No post de hoje, Ale Palazzin e Graziela Faelli, autoras do blog Tempo Mágico, falam sobre um assunto que costuma gerar muitas dúvidas entre os pais: a fala da criança. Afinal, por que algumas crianças falam mais cedo que outras? E isso quer dizer alguma coisa?
Venha ver a explicação dessas fisioterapeutas especializadas em desenvolvimento infantil.
Da mesma forma que existe muita cobrança e expectativa sobre os primeiros passinhos do bebê, com a fala acontece a mesma coisa…E é muito comum ouvirmos “foi só entrar na escolinha que ele começou a falar!”.
Mas por que será que isso acontece?
Sob muitos aspectos podemos dizer que nosso cérebro funciona “sob demanda”, ou seja, quando ele tem uma “exigência” do meio externo para fazê-lo…
Sabe aquela situação em que você está perdido ou com algum problema para resolver num outro país e normalmente não fala inglês com desenvoltura, mas na hora você “se vira nos 30” e consegue se comunicar? Parece até que consegue lembrar de coisas que nem imaginou que estivessem na sua cabeça! Ou quando você tem um bloqueio para concluir um trabalho mas em cima da hora consegue fazê-lo? Pois bem, em muitas outras situações o cérebro também se comporta dessa maneira…
Esse órgão extremamente complexo, que controla todos os outros órgãos e funções do corpo, é responsável pela nossa interação com o meio e com as pessoas que nos cercam, e pela nossa capacidade de aprendizado (pelas infinitas conexões entre os neurônios). Ele também é muito inteligente: com tantas tarefas simultâneas para realizar, busca sempre a economia de energia (ou seja, se tem alguém fazendo o serviço por ele não tem porque ele “se esforçar” fazê-lo, certo?).
Isso é valido, por exemplo, para uma criança que ainda não aprendeu a sentar independentemente: se ela sempre permanecer com o tronco apoiado (fica muito tempo no colo, no sling, deitado ou sentado com apoio), provavelmente ela irá demorar mais para adquirir essa habilidade do que uma criança que vivência, em alguns momentos do seu dia, ficar sentada, com supervisão, mas com menos apoio. Na primeira situação, algo externo está fazendo o papel de sustentar o tronco contra a gravidade, então como o cérebro irá entender que precisa ativar a musculatura para fazer esse serviço?
Da mesma forma acontece com a linguagem oral. A fala tem como objetivo a comunicação entre duas pessoas, com um detalhe: não é a única forma de comunicação. Além de termos as palavras para traduzirem nossos pensamentos, a entonação, os sons e toda a linguagem de gestos e corporal também exercem essa função.
Agora imaginem: se pais aprendem a entender o que um bebê quer apenas diferenciando o tipo de choro, naturalmente também se tornam capazes de compreender seu filho quando, mesmo sem pronunciar palavras ou frases de forma clara, ele utiliza outros recursos no dia-a-dia para comunicar-se. É como se entre filhos e pais (ou outras pessoas envolvidas no cotidiano) se desenvolvesse uma “língua própria”, mas que não é compreensível para quem está de fora. Como a comunicação dentro de casa está acontecendo de forma satisfatória, ou seja, a criança consegue “dizer” o que quer e é compreendida, para o cérebro dela a questão da fala está resolvida.
Quando a criança entra na escolinha, essa “língua própria” utilizada em casa não é eficiente para que ela comunique seus pensamentos então, até por uma questão de sobrevivência (que no mundo das crianças pode ser simplesmente dizer “esse brinquedo é meu”), ela acaba desenvolvendo a linguagem “comum” a todas pessoas.
Resumindo, o cérebro aprende quando é “desafiado” a resolver algum problema.
Não queremos dizer com isso que devemos colocar nossos filhos em situações para as quais eles não estejam prontos (como colocar para andar ou exigir que ele fale coisas com clareza antes do seu tempo), mas que podemos estar atentos a não deixar a criança sempre numa situação tão “confortável”, ou seja, você até pode já ter entendido que ela quer água – e muitas vezes é até automático atender prontamente a esse pedido- mas deixe a criança se esforçar um pouco para dizê-lo…
Vale também a ressalva que para a criança desenvolver a linguagem ela precisa de outra pessoa conversando com ela sempre, o que envolve ela ver os movimentos da boca dessa pessoa enquanto pronuncia as palavras, ouvir as palavras corretamente e, principalmente ser ouvida, ou seja, é preciso dar um tempo para que ela (e seu cérebro) organize o que gostaria de dizer e traduza isso em palavras (tanto em termos de conteúdo quanto de articulação).
Uma ultima observação; nesse post falamos sobre o desenvolvimento da fala sob o aspecto da neurociência. Para duvidas mais especificas procure um profissional especializado.
Alessandra Palazzin é fisioterapeuta, especializada em neuropediatra, mestre em aprendizado motor e mãe do Pedro. Graziela Faelli também é fisioterapeuta, especializada em neurologia pela USP, mestre em neurociências (UNICID) e mãe do Rafael. As duas são autoras do blog Tempo Mágico, que trata sobre desenvolvimento infantil. Siga o blog Tempo Mágico nas suas redes sociais e fique por dentro de informações interessantes e úteis sobre desenvolvimento infantil: Facebook e Instagram.