Olá, no seu texto de hoje, a Odontopediatra Juliana Marchi aborda um assunto muito interessante: a responsabilidade que nós, pais, temos de conduzir as coisas de forma que nossos filhos não desenvolvam medo de dentista. E ela dá uma dica muito bacana – e até óbvia – para conseguirmos isso.
Venha ver!
Você, pai ou mãe, pode ser a principal causa do seu filho ter medo de ir ao dentista
Por Dra. Juliana Marchi, Especialista em Ortodontia e Mestre em Odontopediatria, autora do blog Mundo Sem Cáries
Tá, eu sei que a cadeira odontológica e a anestesia dentária não são as coisas mais gostosas do mundo. Eu não me tornei dentista porque gosto de tomar anestesia e extrair meu siso. Eu quis ser dentista porque meus pais nunca se referiram ao dentista como um torturador e sempre me levaram a Odontopediatra para prevenir problemas bucais. Portanto, eu adorava ir naquele consultório com cheirinho de cravo, quadros de macacos segurando escovas de dentes e ficar 30 minutos com aquela moldeira com gosto de chiclete na boca. Juro que adorava.
Minhas experiências no dentista sempre foram agradáveis, sem anestesias e motorzinhos para restauração, simplesmente porque meus pais sempre me levavam para as consultas de revisão no tempo certo. Eles não esperavam o problema aparecer, pelo contrário, faziam um programa de prevenção. Me pergunta agora se tive alguma cárie?
Você já se perguntou porque tem medo de dentista? Será que não é porque lembra de histórias aterrorizantes de antigamento, contadas pelos avós ou familiares bem mais velhos, nas quais ir ao dentistas significava dor e extração era algo corriqueiro (E, o pior de tudo, sem anestesia! Ttinha que aguentar no osso!). Eu, por exemplo, cheguei a ouvir histórias que contavam que a menina, ao fazer 15 anos, tinha todos os seus dentes da boca extraídos e, no lugar, ia parar uma dentadura!
Eu sei, o tratamento de canal ainda pode ser desagradável e uma extração de siso continua sendo ruim, mas se você passou por esses procedimentos e teve uma má experiência, JAMAIS relate isso para seus filhos. Não chegue em casa depois do dentista e fique reclamando como o barulho do motorzinho é horrível e como doeu para fazer aquele tratamento de canal. Nossos medos e ansiedades são passados para nossos filhos e essa experiência desagradável vai acabar sendo transmitida para o seu filho, mesmo sem ele ter passado por qualquer um desses procedimentos.
Por exemplo, você leva seu filho ao Odontopediatra e ele/ela não quer sentar na cadeira e abrir a boca apenas para o dentista realizar uma revisão. Ai você fala pra ele/ela: “Abre a boca se não o dentista vai te dar uma injeção.” Que tipo de imagem você acha que a criança vai ter do dentista? Que damos injeção em crianças indefesas apenas para puni-las? E se realmente precisarmos dar a injeção para algum procedimento e a criança está comportada? Como você vai explicar isso pra ele/ela?
A Odontologia evoluiu muito, está bem mais conservadora e a prevenção é a melhor forma de evitar procedimentos indesejados. Quando você leva seu filho ao Odontopediatra apenas quando ele/ela tem algum problema ou já está com dor, essa criança não teve nem a chance de ir ao consultório dentário apenas para conhecer o equipamento e o profissional ou fazer apenas uma revisão e limpeza que são procedimentos mais tranquilos. Imagine uma pessoa estranha, que você nunca viu na vida, chegando com uma injeção ou instrumentos pontiagudos. A impressão que vai ficar para a criança é que sempre que ela for, algo ruim vai ser feito, Consegue perceber isso?
Para evitar esses traumas e medos, as crianças precisam ter contato com o Odontopediatra o mais cedo possível, e as primeiras visitas devem ocorrer desde o nascimento dos primeiros dentinhos. Dessa forma, um programa de prevenção será realizado desde o início para um desenvolvimento de uma dentição saudável.
O profissional precisa criar um vínculo de afetividade com a criança e a ida ao consultório odontológico precisa acontecer de forma natural, onde a criança se sinta à vontade e não intimidada toda vez que for fazer sua consulta de rotina. Por isso, é primordial destacar que o primeiro contato da criança com o dentista não deve envolver situações de emergências odontológicas, mas sim de consultas preventivas com orientações sobre a higiene oral.
Nós dentistas queremos ver sorrisos saudáveis e principalmente que a ida a consulta odontológica seja agradável e prazerosa, assim como é para nós Odontopediatras atender os pequenos.
Então, por favor, pais e mães nos ajudem a criar um Mundo Sem Cáries e, principalmente, não deixem seu filho se tornar um adulto cheio de medos e inseguranças.
Um abraço,
Dra. Juliana Marchi
Especialista em Ortodontia e Mestre em Odontopediatria
Autora do blog Mundo Sem Cáries