Mamães, o texto de hoje, da nossa querida psicóloga e colunista Raquel Suertegaray, está incrível! Com certeza, um dos mais bacanas que ela já escreveu aqui para o blog. Dessa vez, ela abordou um tema que tira o sono de muitos pais: a questão do limite.
O limite é realmente importante? Que influências a falta ou o excesso dele podem causar? Como impor limite sem cair no autoritarismo? Dicas práticas para impor limite às crianças.
Eu poderia destacar inúmeros trechos desse texto aqui, na introdução, mas vou deixar que ele seja lido na íntegra, pois vale muito a pena.
Um texto para virar referencia na criação dos filhos. Eu aprendi muita coisa com ele. Boa leitura!
A importância do limite e como impô-lo a nossos filhos
Por Raquel Suertegaray
“Limite”, uma palavra vem do Latim “limis” e significa “caminho entre dois campos, fronteira, sulco”, ou seja, remete a delimitar, regular as fronteiras. Pesquisar a origem da palavra trouxe mais sentido ainda ao seu entendimento, em especial com relação à importância de que os limites sejam interpostos para as crianças e tenham suas fronteiras reguladas.
Um bebe, quando nasce, não reconhece seus limites e necessita de braços que o aconcheguem e mantenham seus “pedaços” unidos. O limite sentido através do tato oferece a noção do próprio corpo. Isto é tranquilizador e integrador nesta fase, pois tira da criança a sensação de despedaçamento. Aqui o limite já vai dando sinais de sua importância.
Ao longo de toda a vida, o limite, muitas vezes, tem uma função muito parecida. A medida que o bebe cresce, seu mundo cresce junto com ele e esta imensidão remete a esta angústia primária. Diante de um mundo que não controlam, ficam sem saber o que fazer, por isto, com frequência, crianças que carecem de limites tem ataques de birras, se jogam no chão, esperneiam e gritam e até mesmo são erroneamente taxadas de hiperativas. A falta da continência oferecida pelo limite, se converte na criança como uma intensa angústia, que se manifesta em perda do controle.
Esta breve introdução já sinaliza a importância dos pais serem firmes quando necessário e estabelecerem limites aos seus filhos. No entanto, limites não são universais e variam de cultura para cultura, de família para família. Você pode estar se perguntando: mas se pode variar tanto, como afinal de contas eu saberei quais limites devo ou não impor a meu filho?
Pois bem, este questionamento deve ser a base de qualquer limite imposto. O primeiro segredo para um limite funcionar é que ele faça sentido, que eu, o adulto que o estabeleço, concorde verdadeiramente com ele, caso contrário, não vai funcionar. Então, a receita que funciona na casa da minha vizinha nem sempre servirá na minha casa. Igualmente, os pais devem se perguntar sempre se seus parâmetros atendem às necessidades dos filhos ou atendem a sua necessidade de tornar as coisas mais fáceis.
Crianças e adultos são diferentes, os adultos têm possibilidades que não podem ser oferecidas às crianças, pois a criança não possui bagagem, nem maturidade para avaliar as variáveis envolvidas, portanto, as opções precisam ser limitadas, para que elas, as crianças, seja capaz de escolher.
Da mesma forma, suas necessidades são diferentes das nossas e muitas delas precisam ser atendidas, com frequência exigindo esforços da nossa parte e exigindo que nós abrimos mão de antigos prazeres em nome do bem estar de nossos filhos. Para isto ser possível, é necessário que nós tenhamos capacidade de estabelecermos a nós mesmos limites e, adivinhe onde esta história começou? Isto mesmo, na nossa infância.
Bom, já deu para perceber que estabelecer limites é importante, mas a pergunta que assombra papais e mamães é como e quais?
Aqui, uma dica é: estabeleça limites úteis e seja perseverante. As pessoas costumam esperar que as crianças se comportem e tenham as mesmas necessidades que os adultos e isto é uma grande inverdade. Crianças são diferentes de adultos e ainda não são capazes de lidar com seus impulsos, por isso, precisam ser constantemente lembradas e relembradas do que pode e do que não pode e das consequências de seus atos. Então, seja perseverante.
Ou seja, já sabemos que os limites precisarão ser retomados à exaustão, então, não convém estabelecer um número exagerado de regras, pois o risco de cairmos em contradição é enorme e os efeitos das contradições tornam ainda mais difícil a tarefa de fazer com que as crianças introjetem os limites e passem a ser elas mesmas suas próporias reguladoras. Então, seja coerente!
