Vou contar rapidinho a nossa história e depois explico direitinho o que é esse tal de refluxo oculto.
Quando o Léo tinha uns 15 dias de vida, mais ou menos, ele começou a chorar durante as mamadas. Ele começava a mamar bonitinho e aí, num determinando momento, largava o peito, jogava o corpinho para trás e começava a gritar.
Quando narrei isso para a pediatra, ela disse que era cólica. Que era normal, era assim mesmo e que com três meses de vida, mais ou menos, passaria.
Mas aí, a situação foi se tornando insustentável. Quanto mais o tempo passava, mais o Léo berrava quando eu o amamentava e menos mamava. Exatamente. Chegou um ponto que ele se negava a mamar. Ele mamava alguns poucos minutos e aí parava. Chorava, chorava, chorava e não aceitava mais peito ou mamadeira. Para eu fazer ele se alimentar, era uma verdadeira maratona. Começava dando o peito, quando ele não queria mais dava mamadeira. Quando ele largava a mamadeira eu esperava um pouco e tentava em outro lugar ou outra posição e isso fazia com que eu levasse, mais ou menos, uma hora e meia para dar de mamar para o Léo.
Gente, punk! Muito punk! Não gosto nem de lembrar. A minha vida, durante três meses, foi basicamente tentar fazer o Léo mamar abaixo de gritos e berros.
Mas quando ele estava com quase três meses, numa consulta de rotina, depois de eu muito insistir que não era só cólica, a pediatra resolveu ceder e conversamos seriamente sobre o que se passava com ele. Quando acabei de narrar tudo ela disse que ele tinha refluxo oculto e que por isso ele chorava tanto para mamar. Logo depois, no exame clínico (tirando a roupa e vendo uma manchinhas vermelhas pelo corpo) ela confirmou também a APLV. Ou seja, no caso do meu pequeno, esse tal de refluxo oculto era um sintoma da APLV dele.
Mas o que é, afinal, refluxo oculto, esse nome que anda tão na moda nos consultórios pediátricos ultimamente?
Para entender direitinho, resolvi trazer algumas informações a respeito do assunto. Vamos lá….
Qual a diferença entre refluxo fisiológico, refluxo oculto e Doença do Refluxo Gastro-esofágico?
Bom, o refluxo fisiológico em si não é uma doença. Ele é uma condição normal de 50% (ou mais) dos bebês recém nascidos e significa, simplesmente, regurgitar aquilo que é ingerido. No caso, leite. Isso acontece porque o seu aparelho gástrico, assim que nascem, não está 100% formado. Ou seja, o sfincter, que é uma válvula que existe entre o estômago e o esôfago está ainda em formação e aí não consegue se fechar completamente assim que o líquido passa por ele a fim de impedir que volte (o líquido passa e acaba voltando porque a válvula não “fecha” direito. Em suma é isso.).
Assim, o refluxo fisiológico, não pode ser considerado um problema ou doença, mas uma situação comum a bebês recém nascidos e que tende a durar até eles completarem seis meses ou, em alguns casos, um ano de vida.
Por outro lado, existe a Doença do Refluxo Gastro-esofágico, que é quando o refluxo fisiológico torna-se patológico. Ou seja quando o refluxo acontece em grande quantidade e muito frequente e, assim, acaba causando dor e desconforto ao bebê. Essa dor e desconforto costumam aparecer porque junto com o leite volta também suco gástrico (quando o leite volta, passando pelo sfincter que não fechou direito, ele carrega junto suco gástrico, que é ácido e causa dor, queimação e, em alguns casos esofagite, que é a inflamação/irritaçãoo do esôfago).
E essa Doença do Refluxo Gastroesofágico pode existir tanto nos casos de refluxo “tradicional (aquele em que o líquido é regurgitado) quanto em casos de refluxo oculto. Ou seja, o que leva um refluxo a ser considerado doença é o mal estar, a dor e o sofrimento que causa. Se a criança simplesmente regurgita e não demonstra nenhum desconforto, está tudo bem (tem até uma expressão para isso: Golfador feliz. Ó que lindo!).
Bom e, por fim, há o refluxo oculto. Que é quando o líquido ingerido e o suco gástrico voltam mas não chegam a sair, não chegam a ser regurgitados. E esse é um grande vilão porque sem sair os pais acabam levando mais tempo para identificar o problema e a criança sofrendo mais.
Além disso, ele é bastante agressivo porque o suco gástrico que volta com o leite acaba queimando na subida e na descida. O que difere do refluxo “que sai” (o que não é oculto), já que este queima só na subida do líquido (depois ele sai e não volta queimando o canal).
Como distinguir um refluxo fisiológico da Doença do Refluxo Gastro-esofágico?
No refluxo patológico (Doença do Refluxo Gastro-esofágico) o bebê regurgita em grande quantidade e muito frequentemente. Além disso, muita vezes, não ganha peso e chora durante ou após as mamadas, curvando o corpo para trás (quase sempre). No caso do refluxo oculto, não existe a volta do leite, assim, um dos principais sintomas é o choro excessivo ao mamar (e o corpinho sendo jogado para trás).
Que outros sintomas podem indicar que o bebê tem refluxo oculto?
Como acabei de citar, o principal sintoma é o choro excessivo durante ou logo após as mamadas. Mas outros sintomas também podem aparecer e você deve ficar alerta: chiados no peito, otitites e sinusites frequente, tosse, irritabilidade e crises de apnéia.
Existe algum exame que confirma o refluxo oculto?
Sim, há dois exames que podem ser feitos para confirmar a existência de refluxo oculto. Um deles é o EED – Esôfago Estômago Duodenograma e o outro é a Endoscopia. Mas, normalmente, o diagnóstico é dado através de exame clínico, ou seja, através dos sintomas que são narrados para o pediatra, pois esses exames podem ser um pouco invasivos para o bebê (o primeiro porque o bebê deve ingerir um líquido específico para fazer o exame – Bário – e o segundo porque é introduzida uma câmera no aparelho digestivo dele).
E o que fazer para evitar ou amenizar o refluxo?
Seja oculto ou não, seja refluxo fisiológico ou patológico, para evitá-lo ou amenizar a sua incidência há alguns cuidados simples que podem ser tomados. Um deles é ficar com o bebê em posição ereta por, no mínimo, 15 a 20 minutos após as mamadas. Outro cuidado é usar travesseiros anti-refluxos em superfícies que o bebê costuma ficar deitado, como berço e trocador. Mais uma dica é, sempre que possível, em qualquer lugar que o bebê for colocado, tentar deixa-lo com o tronco um pouco elevado (30 graus ou mais). Por fim, o que pode ajudar é fracionar a quantidade de líquido oferecida. Com o estômago menos cheio o líquido tende a voltar menos.
Existe medicação para o refluxo?
Sim, existe medicação. Mas ela só pode ser indicada pelo pediatra porque, como todo medicamento, pode ter efeitos colaterais.
E o refluxo oculto tem cura?
A grande maioria das crianças que apresentam refluxo, oculto ou não, tendem a ter uma melhora significativa do problema entre seis e 12 meses de idade (por conta do amadurecimento do sistema gástrico e também da ingestão de alimentos mais sólidos).
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