e ouvi a experiência de outras mães e nesse bate papo informal e gostoso percebi como tem inúmeros tons de cinca entre o preto e o branco desta questão. (PS1: Ufa!! Não sou a  única que não sentiu culpa quando deixou o filho na escolinha – já estava me culpando por não ter culpa. kkk! PS2: o Léo foi para a escolinha, mas tivemos alguns problemas e acabei tendo que deixar a escolinha de lado por um tempo e optar uma babá. Leia sobre essa experiência aqui).

Para quem quiser saber mais sobre o projeto Culpa Não, da revista Pais e Filhos, vale a pena uma espiadinha. Quem sabe, lá você não descobre que há centenas de outras mães vivendo a mesma experiência que você e isso não a ajuda a superar uma culpa que hoje a martiriza. Pelo menos, comigo funciona assim. Às vezes me sinto péssima, pois acho que estou fazendo algo errado ou sou culpada por algo. E aí, me deparo com outras mães na mesma situação e isso me dá um pouco mais de alento e tranquilidade (estamos todas no mesmo barco e vamos sobreviver!).

Nos vermos no outro ajuda a nos enxergarmos melhor e tratarmos melhor os nossos fantasmas e angústias. Acho que é mais ou menos por aí! :-)

Espero que a divagação de hoje tenha sido útil. E se você se sentir à vontade, compartilhe abaixo a sua culpa e suas dicas para superá-la. Quem sabe isso não ajuda outras mamães?

Beijos eu ótimo fim de final de semana para todas.

Onde ler mais sobre o tema:

Projeto Culpa Não, no site da revista Pais e Filhos
Fanpage do projeto Culpa Não no Facebook

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