Ainda, na ânsia de serem atendidos, muitos pais caem na armadilha de oferecer prêmios, prometer castigos, fazer chantagens e com isso descaracterizam a mensagem principal, de que o certo é certo e pronto! Devo fazer o que é melhor para mim e não apenas o que me dá prazer.
Trocas (“se você fizer isto, ganha aquilo”) por mais que pareçam inocentes e justas criam um círculo vicioso, onde a criança só obedece e faz o que é certo, se receber algo em troca ou, ainda, quando ameaças entram em jogo, ela pode optar por não ganhar nada ou perder algo, para não cumprir com suas obrigações e aí? Complica, né. Então, seja firme!
Outro erro recorrente dos pais é implorar aos seus filhos para que estes respeitem os limites estabelecidos na família ou cumpram com suas obrigações. Existe uma diferença hierárquica entre pais e filhos e os filhos precisam compreender que os pais fazem determinadas exigências para seu bem. Então, nada de rezar uma missa para seu filho ir para o banho. Avalie se é realmente importante que o banho seja naquela hora, se a criança não irá precisar abandonar um momento realmente muito importante para ela (pode ser até mesmo uma brincadeira, para ele, dentro de seu mundo e suas necessidades, brincar mais um pouquinho pode ser super importante) e, caso a resposta para todas estas perguntas seja sim, seja firme. Tente não se alterar e diga em poucas palavras que ele deve ir para o banho. E não adianta muitas explicações. Poucas palavras costumam ser mais efetivas. Depois disso, encerre a atenção que ele recebe e deixe claro que adorará conversar, dar abraço, brincar, seja o que for, depois que ele estiver limpinho. Então, seja diretivo!
O mesmo vale para arrumar o quarto, comer, etc. Não ganhamos muito em extensas explicações. As crianças não mantem a atenção durante um discurso, por mais que usemos palavras bonitas. As palavras são apenas jogadas ao vento e não terão efeito. Por outro lado, perder a atenção, perceber que está sendo ignorado tende a surtir efeito e isto pode ser conseguido apenas fechando a cara, estabelecendo um diálogo monossilábico, onde sempre se afirma o mesmo, que depois de sua função cumprida, as coisas voltam ao normal e você lhe cobrirá de beijos, mas por enquanto, você está muito decepcionada para isso.
Um momento que, com frequência se torna uma guerra, é a hora de se vestir. Aqui, temos que avaliar diversas variávei e uma delas é o respeito ao desejo da criança, que deve ser considerado, afinal, temos nosso estilo e ela tem direito de ter o seu se quisermos um filho autônomo, capaz de optar e com personalidade própria. No entanto, crianças ainda obedecem ao princípio do prazer e não estão preparadas para avaliar as necessidades impostas pela realidade.
Desta forma, podemos oferecer a possibilidade da criança escolher. Abrir o guarda-roupa e dizer “escolha!”. Pois bem, essa é uma péssima opção, já que a criança se deparará com um número de possibilidades que lhe deixarão ainda mais ansiosa e assim a birra pode aumentar. Assim, a dica é você selecionar um número de peças de roupa e, entre estas, seu filho poderá escolher. Uma vez que ele tenha decidido, ou ele se veste ou você terá que encontrar uma forma de fazê-lo. E nesse momento, mais uma vez, seja firme, mostre que não há outras opções, quanto menos está briga se estender, menos ela irá se repetir. Então, assuma o controle e seja razoável!
Estabelecer limites não é uma tarefa simples e ela necessita ser constantemente reavaliada. Cada vez mais acredito que limites bem estabelecidos, dentro de parâmetros adequados, são o segredo para o sucesso da criação dos filhos. Mas um alerta: limites bem estabelecidos está muito longe de limites rígidos e de excesso de limites, pois o autoritarismo cria outros problemas, não menos graves que a falta de deles.
A importância não está em ter filhos educados, mas sim em eles tornarem-se capazes de enfrentar as exigências da vida, em aprenderem a lidar com as escolhas e a frustração de saberem que o mundo não é uma fonte de prazer inesgotável. Crianças sem limites se tornam insaciáveis e, por esta razão, infelizes, pois nada nunca suprem o vazio no qual vivem.
O tema é amplo demais e há inúmeros vieses a serem considerados, por isso, voltarei a abordá-lo inúmeras vezes aqui. E assim, deixo o meu convite para vocês, leitoras, compartilharem as suas dúvidas e opiniões no espaço para comentários abaixo, assim, elas podem ser ponto de partida para novas reflexões e para futuros textos. Um abraço e até a próxima!